A crescente dificuldade de leitura profunda entre estudantes de faculdades de prestígio nos Estados Unidos tem chamado a atenção de professores e especialistas. O artigo “The Elite College Students Who Can’t Read Books”, publicado na edição de novembro de 2024 da revista The Atlantic, relata que muitos estudantes chegam às universidades sem terem lido uma obra completa durante o ensino secundário. A autora destaca que “a ênfase em excertos curtos e textos informativos, promovida pelos currículos escolares modernos, substituiu a leitura de livros inteiros, prejudicando a formação académica e intelectual dos jovens”.
Entre as causas apontadas, o texto menciona o impacto das reformas educacionais, como o No Child Left Behind e o Common Core, que priorizam o desempenho em testes padronizados. Essa abordagem, segundo o artigo, “relegou a leitura de longa duração a um plano secundário, focando mais em habilidades técnicas do que no desenvolvimento da capacidade de reflexão crítica”. Além disso, a constante distração causada por telemóveis e outras tecnologias digitais tem dificultado a concentração necessária para a leitura profunda.
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Os efeitos desse fenómeno são observados em sala de aula, onde professores relatam uma redução no vocabulário e na capacidade dos seus estudantes de se envolverem com textos desafiadores. Nicholas Dames, professor na Universidade de Columbia, é citado ao notar que “os estudantes estão cada vez menos preparados para enfrentar leituras exigentes, obrigando os professores a ajustarem as suas expectativas e a reduzirem a carga de leitura nos programas de estudo”.
Apesar do cenário preocupante, o artigo publicado na The Atlantic enfatiza que o problema não é insolúvel. Reformas que valorizem a leitura integral de livros e iniciativas para minimizar o impacto das distrações tecnológicas podem ajudar a reverter esta tendência. Conforme o texto, “a leitura profunda é uma habilidade essencial, que exige prática e um ambiente favorável para ser cultivada”.
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Comparando esta realidade com o relatório do Book 2.0, observa-se que, em Portugal, também há preocupações semelhantes. O relatório destaca a necessidade de “repensar novas e mais fortes políticas para o país, num caminho de persistência e resiliência para preservar o nosso legado e sabedoria”. Enfatiza, também, a importância de “novas formas de olhar para a educação” e a promoção da “literacia financeira num país que tem cerca de dois milhões de portugueses em situação de pobreza”.
Ambos os contextos sublinham a urgência de estratégias que incentivem a leitura profunda e contínua, reconhecendo os desafios impostos pelas tecnologias digitais e pelas mudanças nos currículos educacionais. Tanto nos Estados Unidos quanto em Portugal, parecer ser fundamental implementar políticas que promovam a leitura integral de obras e desenvolvam a capacidade crítica dos estudantes, assegurando que a próxima geração esteja preparada para enfrentar as complexidades do mundo contemporâneo.
Luís Eduardo Nicolau
Com Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Clay Banks.