Algumas das causas conhecidas do declínio da biomassa e diversidade de insetos são incansavelmente discutidas como o uso de pesticidas, perda ou fragmentação de habitat, introdução de espécies exóticas e alterações climáticas. O projeto LIFE Natura@night tem como um dos seus objetivos reduzir o impacto de uma outra grande causa, largamente negligenciada: a poluição luminosa.
Pouco sabemos sobre os insetos, na verdade. É comumente conhecido que representam o grupo mais diverso de organismos existente, porém apenas 1.2% de cerca de 1 milhão de insetos descritos passaram pelo processo de avaliação de risco de extinção conforme a Lista Vermelha da IUCN. Adicionalmente, existem estimativas de que a Terra possa abrigar até 10 milhões de espécies de insetos, o que evidencia consideravelmente a magnitude da falta de conhecimento existente sobre este grupo.
A ordem Lepidoptera constitui a segunda maior ordem de insetos em termos de diversidade, que inclui as borboletas diurnas e noturnas. As borboletas noturnas representam 88-91% de todos os lepidópteros e são mais diversificadas do ponto de vista ecológico e taxonómico do que as borboletas diurnas, e prestam serviços dos ecossistemas essenciais, sendo indicadores da qualidade dos habitats.
O (des)investimento na Investigação
As universidades e os seus centros de investigação destacaram-se no quadro da pandemia pela sua importância na resolução deste flagelo mundial. A comunidade científica, através das várias áreas do conhecimento,
Um doutoramento em Ciências Biológicas que “pode ser atraente para estudantes de outros países da União Europeia”
Biólogos, químicos, bioquímicos, professores de ciências naturais são alguns dos profissionais que constituem o público-alvo do Doutoramento em Ciências Naturais aberto
Embora a entomofauna da Macaronésia exiba um elevado grau de endemismos, a informação disponível sobre o impacto da poluição luminosa nas suas espécies é muito limitada. O LIFE Natura@night tem como um dos seus objetivos contribuir para o preenchimento do conhecimento em falta, atualizando o inventário de espécies noturnas em locais da Rede Natura 2000, distribuídos pelos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias e avaliando o impacto da luz artificial noturna na vida destes animais.
Este projeto passou por uma série de colheitas noturnas sistemáticas que tiveram lugar em múltiplos pontos da Rede Natura 2000, usando armadilhas luminosas e cordas embebidas numa solução açucarada para espécies sem fototropismo positivo. Estas colheitas permitiram a identificação e quantificação das espécies existentes que possam ser afetadas pela luz artificial noturna para que, posteriormente, possa ser monitorizado o efeito da implementação de medidas de mitigação da poluição luminosa na diversidade e quantidade de insetos afetados. Apenas na Madeira, foram coletados cerca de 12 mil exemplares, na sua maioria borboletas noturnas.
Além de abordar o impacto direto que a luz artificial noturna terá sobre estes animais, os dados aqui obtidos também poderão contribuir de uma forma holística, uma vez que os insetos desempenham papéis fundamentais no ecossistema. Estima-se que cerca de um terço dos insetos atraídos por luzes artificiais fixas morrem por exaustão ou exposição à predação, mesmo antes da madrugada. Em adição a este declínio diário, surgem outras dificuldades como a perturbação de comportamentos naturais dependentes do ciclo previsível de luz-escuro, que leva a repercussões no sentido da reprodução, nutrição e repouso. Estas drásticas alterações refletem-se, posteriormente, de vários modos, como a redução de polinizações noturnas e diminuição de insetos como disponibilidade de alimento a outras espécies.
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As investigações qualitativas, normalmente, produzem quase sempre uma grande quantidade de informação descritiva que precisa de ser organizada e reduzida… A análise de conteúdo assume um papel fulcral na investigação
“Vive-se um problema grave de falta de mão-de-obra altamente qualificada a nível mundial”
João Rodrigues, docente e investigador da Universidade da Madeira, é Coordenador Científico do Centro de Química da Madeira (CQM), unidade de
As boas notícias são que, mesmo em pequena escala, qualquer cidadão é capaz de contribuir na redução desta ameaça. O simples ato de desligar as luzes quando não são necessárias ou substituí-las para que possuam sensores de movimento, conta como uma contribuição eficaz. Ainda assim, podemos usar as nossas luzes exteriores de uma forma mais consciente, substituindo luzes azuis e brancas de alta intensidade por outras não tão prejudiciais aos insetos, tais como luzes mais quentes de tom âmbar, e de baixa intensidade.
O LIFE Natura@night é um projeto cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia e coordenado pela SPEA. Nos seus objetivos constam a intervenção no sistema de iluminação pública de forma a reduzir e mitigar a poluição luminosa que afeta a vida selvagem presente na área protegida da Rede Natura 2000 em 3 arquipélagos (Madeira, Açores e Canárias). Pode ficar a saber mais em www.naturaatnight.spea.pt.
Laura Sousa e Elisa Teixeira
Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves
Com fotografia de Elisa Teixeira.
