Quem o afirma é a presidente da Rede de Serviços de Apoio Psicológico no Ensino Superior, Olga Oliveira Cunha. A psicóloga, falando à Agência Lusa, alertou que muitos estudantes não poderão beneficiar do programa de cheque-psicólogo, aprovado pelo Governo, devido aos critérios restritivos usados na seriação dos candidatos a este apoio.
Desde o início da semana passada, os estudantes têm a possibilidade de requisitar consultas de psicologia, abrangendo instituições públicas e privadas. Após duas consultas iniciais de avaliação e diagnóstico, os estudantes podem aceder a mais dez sessões. O número de consultas disponibilizadas aos estudantes é criticado pela profissional que o considera insuficiente para a construção de uma relação de confiança entre o psicólogo e o paciente. “O que acontece quando acabam as 12 sessões? O aluno é devolvido ao serviço? Tem de procurar outro psicólogo?”, questiona.
A agravar a situação, a psicóloga recorda que a medida do Governo não beneficiará mais da metade do total de estudantes do ensino superior em Portugal, uma vez que os critérios de exclusão incluem estudantes com necessidades educativas específicas, comportamentos aditivos, diagnósticos de perturbação psicótica ou bipolar, perturbação da personalidade, pensamentos suicidas e sintomas com duração superior a um ano e meio.

Inclusão e abandono, interligados ao acaso?
Mensalmente, a ACADÉMICA DA MADEIRA tem um espaço de opinião no JM Madeira. Este mês, Ricardo Freitas Bonifácio, um dos responsáveis pela pasta da cultura na ACADÉMICA DA MADEIRA e por outras atividades e programas de apoio aos estudantes da Universidadade da Madeira, escreve sobre a saúde mental.

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Olga Oliveira Cunha explica que “a ideação suicida é relativamente comum nesta faixa etária” e observa que muitos estudantes já apresentam sintomas desde o ensino secundário quando recorrem aos serviços de psicologia das suas instituições. Lamenta ainda a falta de articulação entre os serviços de psicologia das instituições de ensino superior e destaca que a medida dos cheques-psicólogo não responde adequadamente ao aumento das solicitações de apoio psicológico.
Oliveira Cunha defende, também, a implementação do Programa para a Promoção de Saúde Mental no Ensino Superior, que visa promover a implementação de projetos nas instituições, enfatizando a importância do envolvimento dos estudantes nesse processo.
No ano passado, o serviço de psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas atendeu 212 estudantes, com mais de mil atendimentos individuais. Desde o início do ano letivo, já foram recebidos mais de 30 novos pedidos. A situação é semelhante em outras instituições, onde as listas de espera podem ultrapassar os cinco meses. A pandemia de COVID-19 deixou marcas significativas na saúde mental dos estudantes, aumentando a demanda por apoio psicológico.

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Olga Oliveira Cunha observa que as questões que os estudantes enfrentam são cada vez mais complexas. Se antes procuravam ajuda principalmente por motivos académicos, agora enfrentam problemas de natureza psicopatológica, como ansiedade, depressão, ideação suicida e adições. A pressão por sucesso e competitividade, juntamente com questões socioeconómicas, como o aumento do custo de vida e a falta de alojamento, têm um impacto direto na saúde mental dos estudantes.
Recorde-se no no início deste ano, a ACADÉMICA DA MADEIRA deu a conhecer os resultados do INQUÉRITO ANUAL DAS DIFICULDADES DOS ESTUDANTES EDIÇÃO DE 2022-2023, realizado pelo Observatório da Vida Estudantil. Dos 715 estudantes da Universidade da Madeira (UMa) que participaram nesta edição, 365 inquiridos (50,8%) indicou alguma vez ter sentido necessidade de apoio psicológico. Na edição anterior, o inquérito havia contabilizado 291 respostas no mesmo sentido, pelo que a variação de 2022 para 2023 foi de um aumento de 74 estudantes da UMa a indicar já terem sentido necessidade de apoio psicológico.
De igual forma, comparando ambas as edições do inquérito, verificou-se um diminuição no número de estudantes que não procurou qualquer apoio psicológico (de 52,2%, em 2022, passou para 49,4%, em 2023) e, dos que procuraram apoio, registou-se uma tendência decrescente de procurar apoio psicológico foram da própria UMa (com 39,1%, em 2022, a passar para 36,8%, em 2023).

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Diante do panorama nacional, a Olga Oliveira Cunha defende que o apoio psicológico deve ser mais acessível e adaptado às necessidades reais dos estudantes, promovendo uma abordagem mais holística e inclusiva.
Luís Eduardo Nicolau com Carlos Diogo Pereira
ET AL.