A introdução de espécies invasoras, as alterações climáticas, a sobrepesca, o bycatch e a perturbação de habitats estão entre as principais ameaças que aves marinhas enfrentam diariamente. Contudo, para aquelas que dependem da escuridão noturna como orientação durante as suas longas viagens migratórias, a poluição luminosa representa uma ameaça particularmente preocupante.
A poluição luminosa é considerada uma ameaça para mais de 50 espécies de aves marinhas, especialmente entre os Procellariiformes que tendem a adotar um estilo de vida noturno. Este tipo de poluição gera consequências letais levando a que as vítimas de encandeamento colidam contra carros, edifícios, postes de luz e, até mesmo, barcos ou plataformas petrolíferas no mar. Uma vez no chão, estes animais encontram grande dificuldade em levantar voo novamente. Para além disso, a luz artificial é capaz de exercer repercussões acumulativas físicas e comportamentais perturbando o ciclo circadiano natural destes animais, afetando atividades naturais como a reprodução, nutrição, sono e proteção contra predadores.
As aves marinhas são o grupo mais ameaçado entre as aves com 28% das 346 espécies globalmente ameaçadas e, ainda, 10% classificadas como quase ameaçadas. Nas últimas décadas, o seu estado tem declinado muito mais rapidamente. Com o declínio deste grupo estaríamos a perder bioindicadores essenciais dos ecossistemas marinhos, pois, como predadores de topo, a sua saúde, tendências populacionais e alterações comportamentais refletem mudanças nas condições oceânicas, na disponibilidade de alimento, nos níveis de poluição e nos impactos climáticos. Sendo um grupo altamente diverso e distribuído mundialmente são capazes de fornecer uma visão abrangente sobre o estado dos oceanos em múltiplas regiões.
Aproximadamente 1100 aves morrem anualmente na Macaronésia devido à poluição luminosa que causa encandeamento e desorientação, levando a que sejam vítimas de predação, caça ilegal, ferimentos, atropelamento ou inanição. É por este número avassalador que surge a necessidade de intervenção, especialmente em áreas costeiras iluminadas durante a época de saída dos juvenis do ninho cuja inexperiência torna-os mais vulneráveis a experienciar o fenómeno de fallout.

Antropologia
“A História sempre mostrou que qualquer ação humana tem consequências.” O Ser humano sempre teve a vontade (necessidade?) de dominar, controlar, se apropriar os espaços mas também as outras espécies

Centros de investigação são agentes de promoção e «apoio sustentável ao emprego científico»
A Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, visitou, no dia 1 de março, o Laboratório Experimental para Organismos
Com 10 espécies de aves marinhas pelágicas nidificantes, a Macaronésia abriga aves dependentes do ambiente escuro noturno para nidificação, navegação e sobrevivência. Visando proteger as aves marinhas e usá-las como espécies bandeira, o projeto LIFE Natura@night foi criado com o objetivo de atualizar informações sobre a distribuição e abundância dessas 10 espécies, e mapear a poluição luminosa em 27 áreas da Rede Natura 2000, abrangendo as regiões da Madeira, Açores e Canárias. O projeto concentra-se na avaliação dos impactos da poluição luminosa e na mitigação dos seus efeitos sobre a fauna da Macaronésia, promovendo melhorias na iluminação pública em áreas sensíveis, elaboração de manuais de boas práticas para iluminação a bordo e zonas costeiras e alterações jurídicas que favoreçam a biodiversidade e as comunidades locais.
A freira-da-madeira (Pterodroma madeira), endémica da ilha da Madeira, é uma das aves mais ameaçadas da Europa com apenas 65 a 80 casais reprodutores. Restrita ao Maciço Montanhoso da ilha, é vulnerável não só a predadores introduzidos e incêndios, como aos efeitos das luzes artificiais noturnas que afetam essencialmente os juvenis. A sua conservação é uma prioridade ambiental, simbolizando a biodiversidade madeirense e a importância de preservar ecossistemas insulares.
A freira-do-bugio (Pterodroma deserta) é igualmente uma espécie endémica do arquipélago da Madeira, considerada vulnerável devido à sua distribuição extremamente limitada. Nidifica exclusivamente no Bugio, Desertas, onde a sua pequena população com cerca de 160 a 180 casais enfrenta diversas ameaças. A ocupação restrita a uma única ilha torna esta espécie altamente suscetível a eventos estocásticos pontuais e à presença de espécies introduzidas que podem comprometer rapidamente a sua sobrevivência. A poluição luminosa pode afetar os juvenis durante os seus primeiros voos que decorrem entre dezembro e janeiro.
Já a cagarra (Calonectris borealis), com uma distribuição geográfica mais ampla e maior abundância populacional, está presente nos arquipélagos dos Açores e Madeira onde escolhe nidificar. Os juvenis desta emblemática espécie do Atlântico Norte são frequentemente desorientados pela poluição luminosa que ofusca o brilho lunar e das estrelas usado durante o seu voo migratório. Para além disso, os adultos de cagarra parecem afastar-se de zonas iluminadas, podendo levar a que percorram uma maior distância no regresso ao ninho para alimentação da cria. Esta é a espécie mais afetada pela poluição luminosa no arquipélago da Madeira.

BioBlitz na Ponta de São Lourenço
A delegação da Madeira na Sociedade Portuguesa para o Estudo da Aves (SPEA Madeira) apresenta o segundo BioBlitz do nosso arquipélago na Ponta de São Lourenço. A atividade será no dia 20 de abril, a partir das 17.30 e é gratuita.

