O PEÇO A PALAVRA aborda a importância e o papel do desporto na saúde mental e no bem-estar dos estudantes. O desporto, por vezes visto como apenas uma distração ou uma atividade extracurricular, apresenta um papel preponderante na vida dos estudantes universitários, contribuindo para a redução do stress e da ansiedade.
No painel desta emissão estão Vítor Vasconcelos, estudante de licenciatura em Educação Física e Desporto e Vice-Presidente da Direção da Académica da Madeira, e Henrique Santos, estudante da licenciatura em Design e Presidente da Mesa da Assembleia-geral da Académica da Madeira. Os convidados são Ricardo Alves, licenciado em Educação Física e Desporto na Universidade da Madeira e doutorado em Ciências do Desporto na Universidade do Porto, e Tiago Sousa, licenciado em Educação Física e Desporto na Universidade da Madeira, CEO e fundador da BoxLab e ainda especializado em performance desportiva pela EXOS.
O desporto em Portugal é frequentemente visto como uma atividade secundária, sendo desvalorizado em relação a outros setores como a educação e a cultura. Esta marginalização reflete-se na falta de investimento consistente e na ausência de uma cultura desportiva enraizada, especialmente fora do contexto profissional.
De acordo com o Eurobarómetro de 2022, apenas 22% dos portugueses praticam desporto regularmente, comparado com a média europeia de 66%. A inatividade física custa anualmente à economia portuguesa cerca de 900 milhões de euros, além de representar um aumento de 569 milhões de euros em despesas de saúde pública, segundo dados da consultora Deloitte, que também estima que a falta de atividade física resulta numa perda estimada de 1,44 mil milhões de euros no Produto Interno Bruto (PIB) devido à diminuição da produtividade laboral.

Manual de primeiros socorros psicológicos
A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa lançou o “Manual de Boas Práticas em Primeiros Socorros Psicológicos” para capacitar a comunidade académica a intervir em situações de crise psicológica.

Estudante da UMa entre os convocados para o Mundial Universitário de Canoagem
Nos próximos dias 21 a 24 de agosto, em Montemor-o-Velho, ir-se-á realizar o Campeonato Mundial Universitário de canoagem e, entre os
Mas a prática desportiva tem-se mostrado resistente. Dados do IPDJ mostram que, entre 1996 e 2024, o número de praticantes federados mais do que duplicou, passando de 265.588 para 773.800 pessoas. No entanto, o financiamento público por praticante reduziu-se de 105,94 euros, em 1996, para 60,37 euros, em 2023, ajustado pela inflação. O financiamento público não tem sido forte no desporto.
No Orçamento do Estado (OE) para 2025, o Governo português alocou 54,5 milhões de euros ao setor do desporto, representando um aumento de 8,3% em relação aos 50,3 milhões destinados em 2024. Adicionalmente, em dezembro de 2024, o Governo anunciou um investimento adicional de 65 milhões de euros num programa plurianual para o desporto até 2028, complementando a verba inscrita no OE para 2025. Ainda assim, o valor inicial representa cerca de 0,02% do PIB nacional. Este valor é significativamente inferior ao de outros países que dão maior prioridade ao desporto como fator de desenvolvimento social e económico. Embora os municípios invistam uma parte considerável das suas verbas no desporto (307,2 milhões de euros em 2020, cerca de 0,12% do PIB), o financiamento permanece insuficiente para garantir instalações de qualidade acessíveis em todo o país.
Os benfícios da prática desportiva podem ser comprovados pela ciência. A prática regular de atividade física reduz significativamente o risco de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes tipo 2 e alguns tipos de cancro, como o da mama e do cólon, além de promover melhorias na saúde mental, reduzindo sintomas de ansiedade e depressão, conforme destacado pela Organização Pan-Americana da Saúde. Estudos indicam ainda que o exercício contribui para o fortalecimento de ossos e músculos, prevenindo a osteoporose e melhorando a funcionalidade física. A manutenção de um peso saudável, a melhoria da capacidade cognitiva e a redução do risco de declínio mental em idades avançadas são outros benefícios comprovados. A Organização Mundial da Saúde sublinha que qualquer quantidade de atividade física é benéfica, promovendo uma melhor qualidade de vida.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2022, 45,2% da população portuguesa entre os 18 e os 69 anos praticou atividade desportiva, enquanto 50,4% realizou exercício físico nos últimos 12 meses. No entanto, apenas cerca de um terço destes indivíduos o fez de forma regular (5 ou mais vezes por semana) ou com alguma regularidade (1 a 4 vezes por semana). As principais razões apontadas pelos não praticantes foram a falta de tempo (42,5%) e a falta de interesse ou gosto pela prática desportiva (27,3%).
As nações com indicadores mais positivos estão nas áreas mais frias do continente europeu com os países nórdicos a apresentar as taxas mais elevadas de atividade física regular. Na Finlândia, 71% dos inquiridos relataram praticar desporto ou atividade física pelo menos uma vez por semana, seguida pela Suécia com 69% e pela Dinamarca com 68%. Em contraste, os países do sul da Europa registam níveis mais baixos de prática desportiva regular. Em Portugal, apenas 17% dos cidadãos indicaram praticar desporto ou atividade física pelo menos uma vez por semana, enquanto 73% afirmaram nunca o fazer, valores apurados pelo Eurobarómetro Especial 525 da Comissão Europeia (CE) que se mostram piores do que os do INE. Situação semelhante é observada na Grécia, onde 68% dos inquiridos nunca praticam atividade física, e na Itália, com 60%.
De acordo com o estudo da CE, as principais razões para a baixa prática de desporto na União Europeia (UE) incluem a falta de tempo, mencionada por 41% dos inquiridos, seguida pela falta de motivação ou interesse (25%) e questões de saúde ou incapacidades (19%). Além disso, 13% apontaram os custos financeiros como uma barreira, sobretudo nos países do sul e leste da Europa, enquanto 10% destacaram a ausência de infraestruturas ou espaços adequados, especialmente em áreas rurais. Estes dados evidenciam a necessidade de políticas que abordem tais obstáculos, tornando o desporto mais acessível e incentivando à sua prática regular.
As principais razões para a prática de desporto, apontadas pelo estudo europeu, incluem a melhoria ou manutenção da saúde, indicada por 54% dos inquiridos, e o aumento do bem-estar e redução do stress, mencionados por 40%. Além disso, 36% responderam que procuram melhorar a forma física e a resistência, enquanto 27% destacaram o desporto como uma forma de diversão e lazer. Por fim, 14% destacaram a socialização e o convívio como motivações principais, evidenciando que a prática desportiva é impulsionada tanto por benefícios físicos e mentais como pelo seu valor recreativo e social.
Quando pensamos no desporto é inegável a força financeira que existe no setor, ainda que restrita a algumas modalidades. O desporto desempenha um papel significativo na economia da UE, contribuindo de forma expressiva para o crescimento económico, a criação de emprego e a inovação. O setor desportivo está associado ao desenvolvimento de competências interpessoais e ao aumento das redes de contactos, fatores que promovem a empregabilidade e a inclusão social. Além disso, o desporto influencia positivamente outros setores económicos, como a indústria transformadora, as tecnologias de informação, a saúde, a educação, o turismo e o lazer, posicionando-se como um motor de crescimento e inovação. É inegável que o impacto económico do setor é considerável, justificando a necessidade de políticas que incentivem o seu desenvolvimento e maximizem os benefícios económicos e sociais associados.
O setor desportivo na Europa gera aproximadamente 294 mil milhões de euros anuais, representando cerca de 2,12% do PIB da UE, e suporta aproximadamente 5,67 milhões de empregos, o que equivale a 2,72% da força de trabalho na UE, segundo a Comissão Europeia no relatório “Sport as a driver for economic growth and job creation”. Além disso, o turismo desportivo contribui significativamente para as economias regionais, com eventos de grande dimensão, como a Liga dos Campeões da UEFA e os Jogos Olímpicos, a impulsionar as receitas em múltiplos setores, conforme estudos do Parlamento Europeu sobre o impacto económico do turismo e dos eventos desportivos. O impacto do desporto estende-se ainda a áreas como a indústria transformadora (equipamentos desportivos), o retalho, a saúde e a tecnologia, destacando-se como um motor de crescimento económico e de emprego, segundo o Eurostat no relatório “Reports on employment and GDP contribution by the sports sector”.

