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Alterações no curso de Biologia não retiram Laurissilva do currículo

Alterações no curso de Biologia não retiram Laurissilva do currículo

Há poucos dias, foi noticiado que a UMa deixou de ter conteúdo temático sobre a Laurissilva. O Diretor do Curso de Biologia esclarece que várias unidades "curriculares privilegiam o uso dos recursos naturais locais", recusando que o conteúdo tenha saído do plano curricular.

A Direção de Curso, contactada pela ET AL., contestou a notícia que indicava a saída do conteúdo temático sobre a Laurissilva, referindo que “qualquer controvérsia que possa surgir só pode ser originada por aqueles que se afastaram deliberadamente do debate, levantando questões posteriormente”.

Em 2021, um relatório preliminar da Comissão de Avaliação Externa (CAE), promovido pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), fez um conjunto de recomendações sobre a licenciatura em Biologia da Faculdade de Ciências da Vida da Universidade da Madeira (UMa). No final do passado mês de novembro, a Comissão Permanente do Conselho Pedagógico da UMa reuniu para apreciar o novo plano de curso.

Recorde-se que, recentemente, várias instituições de ensino superior perderam a acreditação pela A3ES, inclusive o Instituto Superior de Administração e Línguas. Em 2021, o curso de Biologia da UMa foi alvo de uma avaliação global positiva por parte da CAE, que recomendou a acreditação do curso.

A edição de 27 de novembro do Diário de Notícias da Madeira apresentou uma notícia que dava conta de críticas pela exclusão de conteúdos sobre a Floresta Laurissilva no plano curricular do curso. Esta decisão, segundo o jornal, gerou perplexidade e preocupação em alguns membros da comunidade académica, que consideram fundamental a preservação do papel da instituição como promotora do conhecimento e da valorização do património natural da região.

A Direção do Curso de Biologia, em declarações à ET AL., defendeu a proposta submetida e aprovada na Comissão Permanente do Conselho Pedagógico, lembrando que “por ser uma proposta amplamente discutida entre os docentes, ela reflete a experiência acumulada ao longo de diversos planos de ensino implementados pela Faculdade”. O novo plano de curso respeita o espírito dos anteriores, segundo o Diretor de Curso, pois os “conteúdos formativos sempre aproveitaram o ambiente natural único da Madeira, tanto no aspeto terrestre quanto marinho”.

De acordo com fontes não referidas pelo Diário, a decisão é atribuída a uma postura pouco assertiva da reitoria em influenciar o conselho científico, situação que o reitor nega pois cabe a este órgão propor, aos demais órgãos da Universidade as alterações curriculares. Segundo a notícia, o novo plano deixa de incluir temas sobre a Laurissilva, que abordavam a ecologia, a geobotânica, a biodiversidade e outros conceitos fundamentais. Enquanto alguns defendem a criação de uma unidade curricular específica sobre o tema, outros enfatizam a necessidade de integrar estes conteúdos nas disciplinas existentes para promover a valorização da floresta junto à comunidade.

A Direção de Curso rejeitou qualquer exclusão, destacando que, no passado, “muitos alunos que tiveram a oportunidade de seguir programas similares em outras universidades elogiaram a ênfase dada pela faculdade às saídas de campo e às temáticas relacionadas ao nosso ambiente”.

Em declarações ao Diário, o reitor, Sílvio Fernandes, minimizou a controvérsia, afirmando que a decisão foi tomada pelo conselho científico da Faculdade de Ciências da Vida, que detém autonomia na elaboração do plano curricular. O dirigente, cuja defesa das alterações decididas pelos órgãos competentes parece ter sido parca para alguns membros da Academia, destacou que o papel da reitoria é limitado, sem interferir diretamente nos conteúdos.

A Direção do Curso de Biologia explicou à ET AL. que a proposta de nova estrutura curricular pretende “criar um equilíbrio mais justo na formação dos alunos”. De acordo com o Diretor do Curso, “a Madeira, com seu rico património natural, oferece uma vasta gama de temas que são abordados em diversas unidades dentro da área de Biologia. Desde as disciplinas de Botânica e Zoologia, que se concentram nas espécies autóctones, até cursos como Ecologia, Biologia Marinha, Etologia e Biologia da Conservação, Biogeografia Insular, Genética, todas as unidades curriculares privilegiam o uso dos recursos naturais locais. Aliás, a unidade de “Flora da Macaronésia” mantém-se como cadeira opcional”.

