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A expansão do curso de Medicina não acontece como esperado

A expansão do curso de Medicina não acontece como esperado

O PEÇO A PALAVRA, na antena da TSF e em podcast, em parceria com a ACADÉMICA DA MADEIRA, debateu a evolução e o impacto do curso de Medicina. Ao contrário do que o reitor da UMa afirmou, a entrega do plano de expansão para os outros anos “não ocorrerá” como indicado.
Os médicos Rosa Henriques de Gouveia e Maurício Melim, em março de 2025, na gravação do PEÇO A PALAVRA.

O curso de Medicina da Universidade da Madeira (UMa) foi o tema do PEÇO A PALAVRA, transmitido ontem na antena da TSF Madeira, numa parceria com a ACADÉMICA DA MADEIRA. O programa analisou a evolução e o impacto do curso e da formação médica na região. Há surpresas sobre o adiamento do alargamento do curso de Medicina na UMa e críticas sobre o estado de degradação do edifício da Penteada: “não sei como podemos formar uma geração tão talentosa como a vossa, têm muito talento, nas condições que estamos a oferecer”. Criado em 2004, em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), o curso tem vindo a afirmar-se como um projeto estratégico para a fixação de médicos na Madeira, contando já com três anos letivos completos e perspetivas para a implementação do quarto ano em breve.

A emissão do programa contou com um painel composto por Mafalda Brazão e Maria Beatriz Ricardo, estudantes de Medicina na UMa e membros da Direção da ACADÉMICA DA MADEIRA. Como convidados, Rosa Henriques de Gouveia, médica especialista e doutorada em Anatomia Patológica, com subespecialização em Patologia Cardiovascular, atualmente presidente da Faculdade de Ciências da Vida da Universidade da Madeira, e José Maurício Melim, médico especialista em Saúde Pública e, desde outubro de 2023, lidera as Autoridades de Saúde Regional. Além disso, atua como professor convidado na Universidade da Madeira, desde 1992.

Em declarações ao DIÁRIO, em dezembro de 2024, Sílvio Fernandes, reitor da UMa, referiu que “ a extensão [do curso de Medicina] está a ser trabalhada, tem se ser sujeita a parecer e autorização da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) e só depois disso é que pode entrar em funcionamento um 4.º ano”, o objetivo é submeter o projeto até março de 2025, para entrar em funcionamento no ano seguinte, com a abertura do Hospital Central e Universitário da Madeira. O dirigente madeirense defendeu que a abertura do 4.º ano também depende de um novo protocolo com o executivo madeirense, com a necessidade de um financiamento suplementar de 600 mil euros.

Conferência proferida por Jaakko Kaprio

Nature vs. nurture: explaining the relationship of physical activity with health – Jaakko Kaprio | 21 de abril de 2022 – anfiteatro n.º 2 (Campus da Penteada, Piso -2) –

Sobre o futuro, a Presidente da Faculdade de Ciências da Vida da UMa destaca que “o reconhecimento e a gratidão é algo muito importante e foi a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa que esteve sempre ao nosso lado e que permitiu que o Ciclo Básico de Medicina fosse florescendo, primeiro com os dois anos, depois com o terceiro e agora com as perspectivas dos próximos”, tendo a instituição da capital um papel fundamental para o alargamento dos anos curriculares do curso. Contudo, ao contrário do que o reitor afirmou ao DIÁRIO em dezembro de 2024, a Presidente da faculdade refere que entrega do plano de expansão do curso de Medicina da UMa para os outros anos “não ocorrerá” na data divulgada. “Estamos numa fase de muita instabilidade política, instabilidade social, estamos numa fase de muitos poucos recursos internos, recursos humanos fixos, quando eu quero dizer isto, docentes de carreira dentro da universidade”.

O curso de Medicina não teve um percurso fácil na UMa. Em outubro de 2004, o DIÁRIO noticiava que “a posição da Ordem dos Médicos contra a instituição não fez a reitoria fazer marcha-trás e, pelo contrário, o curso iniciou-se”. Desde então, o curso aumentou a sua oferta para o terceiro ano, permitindo aos estudantes completarem os três primeiros anos do Mestrado Integrado em Medicina na Madeira antes de prosseguirem para os anos clínicos em Lisboa. Entre 2004 e 2022, 573 estudantes frequentaram o curso de medicina na UMa. A Ordem tem mantido, em variadas situações, uma posição crítica e reticente em relação à abertura de novos cursos de Medicina em Portugal, tanto no ensino público quanto no privado chegando, em 2017, a defender, através do antigo bastonário e atual deputado Miguel Guimarães, que a inclusão de mais cursos de Medicina vai “diminuir a qualidade da medicina em Portugal”.

No verão de 2024, Sílvio Fernandes destacava a importância do curso: “Passaram mais de cem anos para voltarmos a ter o curso de Medicina na Madeira”, conforme indicou, ao portal ET AL., o historiador Timóteo Ferreira, na sua tese de doutoramento, a Escola Médico-Cirúrgica do Funchal foi criada em 1837 e extinta em 1910. A instituição, na Madeira, “foi um lugar de transmissão e de aquisição de conhecimentos e de práticas, em espaços próprios, conhecimentos e práticas”, explicou. No início do século XXI, em 2004, quando o curso tinha início, alguns estudantes estavam com reservas sobre o desafio. Sofia Silva, caloira do curso há mais de 20 anos, confessava ao DIÁRIO a sua reticência: “se fossemos para Lisboa, sempre saíamos deste «buraco»”, referindo que, apesar de gostar da UMa, “gostaria de estar na capital portuguesa”.

O estigma do curso pode ter continuado, mas no ano letivo 2024-2025, nenhum estudante oriundo de Portugal continental ficou colocado no curso de Medicina da UMa, ao contrário do que acontecia no passado. Para Rosa Henriques de Gouveia este estigma, “cada vez mais, está a ser ultrapassado”, “com todas as deficiências que se possa encontrar numa instituição, pois em todas há”, o investimento em Medicina na Universidade “é uma boa aposta”, destacando que os estudantes sentem confiança de iniciar o curso aqui. A Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior destacou, no relatório de 2023 da Comissão de Avaliação Externa, que o curso de Medicina possui “uma integração meritória dos estudantes da UMa” e “uma progressão positiva nomeadamente do 3.º ano”, além da “perceção de ser muito positiva”, pois os docentes e os estudantes “sentem que têm um nível de preparação adequada”.

A emissão tentou romper com outros estigmas como “a especialidade de Medicina Geral e Familiar só vai quem não tem média para uma especialidade considerada mais prestigiante” ou “a carreira de médico restringe-se a ir para um consultório passar receitas não existindo outro percurso de carreira para além desse”. Sobre como a Medicina interage atualmente com os pacientes, Maurício Melim defende que “temos de caminhar para o futuro e o futuro é o desafio. Estas consultas [inovadoras] e os médicos que estamos e que já estamos a formar há 20 anos são médicos que já pensam fora da caixa e a Academia é exatamente isto, para que as pessoas mudem o dia a dia”.

O PEÇO A PALAVRA discutiu o curso de Medicina da UMa, pois os estudantes pediram a palavra. O nome do programa tem origem na intervenção que tornou célebre o jovem líder estudantil em Coimbra Alberto Martins e espoletou a Crise Académica de 69. Trata-se de uma produção da TSF Madeira 100FM com a ACADÉMICA DA MADEIRA, transmitida em direto, quinzenalmente às quartas-feiras, com repetição na semana seguinte, e disponível em podcast, nas principais plataformas do mercado.

Luís Eduardo Nicolau
Com Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Pedro Pessoa.

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