Real Caixa de Aposentações

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Faltam 3 meses para que 2013 termine e no espaço europeu houve 3 monarcas a abdicarem. Não havia tantas abdicações num ano desde 1918, quando o fizeram 5 soberanos, na sequência da reestruturação política da Europa após a Primeira Grande Guerra.

O Currier Internacional apresentou, em Setembro, várias monarquias como instituições paradas no tempo e que pouco dizem aos povos que representam. A excepção, segundo a fonte, é a Família Real Britânica, por os Windsor serem populares, terem enorme importância económica para o Reino Unido, custarem pouco ao contribuinte, serem próximos do Povo, serem glamourosos e por beneficiarem da impopularidade dos políticos eleitos para a Câmara dos Comuns (o mais próximo do sistema republicano que os ingleses têm).

Vista como obsoleta aos olhos de muitos, a realeza esforça-se para merecer o espaço que ocupa. Gastam menos que muitas presidências republicanas e facturam milhões em tudo o que lhes diga respeito, dando um toque de charme actual às glórias dos tempos passados. Mas para evitarem tornarem-se dispensáveis, apostam no marketing e na promoção das gerações mais jovens em detrimento dos patriarcas.

Este ano, foram três os monarcas a abdicarem: o Papa Bento XVI, a Rainha Beatriz dos Países Baixos e o Rei Alberto II dos Belgas.

Bento XVI, embora jogue numa liga diferente, foi o Papa a reconhecer-se demasiado cansando e doente para satisfazer as necessidades da Igreja. Quando ninguém o esperava, anunciou a renúncia ao Papado, deixando o Mundo boquiaberto com a sua abnegação, especialmente por não ter gozado da mesma popularidade de que João Paulo II.

Beatriz dos Países Baixos, por seu lado, seguiu o exemplo da avó Guilhermina e da mãe Juliana. Numa nação que viu a república como época áurea, manter o trono é uma tarefa de grande esforço. Para a Rainha pesou ainda o apoio ao filho, o Príncipe João Friso, hospitalizado devido a um acidente de esqui que o vitimaria mortalmente. No final, Guilherme sucedeu a mais de 120 anos de monarquia feminina.

Apesar de acolher importantes instituições da União Europeia, a Bélgica é um país culturalmente dividido em francófonos, germânicos (alemães e holandeses) e flamengos, com frequentes crises políticas. Cansado de mediar um país tão heterogéneo, Alberto II abdicou a favor de Filipe, um homem de meia-idade na primeira geração de monarcas do século XXI.

Bento, Beatriz e Alberto, juntaram-se a Hans-Adam II do Liechtenstein e a João do Luxemburgo como reais aposentados (sem contar com Simeão da Bulgária e Constantino da Grécia, por exemplo, cujos reinados terminaram com repúblicas).

Abdicar, na Europa do século XXI, é passagem de testemunho para que velhas instituições acompanhem os tempos, mas em Portugal e, à luz da nossa história, o conceito tem, quase sempre, interpretação negativa.

2013 continua a registar mudanças no panorama político português, mas quantos dos nossos republicanos é que realmente abdicam?

Carlos Diogo Pereira
Alumnus

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