Com a cabeça na Lua!

Com a cabeça na Lua!

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Luna e o Bochechinhas, o livromante, são personagens criadas por Andreia Baptista e que têm feito as delícias das crianças da Madeira. No início de 2023, a escritora faz o balanço da receção do seu primeiro livro e fala de projetos futuros.
Ilustração de LUNA! OUTRA VEZ NA LUA?! de Andreia Baptista e Teresa Vieira.

Neil Armstrong foi das poucas pessoas a quem a expressão “andar com a cabeça na Lua” pode ser aplicada literalmente. Contudo, é possível que, num sentido figurativo, andar com a cabeça na Lua também é importante no desenvolvimento cognitivo da criança.

Andreia Baptista, tem dedicado a sua vida às crianças, aos livros e às bibliotecas e publicou, com a Cadmus, LUNA! OUTRA VEZ NA LUA?!, ilustrada por Teresa Vieira. Esta é uma história para ajudar a desenvolver o gosto pela leitura e pelo livro nos mais pequenos. Para 2023, a escritora apresenta uma nova obra com Teresa Vieira, AI! SE EU FOSSE ZEUS, também editada pela Cadmus.

Seis meses depois da publicação de OH LUNA! OUTRA VEZ NA LUA!, qual tem sido retorno dos leitores?

Ao longo destes seis meses após a publicação do meu primeiro livro Luna! Outra vez na lua?!, o retorno tem sido deslumbrante. É muito bom ouvir uma mãe a dizer que a filha de três anos agora abre outros livros à procura do seu Livromante. É enternecedor receber fotografias de crianças, aconchegadas com mantinhas, a ler uma história que me deu tanta alegria escrever. É tão bom sentir o espanto das pessoas no final da história: “Que giro! Não estava nada à espera disto!”. É motivante ouvir perguntar “Quando chega uma nova aventura da Luna?”.

Tem sido simplesmente maravilhoso apresentar o livro nas escolas e sentir tantos olhares curiosamente alegres conforme as pontinhas do véu se vão levantando. Enfim, tem sido mesmo muito gratificante poder partilhar uma história nascida e criada no meu coração.

Que importância tem incluir a participação de crianças na dinâmica da/das apresentação/sessões de leitura do livro?

Na minha opinião, é extremamente importante incluir crianças nas apresentações de livros e nas sessões de leitura porque, ao envolvê-las, estamos a introduzi-las no enredo sem que elas se apercebam disso. Estamos a conquistá-las para o mundo do livro, da magia e dos sonhos. Estamos a estimular a curiosidade, a criatividade e a desenvolver a capacidade de se expressar em público.

Julgo também ser muito importante fazer com que a plateia (seja ela constituída por miúdos ou graúdos) seja convidada a entrar nas histórias que estão a ser apresentadas. Fazer com que todos sintam que fazem parte da narrativa. Quando nos sentimos envolvidos, podemos agir com o coração e o mundo à nossa volta fica mais bonito.

Que desafios a literatura para a Infância enfrenta na Madeira?

O desafio mais falado é o facto de os livros terem de competir com as novas tecnologias… Não o menosprezo… mas acho que é possível usar as tecnologias como aliadas, em vez de as olharmos como inimigas. Requer entrega e imaginação? Sim, sem dúvida! Mas, como diz Zeus, “o melhor caminho nem sempre é o mais fácil.”

No entanto, existe outro desafio que começa a ser encarado e uma luz ao fundo do túnel começa a surgir, principalmente com o apoio da Associação Académica. Há pouco investimento a nível nacional em autores madeirenses. O que é uma pena! Por termos nascido ilhéus não significa que não tenhamos dotes para a escrita ou para as outras artes.

É verdade que, felizmente, a oferta e a qualidade de livros denominados “infantojuvenis” tem crescido (e muito) nos últimos anos. No entanto, a maior parte das novidades, que até então chegam até nós, vem de fora. Isto é, temos uma enorme quantidade de livros de autores estrangeiros (traduzidos para português) à venda nas nossas livrarias. A presença de livros de autores portugueses também não é escassa. Mas no que toca a escritores madeirenses talvez não possamos dizer o mesmo.

É muito importante dar espaço a autores madeirenses. O contacto entre as crianças|os jovens e aqueles que escreveram e ilustraram a história que irão ler é crucial na motivação para a leitura. A parceria com escritores é um forte apoio para as escolas e para as bibliotecas, sejam elas escolares, públicas, municipais ou regionais. Eu acredito que quanto maior for o leque de autores madeirenses maior será o número de leitores.

O que é que os leitores podem esperar de AI! SE EU FOSSE ZEUS…, a editar em 2023?

Ai! Se eu fosse Zeus narra uma história de animais com características bem diferentes uns dos outros: uns pequeninos outros grandes, uns fofinhos outros rebeldes, uns melodiosos outros deliciosos… Se, pelo caminho, encontrarem algumas semelhanças connosco, ou seja, com o ser humano, será pura coincidência (ou não?!).

Ao percorrer os cenários deste livro, poderão conhecer o reino Olindo, sendo possível relaxar no vale Adónis, contemplar a beleza do jardim Jacinto ou deixar-se render pela imponência da cidade Minerva… Se, ao passar alguma página, encontrarem alguma semelhança com as paisagens da Pérola do Atlântico será pura coincidência (ou não?!).

Este é um conto onde o número três assume uma grande importância, não fosse “Três a conta que Zeus fez!”… ou será antes “Três é a conta que Deus fez!”?!

Sendo eu uma pessoa que acredita que os livros são capazes de mudar uma pessoa (para melhor, claro!), esta é uma história que apela à reflexão e que pretende “trazer à baila” alguns valores que, apesar de não serem novidade, na azáfama do dia a dia, são muitas vezes esquecidos.

Entrevista conduzida por Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com ilustração de Teresa Vieira.

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