A emissão do Peço a Palavra desta quarta-feira, às 16:00 na antena da TSF, abre espaço ao debate sobre um tema que acompanha milhares de estudantes em todo o país: a procura pela excelência académica e as exigências que dela resultam. Ter notas altas é, muitas vezes, visto como um bilhete dourado para o sucesso académico e profissional. Mas até que ponto a busca constante pelas melhores classificações se transforma numa exigência esmagadora? Neste programa, o painel analisa a realidade de estudantes que, mesmo sem viverem sob a pressão exterior de atingir notas máximas, mantêm percursos de excelência. O que os motiva? Como lidam com a expectativa de serem sempre os melhores? E quais são os custos, pessoais e emocionais, dessa procura constante pelo topo? Com o início de mais um ano letivo à porta, é o momento certo para refletirmos sobre o que significa, afinal, ser um estudante de excelência em Portugal. Vamos debater se o sistema de ensino está preparado para apoiar quem exige mais de si próprio e se recompensa verdadeiramente o mérito.
Neste episódio, o painel é composto por Rita Manica e a Beatriz Pires, estudantes na Faculdade de Ciências da Vida da Universidade da Madeira e Eva Xavier, que é finalista da Escola Secundária Francisco Franco, candidata ao Ensino Superior. A entrevista foi conduzida por Afonso Brazão e Luís Eduardo Nicolau.
As boas notas continuam a ser vistas como a principal chave para abrir portas no percurso académico e profissional dos estudantes, funcionando como critério de seleção para o acesso aos cursos mais competitivos e, muitas vezes, como fator diferenciador no mercado de trabalho. Num sistema onde as médias de candidatura de vários cursos exigem classificações superiores a 18, a pressão para manter um desempenho de excelência é constante. Contudo, esta exigência é ampliada por um contexto de redução do número de candidatos ao Ensino Superior, como se verificou em 2025, com menos de 50 mil candidaturas, o valor mais baixo desde a pandemia, segundo dados da Direção-Geral do Ensino Superior. A quebra no número de candidatos é explicada por múltiplos fatores, desde a demografia à alteração nas regras dos exames nacionais, mas reforça a competitividade interna, onde a disputa por lugares em cursos de prestígio coloca as notas no centro da decisão. Ainda que as boas classificações não garantam, por si só, um percurso profissional de sucesso, continuam a ser o principal indicador de mérito académico e a primeira triagem num sistema que ainda valoriza o desempenho medido em valores, independentemente do contexto ou das competências complementares que os estudantes possam desenvolver.

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Cerca de 73 mil estudantes receberam já, este ano letivo, uma bolsa de estudo no âmbito do ensino superior. Cada estudante bolseiro já recebeu, até ao momento, um financiamento no valor de 1230 euros, o que representa um aumento de 24% face ao mesmo momento do ano letivo anterior (990 euros/estudante) e 49% face ao ano letivo 2020-2021 (828 euros/estudante).

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Em Portugal, no ano letivo de 2022-2023, um total de 22.987 estudantes obteve 20 valores em pelo menos uma disciplina dos 11.º e 12.º anos, com as raparigas a representarem 56% deste grupo, 12.815 alunas versus 10.172 alunos, segundo dados divulgados pela SIC Notícias. Esta disparidade de género tem sido uma constante nos últimos anos, refletindo uma maior predominância feminina nos níveis de excelência académica. Já em 2024, a Escola Secundária Francisco Franco, na Madeira, destacou-se ao registar 24 classificações máximas em diferentes disciplinas na primeira fase dos exames nacionais, um feito noticiado pelo DIÁRIO, que sublinha o papel de algumas escolas públicas na formação de estudantes de elevado desempenho.
Em 2023, mais de um terço dos estudantes de 39 colégios privados tinham obtido classificações internas entre 19 e 20 valores em pelo menos uma disciplina, uma realidade que contrasta com o panorama das escolas públicas, onde este nível de excelência é consideravelmente mais raro. Estes dados podem levantar questões sobre os critérios de avaliação e a uniformidade na atribuição de classificações entre o ensino privado e o público. Os números refletem um fenómeno recorrente de concentração de notas máximas em determinados estabelecimentos privados, alimentando o debate sobre a comparabilidade das classificações internas no acesso ao Ensino Superior e sobre a real correspondência entre estas notas e a exigência académica efetiva. Estamos a falar de excelência académica ou de uma inflação de notas que distorce o verdadeiro mérito? Trata-se de uma realidade exclusiva do ensino privado? O painel do Peço a Palavra reuniu estudantes que passaram pelo ensino público e privado para conversar sobre o assunto.
Persiste a perceção de que as notas máximas são um fenómeno associado quase exclusivamente aos candidatos a Medicina. No entanto, a realidade atual demonstra que a excelência académica se estende a diversas áreas, como a Engenharia, a Economia, e as Artes, desafiando esse mito. Em 2022, apenas sete estudantes ingressaram na Universidade do Porto com a média perfeita de 20 valores no Secundário e 20 nos exames nacionais, sendo que nenhum destes estudantes optou por Medicina, preferindo áreas como Artes, Direito ou Física. Este dado pode evidenciar que, apesar de a média máxima ser frequentemente associada à entrada nos cursos mais competitivos, como Medicina, a escolha do percurso académico nem sempre segue essa lógica.

