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Vocação e escolha de vida na música

Vocação e escolha de vida na música

O Diário de Notícias da Madeira recebe um espaço de opinião com o painel do PEÇO A PALAVRA, uma produção da ACADÉMICA DA MADEIRA na TSF MADEIRA. Neste episódio, o tema foi a música.

A música é uma vocação para muitos. Porém, construir uma carreira nesse meio é um desafio sobretudo num mercado pequeno como é o do nosso país e os desafios trazidos pelas novas tecnologias. A instabilidade financeira e a necessidade de adaptação tornam essencial a resiliência dos músicos. Apesar das diversas carreiras possíveis no mundo do espetáculo musical, muitos acumulam funções devido à precariedade das profissões neste nicho cultural.

Os músicos podem atuar como professores, maestros, compositores, membros de bandas ou orquestras, organizadores de eventos ou músicos independentes. A maioria deseja atuar e viver da sua arte, mas o ensino surge como uma alternativa estável. A realidade do setor empurra muitos para múltiplas outras ocupações, combinando a criação musical com atividades complementares para garantir sustento.

Com a digitalização, surgem novas oportunidades e desafios. As redes sociais e outros meios de comunicação permitem que artistas alcancem maior visibilidade, enquanto a música de rua continua a ser um espaço autêntico de expressão. Mas será que todas essas funções permanecerão no futuro? O desejo de criar música sempre existirá, mas o mercado exige adaptação constante.

Na Madeira, organizar eventos é um desafio. O público está habituado a consumir cultura gratuitamente e a preferir os grandes arraiais. Isso dificulta a valorização de projetos independentes, exigindo inovação dos organizadores para garantir espaço a novas propostas musicais.

Assim como o desporto, a música pode ser uma ferramenta de bem-estar. Estudantes de qualquer área beneficiam da disciplina, criatividade e resiliência adquiridas na aprendizagem musical. Muitos ainda defendem que tocar um instrumento envolve o emocional, o intelectual e a relação física entre o que pensamos e sentimos. Esse processo torna a música um exercício profundo de autodescoberta.

A pressão e a competitividade no meio musical são enormes. Como disse Pedro Abrunhosa, no documentário Viagens, “um artista tem sempre de conquistar o seu público”. O sucesso não depende apenas do talento, mas também da capacidade de cativar e criar conexão com a audiência.

O consumo de música mudou com as plataformas digitais. O acesso facilitado trouxe novas oportunidades, mas também dificuldades para os artistas, que enfrentam remunerações injustas e a necessidade de se adaptar a um mercado cada vez mais voltado para músicas curtas e virais.

Em relação à língua, os artistas portugueses tendem a cantar em inglês para alcançar mercados internacionais. Mais recentemente, o espanhol ganhou espaço devido à influência da música latina. Outras línguas, porém, ainda são pouco exploradas, limitando a diversidade cultural na música contemporânea.

Apesar dos desafios, a música continua a ser uma forma essencial de expressão e identidade. Cabe aos músicos e às estruturas culturais garantir que essa vocação possa ser sustentável e reconhecida.

Francisco Afonseca
Secção de Política do Ensino Superior da ACADÉMICA DA MADEIRA
Com fotografia de Priscilla du Preez.

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