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Cidades com 2500 anos na Amazónia

Cidades com 2500 anos na Amazónia

A 11 de janeiro a revista Science publicou um artigo em que dava conta da descoberta de "dois mil anos de jardim urbano na Alta [floresta] Amazónia", referindo-se a toda uma antiga civilização descoberta no Equador.

A Amazónia, a maior mancha florestal do planeta, constitui uma das maiores ideias erróneas que nos são ensinadas desde crianças, ao receber a designação de pulmão do mundo. Sabe-se, porém, que a função de pulmão do planeta pertence às microalgas que habitam os oceanos, especialmente junto às costas continentais. Por seu lado, a quase totalidade do oxigénio libertado Amazónia durante o dia é consumida pelo seu denso ecossistema, não deixando muito gás disponível para o restante globo.

É exatamente a densidade da floresta amazónica que lhe tem permitido manter bosques virgens, mesmo após milhares de anos de ocupação ameríndia, seguidos de centenas de anos de colonização europeia e do desenvolvimento industrial e agrícola dos países atuais da América do Sul.

A inacessibilidade da floresta torna-a um dos pontos do planeta onde habitam mais espécies terrestres ainda desconhecidas para os humanos, e o grau de deflorestação a que ela está sujeito leva-nos a ponderar que muitas nunca serão descritas antes da extinção. Há ainda populações nativas sem qualquer contato com o resto dos humanos, isoladas pela floresta.

Além desses tesouros, o espesso dossel verde da Amazónia guarda restos de civilizações desaparecidas que atraem arqueólogos de todo o mundo e que, ao longo dos últimos 200 anos, já inspiraram vários livros e filmes.

No início deste ano, a Science, anunciou a descoberta evidências arqueológicas de prática de cultura agrícola há mais de 2 mil anos, no Vale de Upano, na Amazónia equatorial, nas colinas orientais dos Andes.

Dadas a densidade florestal e a dificuldade de acesso ao lugar, o Upano foi rastreado com recurso a tecnologia LIDAR, um sensor de deteção remota que mede a reflexão da luz visando determinar as distâncias dos emissores até aos objetos-alvo.

Esta tecnologia permitiu realizar mapas 3D através de laser identificando irregularidades no território coberto pela floresta. Através dela, os arqueólogos identificaram mais de 6 mil plataformas terrestres distribuídas em padrões geométricos, ligadas por estradas, intercaladas com paisagens agrícolas e sistemas de drenagem fluviais.

Essas plataformas monumentais suportavam campos agrícolas e aglomerados populacionais, onde se distinguiram praças e ruas. Entre as povoações, foram identificadas “estradas largas e retas que se estendem por dezenas de quilómetros”, diz a Science, num sistema que constitui “a característica mais notável da paisagem […] conectando os diferentes centros urbanos, criando assim uma rede de escala regional”. Tal indica que se Upano não constituiu uma nação, os diferentes povos mantinham estreitos laços entre si.

Poluição luminosa: um inimigo silencioso

Recorda-se da última vez que se sentou num banco da cidade, durante a noite, e conseguiu observar as estrelas sem dificuldade? A pergunta é feita pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, que escreve sobre a poluição luminosa.

A par dos trabalhos com o LIDAR, os arqueólogos têm realizado escavações na floresta, cujos achados e o estudo dos perfis geológicos permitiram atestar a ocupação do território entre “cerca de 500 a. C. a entre 300 e 600 d. C.”. Logo, estas cidades perdidas formaram-se há, pelo menos 2500 anos e a sua ocupação durou cerca de mil anos.

Para vermos a unicidade da civilização do Vale do Upano, pode-se compará-la à maior civilização da América do Sul na história pré-colonial, o Império Inca, no Peru – a que pertence a antiga cidade de Machu Picchu – e que foi urbanisticamente semelhante a Upano, usando terraços monumentais com praças, ruas e estradas a ligar as cidades. Os incas fundaram o seu império 900 anos depois do desaparecimento dos upanianos (em 1438) e este só durou 100 anos (desaparecendo em 1533, com a colonização espanhola).

Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Sébastien Goldberg.

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