Nos tempos que correm, as palavras pesam mais do que no passado? Os algoritmos regulam a nossa dieta informativa com o nosso consentimento? E a nossa identidade é moldada pela higiene do nosso ciberespaço ou depende dos nossos níveis de literacia digital?
São perguntas pertinentes que qualquer entusiasta ou habitante no espaço digital se deveria questionar. Pessoalmente, sendo a minha área de formação relacionada com a tecnologia, sensibilizo-me. Atualmente, segundo o estudo Portugal INCoDE 2030, 55% da população portuguesa possui competências digitais básicas, destacando-se no cenário europeu, cuja meta é, até o ano 2030, o índice da população europeia atinge os 80%.
Do jardim da UMa a Laurissilva em discussão no PEÇO A PALAVRA
A emissão desta quarta-feira, em direto na TSF Madeira, tem Hélder Spínola e Thomas Dellinger como convidados para discussão das políticas ambientais na Madeira.
Portugal teve o 5.º menor investimento em investigação da UE
O PEÇO A PALAVRA, uma produção da ACADÉMICA DA MADEIRA na TSF, trata do investimento em investigação e desenvolvimento com especial
Portugal é igualmente avaliado de forma positiva no que toca ao respeito pela liberdade de expressão. A democracia, porém, é desafiada a garantir um equilíbrio entre a proteção da expressão livre e a necessidade de construir um ambiente saudável, seguro e responsável, especialmente no universo digital.
Lembro-me de frequentar o ensino básico e de aprender a cuidar do ambiente, tendo em atenção 3 RR de intervenção: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Atualmente, perante um setor de informação com um modelo algoritmicamente personalizado e pouco higienizado (regulado), sobretudo nas redes sociais, identifico 3 SS de reflexão: Sensacionalismo, Sensibilidade, Sensibilização.
Sensacionalismo
O facto de sermos consumidores compulsivos de plataformas que aplicam filtros de conteúdo personalizados, através de algoritmos de inteligência artificial, torna-nos a sociedade mais conectada de sempre e simultaneamente a mais intolerante, condicionando as nossas interações com o outro, o respeito pela diversidade, a nossa capacidade de perdoar e a pluralidade de opiniões.
Com a incontrolável disseminação e exposição instantânea de informações controversas, descontextualizadas e, no fundo, fúteis, enfrentamos uma crescente polarização na sociedade que põe em causa o nosso sistema democrático.
Sensibilidade
O estado sensível e vulnerável em que os sistemas políticos e as democracias modernas se encontram, aflige-me. Em 2024, ainda há 44% dos países classificados como “não livres” ou “parcialmente livres” consoante o índice Freedom in the World, refletindo limitações significativas às liberdades de expressão. Então, pergunto: Serão os algoritmos de IA a versão moderna do lápis azul utilizado no antigo regime?
O mesmo índice, para os meios digitais, indica que 65% dos utilizadores globais das redes digitais vivem em países onde indivíduos foram presos ou punidos por atividades de expressão digital, como publicações em redes sociais.
Sensibilização
Sensibilizo para a urgente prevenção dos sintomas generalizados nos subscritores do digital. O grau de sensibilidade exigido para que nos instruamos intelectualmente é astronómico. O risco de um efeito destrutivo é garantido sem níveis de literacia digital básica, para quem anda num espaço onde o impacto das palavras e das imagens é amplificado.
A revolução tecnológica apresenta perspetivas prósperas. São inegáveis todas as valências e progressos obtidos pelo setor. Contudo, a transversalidade da transformação digital é assustadora com sintomas patológicos cada vez mais visíveis dos jovens aos mais velhos, de forma alarmante. Há privação do sono, fragmentação da atenção, dependência, solidão, comparação social e obsessão pelo perfeccionismo que muda a perceção do mundo e do próprio. O que é que poderemos fazer para combater os efeitos nefastos e de que forma poderemos lutar contra quem perpetua uma configuração negligente no meio digital?
Talvez com o progresso da minha formação académica, venha a ter mais respostas. Por enquanto, como jovem licenciado, fico-me pelas perguntas, que coloco, quinzenalmente, no programa PEÇO A PALAVRA, com notificações bloqueadas nos meus dispositivos móveis e com a luta interna e diária pela redução do meu tempo de ecrã.
O PEÇO A PALAVRA está disponível em podcast.
Ismael Da Gama
Secção de Política do Ensino Superior da AAUMa
Com fotografia de Markus Spiske.