Estudantes deslocados: uma realidade anual no curso de Medicina

Estudantes deslocados: uma realidade anual no curso de Medicina

À semelhança dos anos letivos anteriores, verifica-se, em 2022-2023, há um número considerável de estudantes deslocados no Ciclo Básico em Medicina na UMa.

O cenário repete-se: no presente ano letivo cerca de 41% dos alunos inscritos no Ciclo Básico em Medicina na Universidade da Madeira são estudantes deslocados. Provêm de diferentes localidades de Portugal Continental, desde Braga a Faro. Apesar da complexa adaptação a uma nova realidade, abraçam este desafio otimistas e com senso de conquista.

Um dos primeiros impasses que estes estudantes sentem é na procura de alojamento. Em condições ideais, o acesso a alojamento razoável e de fácil acesso à Universidade deveria ser a opção tomada por estes estudantes. Porém, a realidade é diferente. No momento após a divulgação das colocações, os que procuraram quartos na Residência Universitária verificam que tal alternativa não seria viável, dada a ausência de vagas.

Evitemos os burnouts académicos

Vivemos num tempo difícil marcado pela pandemia , por um grande conflito que envolve duas potências atómicas da Europa e com os aumentos dos preços dos produtos e sombra da

A maioria necessitou, num curto espaço de tempo, de procurar quartos ou casas para arrendar. De acordo com dados disponíveis no portal desenvolvido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Educação Superior, no concelho do Funchal, as rendas oscilam entre os 250 a 394 euros, sendo que uma renda para um quarto com despesas incluídas, mobilado e cozinha equipada ascende para a média de 350 euros por mês. Acrescentando o valor mensal do passe para acesso ao autocarro, além do valor da propina, torna-se evidente que a fixação na ilha acata um considerável esforço dos por parte destes alunos.

56% dos Estudantes nas Instituições do Ensino Superior em Portugal sofrem de alguma limitação no seu bem-estar psicológico

Simultaneamente, a ausência dos entes queridos, para alguns, vivenciada pela primeira vez e a autonomia forçada na tomada de decisões do seu quotidiano culminam no enfraquecimento do otimismo apresentado inicialmente. Sentimentos de desânimo e impotência quanto ao futuro implantam-se gradualmente, afetando a Saúde Mental destes alunos em particular. Num estudo recente coordenado pela Associação RYSE e pela Associação Nacional de Estudantes de Psicologia sobre a Saúde Mental dos Estudantes Universitários Portugueses, da amostra de 2084 inquiridos, 48% destes estudantes apresentavam “sintomatologia grave no foro psicológico (…), enquanto 8% apresentam sintomas moderados”. Relacionando os resultados obtidos para estudantes deslocados com a região do seu Estabelecimento de Ensino, o estudo indica que estes podem não ser “fatores que predominantemente influenciam o bem-estar psicológico dos estudantes universitários”. Porém, alertam os autores, os resultados obtidos são nitidamente inquietantes.

Em traços gerais, é evidente a dicotomia existente no acesso ao Ensino Superior por parte dos estudantes deslocados, em relação aos seus colegas locais. Mesmo após a sua adaptação, para a grande maioria, a sensação de fragilidade está presente ao longo do Ciclo Básico a realizar na Madeira. Torna-se assim, necessário, estabelecer medidas contínuas de apoio a estes estudantes, com o suporte robusto por parte da Instituição, como dos próprios colegas. É de mencionar que, felizmente, para muitos, encontraram na ilha o seu novo lar.

Tiago Almeida
ET AL.
Com fotografia de Luiz Fernando Maciel.

Palavras-chave