Na sessão de abertura, o Reitor da Universidade do Minho, Rui Vieira de Castro, referiu que o “nosso país conheceu um desenvolvimento notável do Ensino Superior”, com mais de metade dos jovens, em condições etárias de estarem no Ensino Superior, matriculados. Portugal, segundo o dirigente, aspira a ter 60% da população nessa faixa de idades com qualificação superior. Para isso, considera que é fulcral “criar melhores condições para a permanência e o sucesso”, sendo importante a inovação pedagógica na relação ensino-aprendizagem.
O seminário reuniu, remotamente, mais de 200 participantes em direto.
Por sua vez, o Secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira, destacou uma intervenção de Lee S. Shulman, antigo Presidente da Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching.
“No que diz respeito à qualidade da pesquisa, tendemos a avaliar o corpo docente da mesma forma que o guia Michelin avalia os restaurantes”, segundo o antigo dirigente, “Perguntamos: «Qual é a qualidade desta cozinha em relação ao género de comida? Quão excelente é?”. Sobre o ensino, Lee S. Shulman considerava que a avaliação é feita mais no estilo de um Conselho de Saúde. A questão é: “É seguro comer aqui?”.
O governante observou “um passado de insuficiente atenção” para com fenómenos como o abandono escolar, sendo que existe um passo necessário de recolha de informação e “como usamos a informação que recolhemos e como somos capazes de intervir”.
Na primeira parte do seminário, moderado pela Provedora do Estudante da UM, foi apresentado o projeto Análise preditiva para promoção do sucesso do Estudante e combate ao abandono escolar (CDAP@UP), da Universidade do Porto (UP).
Pedro Strecht, investigador da UP, apresentou um “sistema de modelos preditivos para permitir aos órgãos de gestão” identificar fenómenos de abandono, de insucesso e ambos. Os investigadores começam por uma caracterização da sua amostra através dos dados do Sistema de Gestão Académica da universidade. A previsão do abandono é apresentada em mapeamento com uma pontuação de abandono, em que 1 é extremamente elevado e 0 corresponde a extremamente baixo. Depois a pontuação é convertida num sistema de cores (vermelho, amarelo e verde) para tradução do risco. Essa escala existe, a título de exemplo, por aluno e por unidade curricular. Nas próximas etapas técnicas do projeto existe o desafio de desenvolver a interface, de melhorar a qualidade dos modelos e de consolidar a execução de testes.
Para a Ministra, o objetivo do governo passa pela promoção de um programa assente na figura do tutor e do mentor.
O assessor da reitoria da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Arsénio Reis, apresentou o projeto de Tutoria assistida por inteligência artificial (EDU.IA). O grupo de trabalho utilizou os dados de 15 anos dos alunos. Os desafios do projeto estão relacionados com os dados: diferentes formatos, não estão sistematizados, não há processo de gestão de dados e, apenas os dados do sistema de gestão académica, são fiáveis. Por isso, o responsável indica ser fundamental assegurar a qualidade, os processos institucionais de gestão e procurar a uniformização dos modelos de dados.
Do Observatório Permanente do Abandono e Promoção do Sucesso Escolar, do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (OPAS), Joaquim Gonçalves reforçou os objetivos iniciais do projeto: dois modelos de Inteligência Artificial, um para classificar o risco de abandono e outro para prever o risco de abandono. O investigador partiu de um desafio de combinar diferentes variáveis (demográficas, académicas, financeiras,…), entre os anos letivos 2014-2015 e 2019-2020. A amostra foi feita com os dados desse intervalo dos cursos profissionais, das licenciaturas e dos mestrados do Instituto. No fim, Joaquim Gonçalves referiu “não trago conclusões”, pois acredita que neste momento têm a informação certa para começar a trabalhar para os alunos.
Pela primeira vez o relatório Education at a Glance é apresentado em Portugal.
No debate aberto ao público, Alexandre Santos, da UM, apresentou preocupações sobre a conformidade da coleta de dados com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados: Os dados são voluntários? Os alunos têm conhecimento? Depois, quem acede aos dados? Ana Gabriela Cabilhas, da Federação Académica do Porto, referiu a dificuldade em ter acesso aos dados para compreensão do fenómeno.
Após a apresentação, na segunda parte do evento, de vários projetos e boas práticas em mentoria e tutoria, a Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, apresentou um programa para o financiamento de projetos de promoção do sucesso do Estudante e de combate ao abandono escolar. A governante destacou a importância das boas práticas apresentadas, referindo que “tudo o que vimos aqui deveria ser estendido para todas as IES”.
Seria útil “fazermos uma comparação do impacto destes programas” com outras realidades europeias. – Elvira Fortunato
A Ministra referiu que, nos países da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, 21% dos estudantes não estão licenciados ou inscritos em qualquer programa do Ensino Superior, ao fim do 3.º ano de inscrição. Isso significa, segundo observou a governante, que 21%, em média, abandona o ensino. Em Portugal, esse número é de cerca de 12%.
Citando dados do InfoCursos, Elvira Fortunado referiu que, em 2014-2015, 10,5% dos alunos já não se encontravam no sistema de Ensino Superior um ano após iniciar o seu curso. Em 2020-2021, ano letivo do início da pandemia, esse indicador chegou aos 10,8%.
Para reforçar o compromisso do governo, a Ministra anunciou o investimento de 7 milhões de euros para prevenção e combate ao insucesso e ao abandono escolar, garantido pelo Fundo Social Europeu, referindo o “objetivo de estimular o desenvolvimento de mecanismos de apoio à integração académica dos novos estudantes e à promoção do seu sucesso” pela adopção de práticas inovadoras de ensino e aprendizagem.
Como foi anunciado no final do seminário, dado que esse financiamento é garantido pelo Fundo Social Europeu, apenas são elegíveis as operações nas regiões de convergência (Norte, Centro e Alentejo). A ET AL. pediu esclarecimentos ao ministério sobre a possibilidade das regiões autónomas estarem excluídas do acesso ao programa.
Exclusão das regiões autónomas promete protestos dos parlamentares e das universidades
A UMa, em resposta ao pedido de esclarecimento da ET AL., indicou que não recebeu informações sobre alguma limitação de acesso.
Esta semana, a deputada Sara Madruga, do PSD-M, referiu que era “inadmissível que o governo da República volte a excluir as Regiões Autónomas de um programa de apoio”. Em declarações ao Diário de Notícias da Madeira, a parlamentar social-democrata deu nota que seria entregue um protesto sobre essa matéria.
A sessão completa de apresentação pode ser assistida aqui, no canal da UM.
Luís Eduardo Nicolau
ET AL.
Com fotografia de Jewish Thomas.