Diz-me como moras dir-te-ei quem tu és!

Diz-me como moras dir-te-ei quem tu és!

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O alojamento universitário tem que ser mais do que apenas uma cama. Tem que ser acompanhamento e orientação. Tem que ser um lar. E depois? Depois fica tudo mais fácil.

É extremamente dispendioso, económica e emocionalmente, viver fora de casa para estudar. Em muitos casos, trata-se da primeira vez que o jovem tem que gerir o seu orçamento, elaborar lista de compras, ir ao supermercado, tratar da lavandaria, limpar e organizar o quarto e, o pior de tudo, cozinhar. Esta é, sem dúvida, a parte invisível do que é viver sozinho enquanto frequenta a Universidade.

A visível, todos conhecem. Para muitos, os estudantes que precisam recorrer ao alojamento universitário não têm regras, não limpam o que sujam, só participam e organizam festas, só fazem barulho, deitam-se muito tarde, levam namorados(as) para os quartos/casa e não estudam como deviam. Mas, será mesmo assim? A sê-lo, não teremos nós, adultos envolvidos na educação de nível superior, tanta responsabilidade quanto os não cumpridores das regras sociais e domésticas?

Uma simples busca na Internet, a fiel e única companheira de muitos, mostra-nos que tipo de privações passam os estudantes e seus familiares durante 3 ou 5 anos. Camas suspensas entre duas estantes, residências luxuosas no exterior e podres por dentro, camas colocadas em corredores e adegas e alojamento sem casas de banho, têm em comum a falta de alternativa e os preços exorbitantes que são praticados.

Mas não julgue, o leitor, que tal acontece lá fora, longe, com estudantes que não conhece o nome, o curso ou a família. Acontece aqui, acontece em Lisboa, acontece no Porto, acontece em Coimbra, acontece em todo o lado. Acontece onde quem precisa não reclama porque crê não ter alternativa (de oferta e/ou económica) ou porque é coagido a não reclamar.

Na Madeira, existe apenas uma residência universitária. Tem dez anos. Deram-lhe o nome de Nossa Senhora das Vitórias. É claramente insuficiente para o caminho que a Universidade da Madeira tem trilhado nos últimos anos, talvez os mesmos 10. Vários foram os espaços falados e apresentados como possíveis alternativas de onde construir. O edifício na Rua da Carreira, a Quinta de São Roque ou recuperar a antiga residência “Flamengo” são soluções faladas nos corredores. Por certo, quando estas palavras vos chegar, novos lugares já terão sido apontados.

Seria fundamental para a UMa, e para o seu crescimento, existir oferta de alojamento universitário adequado e ajustado à realidade insular. No entanto, cremos que antes de nascer uma nova residência é fundamental fazer crescer – em qualidade, condições e em excelência – a que já existe e que serve centenas de estudantes e suas famílias. E pagar para usar uma almofada não é um bom começo.

Mais do que uma cama é prioritário esclarecer as regras pouco claras, minimizar as intransigências – algumas delas causadas, contudo, pelo comportamento de alguns residentes -, resolver o problema das cozinhas minúsculas que servem, em simultâneo e nos dias mais calmos, 50 utentes, a ausência de estendais e de uma lavandaria adequada e, talvez o mais importante, saber ouvir quem lá reside. Afinal, acolher também é educar.

Andreia Micaela Nascimento
Académica da Madeira

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