Procurar
Close this search box.
Procurar
Close this search box.

Rui Nepomuceno, o advogado dos pobres

Rui Nepomuceno, o advogado dos pobres

HISTÓRIA DE VIDA DO COMENDADOR RUI NEPOMUCENO, de Alexandra Nepomuceno, é o novo lançamento da IMPRENSA ACADÉMICA no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril da ACADÉMICA. Uma homenagem a uma influente figura da história recente da Madeira, a decorrer no Palácio de São Lourenço, no dia 11 de julho.
HISTÓRIA DE VIDA DO COMENDADOR RUI NEPOMUCENO de Alexandra Nepomuceno.

A IMPRENSA ACADÉMICA promove mais uma edição no âmbito das comemorações dos 50 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974, da ACADÉMICA DA MADEIRA, uma obra biográfica sobre Rui Firmino Faria Nepomuceno, personalidade marcante da política e da cultura madeirenses. Histórico militante do Partido Comunista e combatente antifascista, Rui Nepomuceno foi uma figura multifacetada, conhecido como o «advogado dos pobres» e como historiador.

Nas palavras de Alberto João Jardim, antigo Presidente do Governo Regional da Madeira, foi um “advogado notável, homem de cultura e investigador empenhado na história social, a sua opção nestes caminhos trouxe importantes contributos ao bem comum do povo madeirense”.

HISTÓRIA DE VIDA DO COMENDADOR RUI NEPOMUCENO, é uma obras realizada a partir de documentação diversa e de testemunhos recolhidos por uma das netas do Comendador, a antropóloga Alexandra Nepomuceno.

O livro será apresentado, a convite do Representante da República Portuguesa para a Região Autónoma da Madeira, do Palácio de São Lourenço, quinta-feira, 11 de julho, pelas 18.00. A sessão terá lugar na história Sala do Baluarte, aposento privado do Rei Dom Carlos, durante a visita régia à Madeira, entre 22 e 25 de junho de 1901.

Conte-nos como surgiu esta ideia de escrever um livro sobre o seu avô?

A.N.: Esta ideia surgiu em 2017. Estava na Madeira e, em conversa com o meu pai, lembrávamos de vários capítulos e episódios caricatos e até marcantes do meu avô. Até que o meu pai constatou que, até ao momento, nunca tinham escrito uma obra biográfica sobre ele. Sim, já tinham escrito pequenas biografias de alguns parágrafos, mas nada muito extensivo ou desenvolvido. E seria interessante fazer algo desse género, que implicasse uma certa investigação, pesquisa, recolha de dados, dedicação e até estímulo. Um livro que relatasse as fases mais marcantes da sua vida, como a sua vida estudantil em Coimbra, a sua vivência na Guerra Colonial, o seu ingresso no Partido Comunista, o seu interesse pela escrita – em particular pela História da Madeira –, o seu percurso profissional enquanto advogado, o seu lado familiar e até afetivo, o seu papel na defesa da autonomia da Madeira, entre outros. Efetivamente, este trabalho nunca tinha sido feito. Sendo a escrita a minha paixão, “agarrei” esta ideia e comecei a pesquisar, a recolher dados e a escrever…

Que dificuldades e que estímulos encontrou para produzir esta obra?

A.N.: As minhas maiores dificuldades foram várias. Primeiramente, conseguir “distanciar-me” do “objeto de estudo”. Enquanto neta, foi difícil manter uma certa distância e afastamento do biografado. Outra dificuldade foi verificar a veracidade de determinadas informações, nomeadamente de datas, nomes concretos e na recolha de determinados documentos, como diplomas ou registos de batismo ou de casamento, e/ou outras.

Por outro lado, usufruí de vários incentivos. Tive o privilégio de ter horas de conversa com o meu avô e com a minha avó, que foram bastante elucidativas, educativas e esclarecedoras relativamente a vários temas. As pesquisas que realizei no Arquivo e Biblioteca da Madeira e no Diário de Notícias da Madeira também foram enriquecedoras. Fiz uma pesquisa intensiva em todos os números do Diário de Notícias, desde o ano que Rui Nepomuceno nasceu, ou seja, desde 1936, até ao ano de 2021. Encontrei dados inéditos e maravilhosos que nunca pensei encontrar, nomeadamente a notícia de quando nasceu, ou das suas avaliações no liceu, ou quando foi para a Guerra Colonial, entre outros dados. Posso dizer que encontrei centenas de registos no Diário.

As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 foram uma motivação especial para este projeto?

A.N.: Confesso que as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril não foram a minha motivação inicial. Aliás, quando iniciei este trabalho não tinha noção do significado ou do impacto que este dia teve para Rui Nepomuceno. Mas à medida que fui desenvolvendo este projeto, fui percebendo que o 25 de Abril de 1974, para além de ter sido o melhor dia da vida de Rui Nepomuceno, tinha um grande significado para ele, não só pela questão da liberdade e da democracia na Madeira como também por ter sido o primeiro passo para ser alcançado a autonomia da Região. Aliás, quando conversávamos sobre o 25 de Abril, via a felicidade que ia no seu olhar. Lamentavelmente, Rui Nepomuceno faleceu antes das comemorações dos 50 anos do 25 Abril de 1974. No entanto, este livro será publicado no ano em que se comemoram os 50 anos, em sua homenagem.

Como poderia caracterizar, resumidamente, o significado da ação de Rui Nepomuceno no contexto anterior e posterior ao 25 de Abril de 1974?

A.N.: Rui Nepomuceno sempre foi um lutador pela liberdade, defensor de causas e convicções e um autonomista convicto. Antes do 25 de Abril, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde participou nas lutas académicas contra o salazarismo. Embora fosse um defensor dos direitos dos povos à autodeterminação e à independência, combateu na Guerra Colonial, em Angola, sentindo o dever de acompanhar a sua geração e a sua pátria. Como antifascista, militou na oposição democrática e subscreveu em 1969, a polémica Carta a um Governador onde, entre outras críticas ao regime, reivindicava a democracia e a autonomia da Madeira.

Após o 25 de Abril de 1974, o seu destino já estava traçado. Rui Nepomuceno teve um papel marcante, nomeadamente na reestruturação do Partido Comunista da Madeira, na extinção da colonia, nos combates aos terroristas da FLAMA, e na conquista da autonomia da Madeira. Apaixonado pela sua terra, publicou vários livros sobre a História da Madeira. Para além disso, tornou-se um advogado de mérito, sendo conhecido até hoje como o “advogado dos pobres”. Rui Nepomuceno será sempre lembrado, não só como um defensor da autonomia, como também um antifascista e democrata na região e no país.

Entrevista conduzida por Timóteo Ferreira.
ET AL.

Palavras-chave