O PEÇO A PALAVRA de hoje trata de um assunto que faz parte da atualidade mundial, nacional e regional, as políticas ambientais. O impacto das alterações climáticas e da degradação ambiental tem sido sentido em todo o mundo, com mais de 1 milhão de mortes associadas a catástrofes naturais entre 2000 e 2019, revelando a urgência de ações globais para reduzir os seus efeitos. Em Portugal, eventos como as tempestades e os incêndios florestais têm causado danos significativos, com prejuízos económicos estimados em cerca de mil milhões de euros anualmente. Na Madeira, a Laurissilva, que alberga dezenas de espécies endémicas, está sob pressão devido a projetos de desenvolvimento. Na Universidade da Madeira, a falta de manutenção de espaços verdes, como o Jardim da Biodiversidade, são temas de polémicas recorrentes. Em matéria curricular, recentemente o curso de Biologia foi criticado por retirar a Laurissilva do seu programa, situação que se mostrou incorreta e pouco precisa, como a direção de curso adiantou. Todos estes dados refletem a importância de políticas ambientais eficazes, que combinam a proteção do ambiente com o bem-estar das comunidades locais e globais, aliadas à conscientização da população, através dos decisores políticos e das estratégias de investigação.
No painel desta emissão, Carlos Diogo Pereira, professor de Biologia e Geologia e responsável pela unidade que gere os projetos e programas da Associação Académica, está acompanhado de Ismael Da Gama, estudante de licenciatura de Engenharia Informática na UMa, coordenador da unidade de Política do Ensino Superior na Associação Académica e embaixador da Startup Portugal. Os convidados do episódio são o professor universitário e ambientalista Hélder Spínola e o professor universitário e diretor da licenciatura em Biologia na UMa, Thomas Dellinger.
Atualmente, a preservação do ambiente e a implementação de políticas ambientais responsáveis são essenciais para garantir a segurança dos cidadãos, pois o equilíbrio dos ecossistemas naturais está diretamente relacionado à qualidade de vida e à proteção contra riscos naturais. A degradação ambiental, como o desmatamento, a urbanização desordenada e a poluição, intensifica fenómenos como as inundações, os deslizamentos de terra e os períodos de seca, colocando em perigo vidas humanas, infraestruturas e recursos essenciais para a economia.
Além disso, a preservação de áreas naturais contribui para a mitigação das alterações climáticas, que têm intensificado fenómenos meteorológicos extremos em várias partes do mundo. Políticas ambientais responsáveis, como a conservação de florestas, a gestão sustentável dos recursos hídricos e a redução das emissões de gases de efeito estufa, são fundamentais para criar cidades mais resilientes e para proteção de populações de desastres futuros. Assim, investir na preservação ambiental não só assegura a biodiversidade e a sustentabilidade do planeta, mas também atua como uma medida preventiva essencial para a segurança humana.

