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Os Níveis de Língua e a Escola

Quem, demonstrando-o, ensina que falar em casa ou na escola não é igual? Os níveis de língua tendem a ser esquecidos na escola, mas subsistem na sociedade.

A Linguística ensina que há níveis de língua, isto é, maneiras diferentes de falar/ escrever consoante, essencialmente: 1) os locais onde a comunicação decorre, 2) os interlocutores (idade, estatuto social, grau de relacionamento, entre outras condicionantes) e 3) o suporte discursivo escolhido. As línguas vivas são, por isso, marcadamente sociais, contemplando variáveis. Aliás, enquanto elementos sociológicos e culturais, existem porque os indivíduos constituem comunidades e formam sociedades.

Deveria ser evidente que falar em casa ou no café com os amigos não é o mesmo que falar no trabalho ou na escola. Vivemos numa sociedade em que subsistem esses níveis, mas eles ou não são devidamente ensinados ou não são aprendidos, inclusive na escola. Embora a sociedade os pratique, é difícil que as pessoas tenham plena consciência deles. É primordial ensinar para que todos aprendam a fazer a diferença, mas é preciso praticá-los enquanto se ensinam (e aqui lembra-se Frei Tomás: “Faz o que eu digo, mas não faças o que eu faço.”). Se os docentes não o fizerem, a escola, seja qual for o ciclo de estudos, perde uma das suas primeiras funções: educar para a cidadania, em que se inclui saber usar adequadamente a língua materna.

Ouçam-se os modos de tratamento recorrentes num ambiente escolar e, portanto, formal. Há quem trate outra pessoa por “Ó filho(a)!” (não sendo parentes), por “Ó menino(a)!” (ao falar com um adulto) ou use uma fórmula como “Ó querido(a)!” (não mantendo nenhum grau de familiaridade). Haver estudantes que se despeçam de docentes (assim como o contrário) com “Ciao!” ou os saúdem com “Olá!”, como se fossem amigos, não será recomendável. Adequar os desempenhos linguísticos torna-se imprescindível para que quem aprende recorra aos usos convenientes. Acontece de igual modo com o vocabulário, se não se estuda, se ninguém o emprega, não se aprende. A propósito, quem utiliza verbos como “estiolar” ou “exaurir”?

1.

A sua força ………………, quando viu o trabalho que tinha de realizar.

Preencher o espaço com a forma certa: estiolou-se/ esteolou-se/ isteolou-se.

Solução: A sua força estiolou-se, quando viu o trabalho que tinha de realizar.

Explicação: É classificado como galicismo pelos puristas, que recomendam “fenecer” ou “definhar” em vez de “estiolar”. Formou-se do verbo francês “étioler” (1690). Segundo Houaiss (dicionário), foi usado pela primeira vez em português por Avelar Brotero, no campo da Botânica para “provocar/ sofrer estiolamento”. Ganhou um sentido figurado equivalente a “enfraquecer(-se)”.

2.

Toda a sua energia se ………… com a entrega à ajuda humanitária.

Preencher o espaço com a forma certa: ezauriu/ exauriu/ esauriu.

Solução: Toda a sua energia se exauriu com a entrega à ajuda humanitária.

Explicação: Etimologicamente, vem do verbo latino “exhaurio,is,ausi,austum,aurire”, mantendo, hoje, a mesma significação dicionarizada: “tirar esgotando; esgotar as forças, esgotar, executar completamente”. É sinónimo de “extenuar-se” ou “esvaziar”.

Helena Rebelo
Professora da UMa

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