O relatório da CAE indicava a necessidade de um “equilíbrio do currículo nas áreas da Fauna e Flora, e a oferta de unidades curriculares opcionais são elementos chave para a melhoria do curso”. A ET AL. contactou alguns estudantes do curso que referiram a carga excessiva de trabalho prático que existe em disciplinas como a Botânica I e II, ficando surpreendidos com a notícia que os conteúdos sobre a Laurissilva tenham saído da nova proposta curricular, visto que são lecionados em várias disciplinas que continuam a constar no novo plano curricular que consultaram.

A Direção de Curso refere que, entre as várias sugestões da CAE, “destaca-se a inclusão de unidades curriculares opcionais e a busca por um equilíbrio maior entre os créditos das unidades de Botânica e Zoologia. A base dessa sugestão foi o excesso de carga de trabalho das unidades de Botânica, que comprometiam o tempo dos alunos para se dedicarem a outras disciplinas”.

Voltando ao relatório da CAE, as taxas de aprovação gerais referidas no documento são consideradas “aceitáveis”, com exceções pontuais em algumas unidades curriculares. O documento, disponível no portal da UMa, aponta que a taxa de aprovação média do curso, considerando o número de inscritos, passou de 66% no ano letivo de 2017-2018 para 70% em 2019-2020. Já a aprovação entre os estudantes avaliados subiu de 80% para 83% no mesmo período.

Entre os pontos fortes, o relatório da CAE destaca a componente prática e laboratorial, que é descrita como uma mais-valia para a formação dos estudantes. “A componente prática e laboratorial é valorizada neste ciclo de estudos, permitindo aos estudantes desenvolver competências de investigação autónoma”, refere o relatório.

O relatório de 2021 sublinhou ainda a necessidade de melhorias para reforçar a motivação dos estudantes em áreas com menor desempenho e aumentar as oportunidades de empregabilidade. Recomenda-se “desenvolver e implementar estratégias que aumentem o interesse dos estudantes em algumas áreas do curso” e explorar parcerias com entidades externas para facilitar a entrada dos licenciados no mercado de trabalho.

Um dos desafios identificados no relatório foi a fraca mobilidade de estudantes e docentes, bem como a baixa internacionalização do curso. A CAE considera que “a mobilidade dos estudantes e dos professores necessita ser aumentada”, sugerindo maior flexibilidade curricular e parcerias com instituições fora da Península Ibérica. Essas medidas poderiam atrair mais estudantes internacionais e aumentar a visibilidade do curso a nível global.

A garantia da qualidade também foi destacada como um ponto forte, com a implementação de inquéritos regulares para recolher a opinião dos estudantes sobre professores e unidades curriculares. Além disso, os estudantes têm “fácil acesso à Direção de Curso e ao corpo docente”, promovendo uma participação ativa nos processos de decisão. No entanto, o relatório sugere complementar os inquéritos com métodos adicionais de avaliação do desempenho docente, situação que a ACADÉMICA DA MADEIRA referiu como importante na Comissão Permanente do Conselho Pedagógico.

Para o futuro, o relatório propõe medidas prioritárias, como o reforço da divulgação de atividades científicas e o apetrechamento de salas para ensino à distância. “Estimular a participação dos estudantes em conferências, webinars e sessões científicas” é uma das ações destacadas para promover um envolvimento maior dos estudantes no contexto académico.

No âmbito curricular, o relatório recomenda um equilíbrio melhor entre os temas de flora e fauna, já que atualmente há uma “predominância do estudo da flora”, o que pode limitar a preparação dos estudantes noutras áreas da Biologia. A inclusão de novas unidades curriculares opcionais, especialmente no último ano da licenciatura, é apontada como uma possível solução. Foi este o ponto que mereceu destaque na alteração do plano curricular, com a manutenção da disciplina de “Flora da Macaronésia” no plano, como unidade opcional.

A proposta de reestruturação curricular, debatida no final de novembro na comissão do Conselho Pedagógico, inclui a introdução de unidades curriculares opcionais no terceiro ano e a reformulação da unidade “Laboratório Natural”, que passará de três para seis ECTS. Entre as novas opções, destaca-se a criação de disciplinas como “Protistologia” e “Projeto Biologia”, que pretendem diversificar a formação dos estudantes e responder às necessidades do mercado e da investigação científica.

O plano de transição para o novo currículo prevê que os estudantes sem unidades curriculares em atraso continuem no plano anterior, enquanto os novos ingressos já estarão sob o plano reestruturado. Essa abordagem permitirá a coexistência dos dois planos durante dois anos, garantindo uma adaptação gradual e eficaz ao novo modelo de ensino.

Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Timothy Dykes.

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