De acordo com uma reportagem da jornalista Ana Cristina Pereira, publicada no jornal Público, Bernardo Martins, antigo autarca e investigador, reflete sobre os 50 anos do 25 de Abril na Madeira, através da obra publicada em abril deste ano. “O espírito do 25 de Abril chegou à Madeira não pelo poder instituído, mas pelas pessoas”, afirma, destacando o impacto das mudanças sociais e políticas ocorridas no arquipélago. Apesar disso, o investigador considera que a autonomia foi apropriada pelo Partido Social Democrata (PSD) e utilizada para centralizar o poder.
A reportagem relembra o acolhimento, na Madeira, de figuras do antigo regime, como Marcelo Caetano e Américo Tomás, nos dias seguintes à revolução. Esta decisão foi justificada pelos Capitães de Abril como uma tentativa de garantir a segurança dos depostos líderes. Contudo, a imprensa madeirense teve um papel limitado no início, devido à censura que ainda operava no dia 25. Apenas “no dia 27 começaram a surgir notícias”, refere Bernardo Martins.

FATUM integram as comemorações dos 50 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974
O Centro Cultural e de Investigação do Funchal (CCIF) recebeu a apresentação do programa de eventos que comemorará os 50 anos do “25 de Abril”. A ACADÉMICA DA MADEIRA participará de dois momentos, no Parque de Santa Catarina e no CCIF.

Os FATUM no Concerto de Comemoração do 50.º Aniversário do “25 de Abril de 1974”
O grupo de fados da ACADÉMICA DA MADEIRA, os FATUM, estiveram presentes no grande evento de Comemoração que a autarquia do
Com o 25 de Abril, nasceram na Madeira movimentos populares e reivindicações sociais. O autor recorda a luta pelo fim do regime de colonia, que impunha condições injustas aos colonos. “As pessoas vinham apresentar reclamações porque não tinham água, electricidade, caminhos”, conta. Essa efervescência política e social deu origem a novos movimentos cívicos e partidos que pressionaram pela autonomia da região.
No entanto, Bernardo Martins lamenta a falta de alternância democrática no governo regional. “O PSD na Madeira criou uma rede de controlo que abrange administração regional, local e organizações civis”, critica. Para o investigador, a concentração de poder no partido “penalizou a liberdade e travou os ideais de Abril”. Apesar disso, Martins mantém esperança de que a alternância política chegue à Madeira, permitindo uma renovação democrática.

FATUM no Concerto Monumental dos 50 anos do 25 de Abril de 1974
A autarquia do Funchal refere que “o espetáculo 50 anos do 25 de Abril apresenta, no Parque de Santa Catarina, um coro de 600 vozes. A grandeza desta união combina em diferentes notas musicais a harmonia com a força e a fraternidade, valores que se elevaram na defesa da liberdade, da igualdade e da prosperidade de um novo futuro”.

O peso da liberdade
Como já dizia o meu pai, “só quem esteve preso é que reconhece o peso da liberdade.” (embora ele mesmo haver
O impacto da revolução foi também notório na área agrícola, com o fim do regime de colonia em 1977. Martins lembra que os colonos seguiram “vias legais e populares” para conquistar direitos sobre as terras que cultivavam. Essas transformações são, para o investigador, exemplo de como o 25 de Abril trouxe mudanças concretas, embora ainda haja desafios por resolver.
A reportagem do Público destaca como a Madeira viveu uma transição complexa, com avanços sociais e económicos, mas também com a persistência de estruturas que limitaram a liberdade democrática. “O espírito do 25 de Abril foi sendo atrofiado pelo governo regional, mas há espaço para mudança”, conclui Bernardo Martins.
A IMPRENSA ACADÉMICA, editora da ACADÉMICA DA MADEIRA que publicou a obra de Lino Bernardo Martins, em abril deste ano, promove as apresentações do livro no Porto e em Lisboa. O autor estará presente em ambos os eventos.
Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Pedro Pessoa.