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Neste século, as catástrofes naturais têm aumentado em frequência e intensidade, com impactos significativos em termos de perdas humanas e económicas. Entre 2000 e 2019, segundo o organismo das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR), registaram-se 7.348 desastres naturais no mundo, resultando em 1,23 milhões de mortes e afetando 4,2 mil milhões de pessoas, com perdas económicas estimadas em cerca de 2,5 biliões de euros.
Em 2024, os desastres naturais continuaram a causar danos substanciais. No primeiro semestre do ano, segundo a seguradora Munich Re, as perdas globais atingiram 120 mil milhões de dólares, com 68% desse valor associado a eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações e incêndios florestais. Estes dados sublinham a importância de políticas ambientais eficazes e de estratégias de mitigação para reduzir os impactos das catástrofes naturais, que têm vindo a aumentar devido às alterações climáticas.
Há poucas semanas, Espanha enfrentou uma das suas piores catástrofes naturais em décadas devido a uma Depressão Isolada em Níveis Altos (DANA), também conhecida como “gota fria”. Este fenómeno meteorológico provocou chuvas torrenciais, especialmente na Comunidade Valenciana, resultando em inundações devastadoras que causaram a morte de mais de 200 pessoas e deixaram dezenas de desaparecidos. A intensidade das precipitações foi tal que, em algumas áreas, registou-se a queda de 302 litros de água por metro quadrado, transformando ruas em rios e arrastando veículos. As equipas de resgate, incluindo a Unidade Militar de Emergências, foram mobilizadas para socorrer os afetados, enquanto milhares de residentes ficaram sem eletricidade e várias infraestruturas foram severamente danificadas. Esta tragédia expôs vulnerabilidades na gestão de desastres naturais e suscitou debates sobre a preparação do país para eventos climáticos extremos. O Banco de Espanha estimou que este evento reduzirá o crescimento económico do quarto trimestre em 0,2 pontos percentuais e aumentará o índice de preços ao consumidor em 0,15 pontos percentuais. Além disso, o impacto financeiro para o setor bancário pode atingir 20.584 milhões de euros, afetando mais de 561.000 clientes, principalmente famílias com hipotecas e empréstimos, bem como cerca de 26 mil empresas. Especificamente, na Comunidade Valenciana, as perdas foram estimadas em 16.600 milhões de euros, representando 1,3% do PIB nacional.
As catrástofes registadas no globo alertam para que, na Madeira, a preservação da fauna e da flora, articulada com políticas ambientais adequadas, possam contribuir para a segurança dos cidadãos e para a garantia de que o património natural regional seja preservado para as próximas gerações. A biodiversidade do arquipélago distingue-se pela sua localização estratégica, pela sua insularidade que permitiu que a evolução atuasse de forma ideal, o clima subtropical e o isolamento oceânico, que também fomentaram o aparecimento de numerosas espécies endémicas. A Laurissilva da Madeira, uma floresta remanescente do período Terciário e Património Mundial pela UNESCO, destaca-se como um dos ecossistemas singular, preservando características únicas de uma vegetação que outrora predominava na Europa. Este ambiente não só sustenta uma ampla variedade de espécies exclusivas, como também desempenha um papel crucial na regulação dos recursos hídricos e na proteção dos solos, assegurando a estabilidade dos ecossistemas.

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A iniciativa inclui um portal eletrónico que visa promover boas práticas e monitorizar a sustentabilidade na instituição, incentivando a comunidade académica a adotar comportamentos mais ecológicos.

“Nós temos cursos tradicionalmente difíceis, cursos de engenharia civil, eletrotécnica… há cursos que estão marcados”
Sílvio Fernandes, reitor da UMa, foi o convidado de estreia do PEÇO A PALAVRA, um programa coproduzido pela TSF 100FM Madeira
A biodiversidade da flora do arquipélago é particularmente notável, com cerca de 1.226 espécies de plantas vasculares nativas, sendo que 66 destas são endémicas. A floresta Laurissilva, que ocupa aproximadamente 15.000 hectares da ilha, é um dos ecossistemas mais representativos e emblemáticos. O isolamento geográfico da Madeira potenciou o desenvolvimento de adaptações únicas, sobretudo entre os invertebrados e as plantas. A diversidade de microhabitats, gerada por diferenças nas altitudes, variações na exposição solar e níveis de humidade, favorece a existência de nichos ecológicos distintos e uma biodiversidade robusta. No entanto, há investigadores e ambientalistas que defendem que esta riqueza natural está sob pressão, exigindo estratégias eficazes de conservação que conciliem as necessidades humanas com a preservação dos ecossistemas frágeis e singulares da região.
Várias organizações ambientalistas têm criticado diversas políticas ambientais na Madeira, destacando-se três casos principais. A construção da estrada das Ginjas, que atravessa a floresta Laurissilva, foi alvo de oposição por parte de 11 ONGs em 2021, incluindo a SPEA e a Quercus, que apontaram falhas no Estudo de Impacto Ambiental e alertaram para a destruição de habitats prioritários. Este ano, a ZERO condenou uma proposta parlamentar do Chega para reduzir a zona de proteção total da Reserva Natural das Ilhas Selvagens, considerando-a uma ameaça direta à biodiversidade marinha e aos esforços de conservação. Adicionalmente, várias ONGs expressaram preocupações sobre a poluição dos oceanos, incluindo o impacto dos plásticos e a eutrofização, alertando para a perda significativa de biodiversidade marinha e apelando a maior empenho político na sustentabilidade dos recursos marinhos.
Este ano, o grande incêndio que devastou cerca de 5.749 hectares levantou questões sobre a prevenção de catástrofes naturais, com destaque para a falta de faixas de proteção em torno da floresta Laurissilva da Madeira. A Quercus, em particular, criticou a resposta inicial do governo regional no combate às chamas e a rejeição de auxílio externo, sublinhando a importância de uma preparação maior para a proteção dos recursos naturais.
No Funchal, as críticas passam pela gestão das árvores em área urbana, alvo de contestação de partidos políticos e organizações ambientais, que apontam para práticas inadequadas de poda e abate de árvores. O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) denunciou, em julho de 2023, mutilações de árvores em diversos locais da ilha, incluindo o Funchal, criticando a falta de regulamentação que proteja o arvoredo urbano e alertando para as consequências destas ações na descarbonização e qualidade de vida nas cidades.

