Empadão de peixe, outra vez?

Empadão de peixe, outra vez?

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Remonta a 2008 um dos textos mais comentados desta publicação. O “Empadão de Peixe” traria à discussão, audível, frontal, inédita e necessária, os serviços prestados pelo sector de alimentação da Universidade da Madeira. Hoje, uma década depois, estão as sugestões e reclamações a serem ouvidas e tratadas? Ou vamos pelo empadão de peixe, outra vez?

A qualidade no ensino superior não se resume ao processo de ensino-aprendizagem, centrado na relação entre o professor e o estudante. Esta deverá, também, ser garantida pelos serviços prestados na biblioteca, no bar, na cantina, nos serviços de acção social, nos serviços académicos, na associação académica e nos mais diversos serviços da Instituição.

Um pouco por todo o país as instituições de ensino superior avaliam os seus serviços e tornam públicos os resultados. Incentivam e valorizam a crítica. Alguns serviços já aqui mencionados também o fazem, contudo não seria inédito se as avaliações de carácter negativo fossem eliminadas como se de um inquérito inválido ou incompleto se tratasse. Carlos Abreu, Presidente da Direcção da Académica da Madeira encontra uma justificação para que tal aconteça e sem qualquer consequência. Afirmou, no âmbito das comemorações do Dia da UMa que “a nossa Universidade não fomenta nem aceita, de forma natural, o inconformismo dos seus estudantes, as suas reclamações ou a sua voz. Tende-se a minimizar a sua relevância e existência. Pede-se uma juventude activa e interventiva, mas prefere-se uma juventude passiva e conformada.”. Considera que urge falar. Urge incentivar a falar. Urge conhecer, urge incentivar a conhecer. Urge actuar.

Universidade da Madeira fez a reparação das placas do pavimento do pátio

Foram anos a reclamar por melhores condições no pátio exterior da Universidade da Madeira. Em abril, foram feitos novos trabalhos de recuperação no exterior do edifício, que faz a ligação com o Madeira Tecnopolo. A Universidade refere que “a substituição de placas naquele espaço tem ocorrido ao longo do tempo”.

Os serviços da Cantina são muito requisitados pelos estudantes. Não apenas pelo preço, mas também pela qualidade da ementa, de acordo com os resultados do inquérito aplicado no início do mês de Maio. Longe vão os tempos em que encontrávamos quatro funcionários entre a recolha da senha e a distribuição da sopa e centenas de estudantes a compor uma fila que levava cerca de 20 minutos até estar servida. Contudo, a experiência de usufruir de uma refeição na Cantina da UMa continua a exigir melhorias significativas.

Dividido em 3 partes – ambiente externo, ambiente interno e pratos – o inquérito de satisfação permitia, ainda, a escrita de algumas recomendações e sugestões, à semelhança do que os SASUMa têm vindo a recolher, ao longo do ano lectivo.

Entre algumas exigências expressas, nomeadamente da necessidade de “existência de uma maior variedade de sumos”, “maior quantidade de pratos de carne” ou “eliminação de alguns pratos de peixe” encontramos, igualmente, outras de carácter mais premente dado que poderão ter consequências na segurança dos utentes.

A avaliação ao ambiente externo revelou uma grande homogeneidade nas respostas. O estado de conservação do edifício (pavimento e tecto, essencialmente) e a segurança são tidos como os piores items com uma avaliação de “Mau” e “Muito mau”. Com uma avaliação “Muito Boa” foi indicada a localização e a acessibilidade do edifício. A avaliação interna segue esta mesma tendência. Na sua generalidade assume uma avaliação de “Mau” com especial enfoque na dimensão do espaço disponível, na conservação do mobiliário e na higiene do espaço. A iluminação do espaço foi o item com melhor classificação na avaliação do ambiente interno.

Não obstante a importância do ambiente onde se usufrui da refeição, a avaliação dos pratos que são disponibilizados – variedade, temperatura, higiene, apresentação, quantidade, qualidade, alternativas – é a que mais pesa quando se opta pela refeição paga ou trazida de casa. Neste âmbito, a avaliação geral é positiva tendo, apenas, sido registada avaliação negativa na existência de alternativas à ementa do dia e à quantidade e temperatura. Os restantes items receberam avaliação de “Bom” e “Muito Bom”.

Os resultados dizem-nos ainda mais. Dizem-nos que é necessário saber ouvir, saber criticar e saber fazer chegar a quem de direito a opinião dos utentes, dos estudantes. Não deve ser necessário registar uma queixa para que os problemas, existentes em todo e qualquer serviço, rumem à resolução. Eles existem e vão sempre existir enquanto servirem pessoas, com opiniões, com necessidades, com experiências e com graus de exigência diferentes. Como tal, deveria ser suficiente o diálogo. O discutir do que é urgente melhorar e receber retorno – sincero e imune de pressões e represálias – dessa discussão. E não, não há nenhum problema com o empadão de peixe!

Foi dito …
em 2008!

“Diz-me onde comes e dir-te-ei quem és.”

“A ementa típica de um almoço inclui uma sopa juliana. Depois, empadão de peixe, consoante o almoço do dia anterior.”

“A sobremesa é iogurte, quase sempre de aromas, consoante o prazo de validade, ou uma peça de fruta. A acompanhar as refeições, água da torneira ou sumo pouco concentrado”.

“Almoçar na cantina não é para qualquer estômago.”

“Quatro empregados circulam da vitrina de sobremesas, passando pela área de pratos quentes, até aos recipientes de sumo e água. O número de utentes aumenta e o de funcionários decresce.”

“Os serviços de alimentação possuem certificado de qualidade, que mesmo visível para todos os utentes, é contestado por muitos.”

Foi dito …
em 2019!

“Diz-me onde comes e dir-te-ei quem és. ”

“Urge a melhoria do interior do espaço e variedade.”

“Devem reduzir a enorme quantidade de arroz, massa e batata e equilibrar com legumes e o peixe/carne.”

“Se a meteorologia prevê chuva e trovoadas, um almoço no bar ou no restaurante torna-se uma verdadeira odisseia.”

“A cantina deveria abrir ao Sábado.”

“Deveria existir maior variedade pensando em pessoas vegetarianas e vegan.”

“Deveriam reforçar a quantidade de comida e aumentar os lugares para almoço.”

“Deveriam ouvir as reclamações dos estudantes.”

“Deveriam alargar o perímetro de almoço e dar melhores condições e quantidade de comida.”

“A acessibilidade poderia ser melhorada pela introdução de uma passadeira.”

“As condições de segurança deveriam ser revistas tendo em conta que em dias de chuva a água inunda o espaço.”

“O chão deveria ser completamente substituído.”

“As tomadas não funcionam.”

“Não há as condições mínimas nas casas de banho.”

“Os estudantes deveriam ser mais exigentes com os serviços que estão a pagar.”

“As casas de banho são uma vergonha.”

“Insistir na variedade da ementa.”

Andreia Micaela Nascimento
ET AL.
Com fotografia de Peter Shawn.

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