Portugal tem registado um crescimento notável no número de doutoramentos realizados, com um aumento de 69% entre 2014 e 2020. Este crescimento é atribuído à procura pela economia do conhecimento e aos incentivos financeiros para as universidades. No entanto, como aponta o relatório Doutoramentos em Portugal (2023), “as despesas em atividades de investigação e desenvolvimento aumentaram apenas 30% no mesmo período”, evidenciando um descompasso entre o crescimento da formação doutoral e os recursos disponíveis.
Apesar do aumento das matrículas, os índices de conclusão continuam preocupantes. “Em cada ano, cerca de 6.000 alunos matriculam-se pela primeira vez, mas apenas 2.000 concluem os seus estudos”, destaca o relatório, sublinhando uma taxa de conclusão de 33%. Este fenómeno é agravado pela falta de financiamento dedicado. “A maioria dos doutorandos não tem bolsas de estudo ou contratos de trabalho, acumulando os estudos com outras atividades profissionais”, acrescenta.

Governo quer limitar contratações no ensino superior, mas eficácia da medida gera dúvidas
O Governo pretende limitar a contratação de doutorados pelas universidades onde concluíram o grau, mas a eficácia da medida levanta dúvidas entre especialistas e responsáveis académicos.

ISCTE divulga 500 vagas para doutoramento
Será uma oportunidade única para profissionais e jovens que pretendem aprofundar os seus conhecimentos e desenvolver competências avançadas em áreas tão
A orientação académica também é alvo de críticas. Segundo o documento, “há instituições que apresentam um rácio de doutorandos por orientador extremamente elevado”, comprometendo a qualidade do acompanhamento. Além disso, a admissão de estudantes sem as competências necessárias é identificada como um dos fatores para a baixa eficiência formativa. “A exigência à entrada é condição necessária de qualidade à saída, mas não suficiente”, alertam os autores.
No mercado de trabalho, os doutorados enfrentam dificuldades significativas. “Em 2020, 77% trabalhavam no ensino superior, muitas vezes em condições precárias, com contratos a prazo e sem perspetivas de continuidade”, sublinha o relatório. Em contrapartida, países como a Alemanha oferecem melhores condições fora da academia, permitindo maior absorção no setor empresarial.

Nem o novo governo resolveu: investigadores estão há dois anos sem novas verbas
Os investigadores portugueses continuam a experimentar uma forte crise de financiamento, com atrasos nos concursos da FCT desde 2022 e cortes orçamentais que ameaçam a investigação científica no país. Em 2022, a taxa de sucesso dos projetos submetidos foi de 8,5%.

Um doutoramento em Ciências Biológicas que “pode ser atraente para estudantes de outros países da União Europeia”
Biólogos, químicos, bioquímicos, professores de ciências naturais são alguns dos profissionais que constituem o público-alvo do Doutoramento em Ciências Naturais aberto
O documento defende mudanças urgentes na educação doutoral. “Os programas devem preparar os estudantes não só para carreiras académicas, mas também para o setor empresarial, público e social”, reforça. A diversificação de percursos profissionais é vista como essencial para combater a fuga de cérebros e potenciar a inovação em Portugal.
O relatório também recomenda que os critérios de acreditação incluam a associação dos cursos a unidades de investigação de excelência. “A avaliação deve garantir que o número de doutorandos por orientador seja adequado e que haja condições para a realização de investigação de qualidade”, conclui. Estas medidas são apontadas como cruciais para assegurar a sustentabilidade e relevância dos doutoramentos no país.
Luís Eduardo Nicolau
Com Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Absolutvision.