Inauguração da árvore de Natal comunitária
A Universidade da Madeira inaugurou a sua Árvore de Natal Comunitária, promovendo sensibilização para a saúde mental através de mensagens criativas e um programa musical protagonizado pela comunidade académica.

De regresso à universidade e ao “stress”
Sejam bem-vindos a toda a agitação da vida académica; ao (re)encontro com colegas e professores, com trabalhos e exames; à necessidade
Em Portugal, segundo o INE, em termos de emprego no setor desportivo, em 2023, registaram-se 45,6 mil pessoas empregadas nesta área, representando um aumento de 5,6% em relação a 2022. A remuneração bruta total mensal média por trabalhador no setor foi de 1.461 euros, abaixo da média nacional de 1.505 euros. Destaca-se que as atividades dos clubes desportivos apresentaram a maior remuneração média (2.713 euros), enquanto o ensino desportivo e recreativo registou o valor mais baixo (931 euros).
O desporto desempenha um papel crucial na promoção da saúde e promovendo o bem-estar geral da população. Contudo, enfrenta desafios significativos em termos de financiamento público. Esta limitação reflete-se na insuficiência de infraestruturas, na dificuldade de acesso a programas desportivos inclusivos e na baixa taxa de prática desportiva regular entre os portugueses. Para superar estes obstáculos, é essencial aumentar o investimento público e privado, promover programas acessíveis e inclusivos para diferentes faixas etárias e condições, e fomentar uma cultura desportiva que reconheça o desporto como um pilar fundamental da saúde pública e do desenvolvimento social e económico do país.
O PEÇO A PALAVRA aprofunda o papel do desporto na saúde mental, pois os estudantes pediram a palavra. O nome do programa tem origem na intervenção que tornou célebre o jovem líder estudantil em Coimbra Alberto Martins e espoletou a Crise Académica de 69. Trata-se de uma produção da TSF Madeira 100FM com a Académica da Madeira, transmitida em direto, quinzenalmente às quartas-feiras e disponível em podcast, nas principais plataformas do mercado.
Vítor Vasconcelos
Com Carlos Diogo Pereira
e Luís Eduardo Nicolau.
ET AL.
Com fotografia de Henrique Santos.