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Uma visita guiada pela Residência

A minha chegada na residência universitária foi, digamos, diferente. O segurança que recebe os estudantes em mobilidade e os demais residentes do estrangeiro apenas fala Português. Quando cheguei, o quarto não estava preparado: não havia lençóis, cobertor ou travesseiro. Mesmo com a informação sobre a minha chegada, a residência não tinha preparado o quarto.

A partir do dia seguinte, e durante duas semanas, tentei assinar o meu contrato com a residência. Sem sucesso, recebi diversas justificações que iam da falta de Internet até o momento errado para assinatura. Pensei que se não era importante para eles, não deveria ser para mim.

O meu quarto parecia possuir o suficiente para o meu quotidiano. O grande problema começou com uma componente importante: a cama. Pequena, com um colchão num estado deplorável pela sujidade, não permitia que qualquer conformo mínimo ou que alguém mais alto pudesse dormir normalmente. Igualmente desajustada era a secretária que parecia ter sido feita para um miúdo da escola primária. É claro que depois da cama, começamos a reparar que nenhuma das luzes nas secretárias funciona e que as cortinas estão tão sujas como o colchão.

A casa de banho representava outro problema: a posição do duche indicava, em todos os quartos, uma fonte de fungos que crescia na parede do quarto. O interior não possuía qualquer prateleira para colocarmos os produtos essenciais de higiene. O duche pingava e tentava nos embalar durante a noite já que a porta da casa de banho não se fechava.

Saindo do quarto podemos visitar o epicentro do terror que é a vida dentro da Residência: a cozinha. Cada andar possui uma que é partilhada por cerca de meia centena de pessoas. São quatro mesas, 10 cadeiras, uma torradeira, uma jarra elétrica, um microondas (tem dias), um lava-loiça e um fogão com quatro bocas para os mais de 50 residentes do andar. Os utensílios que existem parecem resgatados de um cenário de guerra e são acompanhados de formigas e baratas que se juntam a loiça que existe e à floresta de fungos e bactérias que cresce pelo espaço. Pensar num forno é parte do imaginário.

Em Dezembro passado tudo piorou. Sim, foi possível. O fogão do primeiro andar deixou de funcionar durante meses, juntando-se o fogão do piso térreo que tinha apenas duas bocas operacionais que eram partilhadas por mais de 100 residentes. Infelizmente, o horário limitado das cozinhas só permite que a sua utilização seja até às 2:00 da manhã, o que obriga a que o jantar comece a ser preparado com dois dias de antecedência para que as duas bocas de fogão sejam suficientes. Essa antecedência baixa para a preparação na véspera quando todas as bocas estão operacionais.

Acompanhando o espírito de que quase nada funciona, a lavandaria da residência possui metade dos equipamentos a funcionar. Ou metade avariada, dependendo que como olhamos para o copo meio cheio ou meio vazio.

As áreas comuns continuam na sala de estar. Cada andar possui uma equipada com um televisor, uma mesa e dois sofás que, para combinar, estão tão sujos que qualquer observador desconfia que nunca foram limpos.

Por mais que a Universidade e o curso possam ter sido uma boa experiência, numa ilha que é certamente paradisíaca, a vida na residência foi um verdadeiro inferno e pode eclipsar as boas recordações que levamos. Mais do que a quantidade dos problemas, a falta de vontade de quem gere a Residência é notória. Nem sabem o que estão a fazer, nem querem saber. Muitos problemas são de resolução tão simples que ficamos sem compreender como a administração pode se preocupar tão pouco com a vida dos alunos.

Este artigo resulta dos testemunhos partilhados por vários residentes oriundos dos programas de mobilidade Erasmus+ que estudam na Universidade da Madeira.

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