Os estudantes falaram de empregabilidade
No segundo episódio do PEÇO A PALAVRA o painel debateu o futuro profissional dos jovens, com o empresário Márcio Nóbrega e o investigador Celso Nunes. A procura de emprego, as entrevistas de trabalho, a progressão na carreira, o ambiente laboral foram outras temáticas tratadas.

A possibilidade de estudar no estrangeiro esteve em debate no PEÇO A PALAVRA
No quinto episódio do PEÇO A PALAVRA a temática foi “Estudar no Estrangeiro?” e contou com a investigadora Mariana Vieira e
Em agosto de 2021, a Câmara Municipal do Funchal ordenou o abate de todas as árvores do Largo da Fonte, na freguesia do Monte, após a queda de um galho de grande porte. Esta decisão surgiu quatro anos após um trágico incidente no mesmo local, onde a queda de um carvalho centenário resultou em 13 mortes. O presidente da autarquia de então, Miguel Silva Gouveia, afirmou que a segurança das pessoas não podia ser comprometida, justificando assim a remoção total das árvores.
Além disso, intervenções de poda em áreas como a Avenida do Mar suscitaram dúvidas e preocupações entre especialistas e cidadãos, que consideram algumas práticas como mutilações que podem comprometer a saúde das árvores e a estética urbana. Estas ações têm gerado debates sobre a necessidade de uma gestão mais criteriosa e sustentável do património arbóreo da cidade.
Passando para o campus universitário, tem sido recorrente o debate sobre a preservação do Jardim da Biodiversidade. Ao longo de mais de duas décadas, a sua existência e incúria tem gerado críticas e polémicas. Concebido nos anos 1990 como parte de um projeto de requalificação do vale da Ribeira de São João, o espaço foi pensado para albergar plantas dos cinco continentes e contar com uma estufa fria. Apesar de um início promissor, incluindo um levantamento em 2005 que identificou 553 espécies, o jardim foi progressivamente abandonado, resultando numa significativa perda da sua biodiversidade e riqueza florística. Em 2021, mais de metade das espécies originais haviam desaparecido, e o espaço encontrava-se em “estado lastimável”, segundo o investigador Raimundo Quintal, com lixo acumulado, matagal e árvores mortas.
Ao longo dos anos, o jardim também enfrentou problemas de gestão e manutenção, com disputas entre o Madeira Tecnopolo e a Universidade da Madeira a dificultarem uma coordenação eficaz. Em 2006, foi denunciado o abandono do espaço, agravado pela falta de limpeza, rega e pagamento às empresas contratadas para cuidar do local. A situação culminou com a descrença na sua viabilidade como espaço de conservação e lazer. Recentemente, Miguel Sequeira, professor da Universidade da Madeira, alertou para a destruição iminente de parte do jardim devido à construção de um novo edifício destinado à ARDITI e à Startup Madeira. Para ele, trata-se de um “jardim mal-amado” que nunca recebeu os cuidados necessários.

