Depois da tragédia do Meco, na madrugada de 15 de dezembro de 2013, a comunidade civil esteve especialmente atenta às atividades de praxe, que se foram tentando adaptar a um novo ciclo. A “praxe solidária”, que envolve ações de solidariedade no quadro das tradições académicas, tentou ser um braço de apoio aos praxistas, mas acabou desvanecendo, sem a força que possuía em outros anos.

Os monarcas dos caloiros e o curso do ano foram revelados
Quase todos os anos, desde os anos 90, a praxe na Universidade da Madeira tem a eleição do curso do ano e do rei e da rainha dos caloiros. Os distinguidos em 2022 foram conhecidos em dezembro.

O Dia da Universidade da Madeira
Há exatamente um ano, em 2006, a terceira edição do JA celebrou os 18 anos da UMa. Nesta edição, aproveitamos para
Em 2006, alguns anos antes do episódio imortalizado na série “Praxx” da SIC, a praxe da Universidade da Madeira (UMa) enfrentava um duro golpe com um escândalo que ganhou proporções inéditas. Um “rally das tascas”, reunindo dezenas de estudantes nas ruas do Funchal, envolveu episódios de violência e as autoridades policiais intervieram, na Baixa da cidade, em plena luz do dia. O mediatismo gerado, incluindo a abertura do telejornal, acabou gerando uma grande cicatriz, escondida na atualidade, mas que fazia muitos estudantes terem vergonha de utilizar o traje académico, erradamente associado apenas à praxe.
Após a sua criação, em 1991, a ACADÉMICA DA MADEIRA estabeleceu um traje académico na Universidade da Madeira, para todos os estudantes, quer participem da praxe ou não, e organizou os primeiros anos de praxe. Em 2023, muito mudou na praxe académica da UMa e o traje académico ultrapassou a praxe. Há quatro trajes que integram a praxe académica e há uma estrutura informal que se dedica à preservação dos usos e costumes, organizada por estudantes e alumni. A praxe tenta sarar, atualmente, as feridas deixadas pela pandemia e pela implementação de um sistema remoto de matrículas, um golpe que atingiu essa tradição e sem solução à vista.
Os caloiros podem não ser tão numerosos como foram no passado, anterior à pandemia, mas a energia e a alegria dos que participam nas atividades continua a mesma. João Tiago Camacho, estudante da UMa, acredita que a publicidade sobre praxe poderia ser uma alternativa para aumentar a pouca adesão. Estima-se que, de cerca de seis centenas de estudantes matriculados no primeiro ano das licenciaturas, são menos de duzentos os que participam nas atividades de praxe. Não há dados nacionais, ou locais, conhecidos que permitam comparações entre outras realidades ou com outros períodos.

Consulta do Estudante Universitário no Centro de Saúde do Bom Jesus
Destinado aos estudantes universitários da Região Autónoma da Madeira (RAM), assim como aos estudantes universitários insulares deslocados no continente português. Este serviço possibilita cuidados de saúde integrais e de acesso

Contributos para o Projecto Bolonha UMa
Antes de tudo, obrigado pela inspiração contagiante do documento Bolonha. Na leitura do mesmo senti-me um pouco como um testemunha de
A pressão sobre a praxe continua do exterior. Elvira Fortunato, que tutela o Ensino Superior, repudiou a praxe e defendeu “alternativas de integração mais positivas” para promoção de um “ambiente inclusivo, inspirador e seguro” nas instituições de ensino, tal como os seus antecessores fizeram em comunicações análogas na década passada.
Hélder Maurício trabalha na UMa e foi estudante nos anos 90. Viveu a praxe e participou ativamente depois do seu ano de caloiro, chegando a ser Dux, a designação que era usada ao Presidente do Conselho de Veteranos. A praxe, decorria no Colégio dos Jesuítas do Funchal, quando não existia um campus universitário na Penteada.
É com “enorme saudade” que Hélder Maurício olha para os seus tempos de praxista. Tratava-se de “uma outra época, tudo era novidade e sentíamo-nos bem ao participar nas atividades. Em algumas atividades tentávamos uma envolvência da sociedade, de modo a marcarmos a nossa presença na cidade”.

O calendário do ano letivo 2022-2023: vícios e virtudes
Foi divulgado o calendário do ano letivo 2022-2023. Há novidades para o novo ciclo de estudos, com destaque para a alteração da Época Especial de avaliação para o mês de julho.

Entrega de prémios aos melhores diplomados em Engenharia
A cerimónia de entrega dos diplomas de mérito e prémios oferecidos pela Ordem dos Engenheiros aos melhores diplomados dos cursos de
Branca de Almeida, que foi caloira do curso de Engenharia de Sistemas e Computadores, no ano letivo 1994-1995, também recorda com saudade os seus tempos de estudante. As tradições, desse período, encontram alguns pontos comuns com a atualidade, como a existência de uma insígnia, ainda que única: “os Caloiros eram obrigados a usar sempre a insígnia, que era igual para todos os cursos e era uma chucha, pois éramos os bebés da nossa academia”.
Branca Almeida e Hélder Maurício foram entrevistados pela ET AL. que publicará, amanhã, a entrevista na íntegra.
As tradições de 2023 são, certamente, muito diferentes das tradições que começaram a ser implementadas e testadas nos anos 90, quando os nossos entrevistados eram estudantes da UMa. Os antigos estudantes são meros observadores, mas poderão desempenhar um papel no registo das tradições, tal como os atuais devem ter essa preocupação.
As próprios estruturas que organizam a praxe podem fazer uso dos vários estudos que existem, especialmente profusos nos últimos anos, sobre o tema. Catarina Sales Oliveira, Susana Villas-Boas e Soledad Las Heras, publicaram “Assédio no ritual da praxe académica numa universidade pública portuguesa”, no n.º 80 da revista Sociologia, Problemas e Práticas. A investigadora Maria Mendes, do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, defendeu, em 2018, a dissertação de mestrado Praxe académica no ensino superior: preditores da motivação de estudantes para praxar. Após o 10.º Congresso Português de Sociologia, cinco investigadores publicaram o artigo “Um olhar sociológico sobre a praxe académica”. Em 2019, a Análise Social, recebeu o contributo de cinco investigadores com o artigo “Antiguidade e poder simbólico na praxe académica”. Apenas alguns estudos, entre muitos, que retratam a variedade que existe sobre a praxe académica.

30 anos da Universidade da Madeira
A Universidade da Madeira (UMa) foi criada pelo Decreto-Lei n.º 319-A/88, de 13 de setembro, tendo feito, portanto, 30 anos em setembro de 2018. A instalação da UMa prolongou-se por

Gesso de Jaime Moniz na UMa
Está em exposição no piso -1 da Universidade da Madeira, cedido pela Câmara Municipal do Funchal, o gesso, em tamanho real,
Em 2023, estarão os estudantes a perpetuar as tradições que foram plantadas na fundação da Academia madeirense? Em setembro e outubro muitos que passaram pelo campus construído na Penteada, no final do século passado, puderam assistir, com revolta, paixão ou indiferença, os rituais que os atuais estudantes continuam a praticar. Algumas tradições continuam intactas e outras perderam-se. Mas tal como em 1991, quem participa na praxe em 2023 continua a garantir que partilha um sentimento de alegria difícil de medir.
Luís Eduardo Nicolau
ET AL.
Com fotografia do arquivo da ACADÉMICA DA MADEIRA.
As declarações de Hélder Maurício e de Branca de Almeida foram recolhidas em outubro de 2022.