“Será que as instituições estão preparadas para lidar com as suas especificidades?” O Ensino Superior enfrenta novos desafios

“Será que as instituições estão preparadas para lidar com as suas especificidades?” O Ensino Superior enfrenta novos desafios

DESAFIOS PARA O ENSINO SUPERIOR - volume III é uma obra que pensa a Academia, a investigação e a formação e as problemáticas que lhes colocam no mundo moderno.

DESAFIOS PARA O ENSINO SUPERIOR – volume III, debruça-se, entre outras questões, na globalização do Ensino Superior que “tem instaurado uma crescente competição à escala mundial pela captação de docentes, estudantes e investigadores, bem como pela angariação de financiamento”.

BioBlitz na Ponta de São Lourenço

A delegação da Madeira na Sociedade Portuguesa para o Estudo da Aves (SPEA Madeira) apresenta o segundo BioBlitz do nosso arquipélago na Ponta de São Lourenço. A atividade será no dia 20 de abril, a partir das 17.30 e é gratuita.

As sociólogas Maria Manuel Vieira, investigadora principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e Lia Pappámikail, docente e investigadora do Instituto Politécnico de Santarém, são as coordenadoras do terceiro volume da coleção 31 DESAFIOS, iniciada há cinco anos, por ocasião dos 30 anos da UMa.

Como veem o vosso contributo para o terceiro volume desta proposta editorial – DESAFIOS PARA O ENSINO SUPERIOR – que nasceu da vontade de celebrar os 30 anos da Universidade da Madeira?

O nosso contributo para este terceiro volume difere dos anteriores pelo facto de ter assumido um conteúdo mais focado, menos disperso, e deixar mais espaço para os autores poderem desenvolver extensivamente os seus argumentos. Nesse sentido, em vez de coligirmos 31 ensaios curtos, cobrindo múltiplas áreas desafiantes do ensino superior, como foi prática nos volumes anteriores, optámos por eleger 3 tópicos (Periferias, Trânsitos, Resiliências) organizadores dos contributos dos vários autores. Privilegiámos, pois, o aprofundamento temático em detrimento da diversidade de tópicos. Não obstante, mantivemos a pluralidade de perspectivas, de áreas disciplinares e de origens de filiação institucional dos autores participantes nesta coletânea, que é desde o início apanágio desta coleção.

Na vossa introdução, referem que este volume aborda «um conjunto específico de (in)visibilidades emergentes a merecer debate e questionamento». Apesar da complexidade dos temas, gostaríamos de vos pedir, resumidamente, alguns exemplos destas «(in)visibilidades» para que os nossos leitores possam ter um melhor conhecimento da obra.

Uma das (in)visibilidades emergentes abordadas na obra decorre das alterações demográficas observadas na sociedade portuguesa. Se até há pouco as instituições de ensino superior eram alimentadas por uma procura induzida pelo aumento da escolaridade obrigatória até ao final do ensino secundário, hoje debatem-se com dificuldades de recrutamento de estudantes para a totalidade das vagas oferecidas, sobretudo em zonas de menor densidade demográfica.

A necessidade de captar estudantes internacionais para colmatar esse desafio, mas também como indicador reputacional de cada instituição coloca, pois, novos desafios às instituições de ensino superior portuguesas, não apenas linguísticas, mas de ajustamento curricular, de apoios adicionais, até de (re)organização do calendário letivo. Este constitui, de facto, uma (in)visibilidade emergente, até há pouco quase ignorada nas reflexões sobre o ensino superior português.

Por último, destaca-se na obra uma (in)visibilidade emergente decorrente do facto de mais estudantes, com o que durante muito tempo se convencionou chamar “necessidades educativas especiais”, acederem hoje ao ensino superior. Será que as instituições estão preparadas para lidar com as suas especificidades?

A condição das universidades de regiões ultraperiféricas torna-as mais vulneráveis, tendo em conta as «(in)visibilidades emergentes» enunciadas?

Esta obra permite concluir que, se por um lado, as universidades de regiões periféricas (no Continente) e ultraperiféricas (nas Regiões Autónomas) são mais vulneráveis ao contexto de concorrência, à escala nacional e global, entre instituições para captação de recursos financeiros e humanos, por outro lado, como um dos textos demonstra, podem constituir-se à escala local como um importante, quando não único, recurso científico determinante para a promoção de conhecimento e desenvolvimento local, em parceria com os demais protagonistas locais.

As redes estabelecidas em torno da resolução de problemas específicos dos territórios podem constituir-se como embriões de centros de investigação altamente especializada, com forte ligação ao tecido empresarial, cujo reconhecimento nacional e internacional pode constituir-se como (novo) fator de atração.

Na vossa opinião, que novos papéis podem ter as Associações Académicas no apoio aos alunos neste contexto de novos desafios?

As Associações Académicas (AA) sempre tiveram e continuam a ter um importante papel na promoção da integração de novos alunos. Sabe-se como o 1.º ano do ensino superior constitui para os estudantes um enorme desafio pedagógico, académico, organizativo e até de estilo de vida, razão pela qual se concentram aí os casos de insucesso, transferência e/ou desistência dos estudos.

A diversidade acrescida de públicos que hoje frequenta o ensino superior requer, pois, o desenvolvimento de programas de mentorias por parte das AA no sentido de acolhimento e orientação dos seus novos pares, ao longo do percurso académico.

O modelo dos buddies em prática nas organizações dedicadas aos estudantes Erasmus (exemplo:Erasmus Student Network) é disso um exemplo. Por outro lado, se o primeiro ano é uma etapa crítica, o restante percurso académico também acarreta os seus desafios.

As AA podem assim desempenhar um papel importante na promoção do bem-estar e saúde mental dos estudantes, eventualmente através da sinalização e encaminhamento de situações problemáticas ou da dinamização cultural e social da massa estudantil com vista ao reforço dos sentimentos de pertença e inclusão que são tão importantes, nomeadamente, para o sucesso educativo.

Entrevista conduzida por Timóteo Ferreira.
ET AL.
Com imagem da capa da obra com o design de Pedro Pessoa.

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