«Dinâmicas demográficas podem constituir alavanca para repensar oferta formativa»
A Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, afirmou que «as dinâmicas demográficas podem constituir uma alavanca para repensar o modo como as instituições pensam a sua oferta formativa», relembrando o contexto sociodemográfico, cujo impacto pode vir a ser relevante no sistema de ensino superior, durante a cerimónia de lançamento da primeira pedra do Laboratório de Inovação e Sustentabilidade Alimentar (LISA) do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA), em Esposende.

International Conference on Construction, Energy, Environment, and Sustainability
A conferência internacional CEES 2023 (International Conference on Construction, Energy, Environment and Sustainability) irá realizar-se no Funchal, de 27 a 30
Além disso, a destruição parcial do jardim levanta preocupações sobre a perda de património natural, incluindo árvores únicas transplantadas de outros locais como o Jardim Botânico. A construção das novas torres, com conclusão prevista inicialmente para 2025, simboliza a transformação de um espaço originalmente pensado para a biodiversidade em mais uma área urbanizada, contrastando com o propósito inicial de valorização ambiental. A decisão também suscitou debate sobre a prioridade dada ao desenvolvimento tecnológico em detrimento da conservação ambiental, um tema que tem dividido opiniões na Madeira.
Este caso exemplifica o tratamento negligente de espaços verdes e a dificuldade de implementar políticas de conservação coerentes e eficazes. Embora tenha havido esforços iniciais para transformar o jardim num centro de biodiversidade e lazer, a ausência de uma gestão clara e consistente comprometeu o projeto. O Jardim da Biodiversidade do Madeira Tecnopolo torna-se, assim, um exemplo das tensões entre desenvolvimento urbano e preservação ambiental, desafiando os responsáveis a repensarem prioridades e estratégias.
Mas a polémica sobre o ambiente não acontece apenas fora do complexo universitário. Recentemente, a comunicação social noticiou que o curso de Biologia na Universidade da Madeira deixou de ter “conteúdos temáticos sobre a floresta Laurissilva”, refletindo um abandono do ensino dessa peça central da biodiversidade regional na instituição. A situação acabou sendo desmentida pela Direção do Curso que defendeu que “os conteúdos formativos sempre aproveitaram o ambiente natural único da Madeira, tanto no aspeto terrestre quanto marinho” e continuarão a fazê-lo. Thomas Dellinger, atual diretor da licenciatura, referiu, em declarações ao diário noticioso ET AL., que “desde as disciplinas de Botânica e Zoologia, que se concentram nas espécies autóctones, até cursos como Ecologia, Biologia Marinha, Etologia e Biologia da Conservação, Biogeografia Insular, Genética, todas as unidades curriculares privilegiam o uso dos recursos naturais locais. Aliás, a cadeira de “Flora da Macaronésia” mantem-se como cadeira opcional”.
A preservação do ambiente é um imperativo global, refletindo-se na mitigação dos impactos das alterações climáticas, como o aumento de catástrofes naturais que causam danos humanos e económicos avultados, como demonstrado recentemente em Espanha. Na Madeira, a proteção de ecossistemas únicos, como a Laurissilva, e a gestão sustentável de espaços como o Jardim da Biodiversidade na Universidade, são cruciais para preservar o património natural e combater a degradação ambiental. A Universidade da Madeira, enquanto centro de conhecimento, desempenha um papel essencial na sensibilização e investigação para a conservação da biodiversidade, mas enfrenta desafios significativos na manutenção de áreas verdes, o que reforça a necessidade de políticas ambientais consistentes e responsáveis, integrando a comunidade local e global na busca por um equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade.
O PEÇO A PALAVRA discute as políticas ambienais porque os estudantes pediram a palavra. O nome do programa tem origem na intervenção que tornou célebre o jovem líder estudantil em Coimbra Alberto Martins e espoletou a Crise Académica de 69. Trata-se de uma produção da TSF Madeira 100FM com a Académica da Madeira, transmitida em direto, quinzenalmente às quartas-feiras e disponível em podcast, nas principais plataformas do mercado.
Luís Eduardo Nicolau
Com Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Henrique Santos.