Sucesso académico e prevenção do abandono no ensino superior
O segundo seminário “Sucesso académico e prevenção do abandono no ensino superior”, acontece na próxima sexta-feira, dia 26 de maio de 2023, entre as 14:00 e as 18:00.

Nota máxima… a que preço?
Afonso Brazão escreve no DIÁRIO sobre “impacto desta exigência desmedida na saúde mental é um problema que afeta uma grande quantidade
Num ambiente académico cada vez mais competitivo, onde as classificações são frequentemente vistas como a principal medida de sucesso, o bem-estar e a saúde mental dos estudantes assumem uma importância crucial. Um estudo da Organização Mundial da Saúde, publicado em 2022, revelou que cerca de 30% dos estudantes universitários europeus apresentam sintomas de ansiedade moderada a severa, uma realidade que também afeta os níveis secundário e pré-universitário, especialmente em contextos de elevada exigência académica. A pressão constante para atingir notas máximas, aliada à comparação permanente com os pares, potencia níveis elevados de stress e esgotamento emocional. O painel entrevistado reforçou a importação de promover uma cultura educativa que valorize o equilíbrio entre a excelência académica e a saúde mental como essencial para garantir que o percurso escolar não se transforme num fardo, mas antes num espaço de desenvolvimento integral, onde competências como a resiliência, a gestão emocional e o trabalho em equipa sejam tão reconhecidas quanto as notas obtidas em avaliações formais.
A prática regular de atividades de lazer e desportivas é reconhecida como uma ferramenta fundamental para promover o equilíbrio emocional e combater os efeitos do stress num percurso académico exigente. Estudos europeus indicam que estudantes que praticam desporto pelo menos duas vezes por semana têm 35% menos probabilidade de desenvolver sintomas de ansiedade ou depressão, comparativamente aos colegas sedentários, segundo dados do Eurobarómetro de 2023 sobre desporto e atividade física. Mais do que um escape ao ambiente competitivo das escolas e universidades, o desporto proporciona um espaço de socialização, desenvolvimento de competências interpessoais e gestão emocional, permitindo aos estudantes construir uma relação mais saudável com a sua performance académica. O painel reforçou a perceção de que a integração de atividades extracurriculares no quotidiano dos estudantes é uma estratégia eficaz para reforçar a sua resiliência e bem-estar global, sendo cada vez mais valorizada por instituições que apostam numa formação integral.
O Peço a Palavra é um espaço em que o Ensino Superior, a Ciência e a Tecnologia estão em debate, porque os estudantes pediram a palavra. O seu nome tem origem na intervenção que tornou célebre o jovem líder estudantil em Coimbra Alberto Martins e espoletou a Crise Académica de 69. Trata-se de uma produção da TSF Madeira 100FM com a Académica da Madeira, transmitida em direto, quinzenalmente às quartas-feiras, às 16:00, e disponível em podcast, nas principais plataformas do mercado. Na antena da rádio, o programa é repetido na quarta-feira seguinte.
Luís Eduardo Nicolau
Com Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Tim Gouw.