Fura Bardos
O Fura Bardos, grupo informal de voluntários, representa a esperança de que, com a ajuda de todos os envolvidos, o Parque
Com uma das maiores colónias do mundo nas ilhas Desertas, a alma-negra (Bulweria bulwerii) está amplamente distribuída por toda a ZEE da Madeira e dos Açores. No arquipélago da Madeira, é um reprodutor abundante, especialmente nas ilhas Desertas, no Ilhéu do Farol e nos Ilhéus do Porto Santo. Fatores como a ingestão de lixo marinho e a poluição luminosa podem contribuir para a mortalidade desta espécie.
O patagarro (Puffinus puffinus), por sua vez, é uma espécie considerada vulnerável nos Açores, Madeira e Canárias, com os juvenis abandonando os seus ninhos entre junho e julho. Na Madeira, é uma das aves marinhas mais desconhecidas e raras, sobretudo devido à dificuldade de acesso aos seus discretos locais de nidificação. De forma a expandir o conhecimento sobre a espécie e promover a sua conservação, a SPEA Madeira fez parte do projeto LIFE4BEST Puffinus, durante 2021 e 2022.
Os painhos do género Hydrobates são algumas das aves marinhas mais pequenas. O roque-de-castro (Hydrobates castro) é a menor ave marinha a nidificar no arquipélago da Madeira, ocupando ilhéus e ilhas em toda a região. Já a alma-de-mestre (Hydrobates pelagicus), que nidifica nas Canárias, é um migrador de longa distância presente nas águas da Madeira durante o outono, sendo extremamente raro nos Açores, onde não há registos recentes. O painho-de-monteiro (Hydrobates monteiroi) é uma espécie endémica dos Açores, com nidificação confirmada apenas nos ilhéus da Praia e de Baixo, junto à ilha Graciosa e com suspeitas da sua reprodução noutras ilhas e ilhéus adjacentes, como o Corvo, Flores e Graciosa. Os efeitos da poluição luminosa sobre o género Hydrobates não são tão claramente documentados como para outras aves marinhas. O roque-de-castro é provavelmente o mais suscetível aos seus efeitos, uma vez que nidifica em várias ilhas e ilhéus próximos a áreas urbanizadas.
O pintainho (Puffinus lherminieri) é uma espécie vulnerável, muitas vezes confundida com o patagarro. A população mundial está em declínio, com reduções significativas nas ilhas da Madeira e Canárias. Em Portugal, reproduz-se em todas as ilhas e na maioria dos ilhéus dos arquipélagos dos Açores e Madeira. Diferente de outras aves marinhas, não realiza migrações de grande escala. As principais ameaças à espécie incluem a predação por animais introduzidos, a urbanização da zona costeira e a poluição luminosa que pode desorientar os juvenis. Nos Açores, foram definidas linhas de investigação prioritárias para reforçar a conservação desta espécie.

Instituto para o Desenvolvimento e Inovação Tecnológica fica no Centro Cultural de Investigação do Funchal
O Instituto para o Desenvolvimento e Inovação Tecnológica, em que participam a Universidade Nova, o Governo Regional, através da Secretaria Regional da Saúde, a UMa, entre outros, ficará localizado no Centro Cultural de Investigação do Funchal, antigo Matadouro.

Novo livro de Jesus Maria Sousa e Liliana Rodrigues apresentado esta semana
No dia 1 de março, pelas 18:00, no Colégio dos Jesuítas do Funchal, ocorre o lançamento da obra TEORIAS CRÍTICAS E
O calca-mar (Pelagodroma marina) é, também, outra espécie vulnerável que nidifica nas ilhas Selvagens, com uma população nidificante concentrada principalmente nesta região do Atlântico Norte e uma presença residual nas Canárias. No arquipélago da Madeira, parece comum em toda a ZEE, visitando as colónias apenas durante a noite na época reprodutiva. Até ao início dos anos 2000, a predação por ratos-domésticos contribuía para um elevado insucesso reprodutivo na colónia da Selvagem Grande, mas a erradicação desta espécie invasora em 2002 melhorou significativamente as suas condições. Embora o impacto da atração por luzes artificiais de embarcações próximas das colónias ainda seja desconhecido, poderá representar uma fonte de mortalidade ainda por avaliar.
É fundamental sensibilizar a população sobre a possibilidade de promover uma convivência harmoniosa entre o desenvolvimento humano e a conservação ambiental. Partindo deste princípio e considerando o número de aves marinhas vítimas de poluição luminosa, desde 2009 a SPEA Madeira tem coordenado brigadas de patrulhamento voluntário sob o âmbito da Campanha Salve uma Ave Marinha. À semelhança da Madeira, decorre a Campanha SOS Cagarro nos Açores, e a SOS Pardela em Canárias. Durante outubro e novembro, coincidindo com o período de saída dos juvenis da emblemática cagarra, os voluntários são instruídos para o resgate e libertação de aves marinhas encandeadas pela poluição luminosa.
LIFE Natura@night é uma iniciativa cofinanciada pelo programa LIFE da União Europeia e coordenada pela SPEA, com o propósito de atuar na iluminação pública de forma a reduzir a poluição luminosa que afeta a biodiversidade das áreas protegidas da Rede Natura 2000 na Macaronésia. Este projeto continua a contribuir para a implementação da Diretiva Habitats, Diretiva Aves, Convenção EUROBATS, Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030 e Diretiva-Quadro da Estratégia Marinha. Pode ficar a saber mais em www.naturaatnight.spea.pt.
Laura Sousa e Elisa Teixeira
Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves
Com fotografia de Juha Lehtinen.