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A análise de conteúdo na investigação qualitativa

As investigações qualitativas, normalmente, produzem quase sempre uma grande quantidade de informação descritiva que precisa de ser organizada e reduzida…

A análise de conteúdo assume um papel fulcral na investigação qualitativa. Quivy e Campenhoudt (2005) afirmam que:

O lugar ocupado pela análise de conteúdo na investigação social é cada vez maior, nomeadamente porque oferece a possibilidade de tratar de forma metódica informações e testemunhos que apresentam um certo gau de profundidade e de complexidade, como por exemplo, os relatórios de entrevistas pouco diretivas. Melhor do que qualquer outro método de trabalho, a análise de conteúdo (ou pelo menos, algumas das suas variantes) permite, quando incide sobre um material rico e penetrante, satisfazer harmoniosamente as exigências do rigor metodológico e da profundidade inventiva que nem sempre são facilmente inconciliáveis (p. 227).

A análise de conteúdo é uma técnica para recolher e analisar o conteúdo de um texto. O conteúdo refere-se a palavras, significados, símbolos, ideias, temas ou qualquer mensagem que pode ser comunicada. O texto é tudo o que é escrito, visual, ou falado que serve como meio para a comunicação. Inclui livros, jornais, ou artigos de revistas, publicidade, discursos, documentos oficiais, filmes ou gravações de vídeo, música, fotografia ou arte.

Segundo Bravo (1998), toda a análise qualitativa de dados envolve sempre três dimensões básicas: a teorização (categorização), seleção (codificação) e análise (redução dos dados). Na análise de conteúdo, a ideia central é a de que signos/símbolos/palavras – as unidades de análise – podem organizar-se em categorias concetuais e essas categorias podem representar aspetos de uma teoria que se pretende testar.

As investigações qualitativas, normalmente, produzem quase sempre uma grande quantidade de informação descritiva que precisa de ser organizada e reduzida (o que a comunidade científica anglo-americana chama de data reduction), de modo a possibilitar a descrição e interpretação do problema em estudo. Este processo efetua-se por uma operação chamada codificação que vai permitir ao investigador saber o que “contêm” os dados. Na maior parte dos casos a codificação ocorre após a recolha dos dados. Como afirma Wiersma (1995, p. 217) “as categorias emergem dos dados” em que o investigador busca padrões de pensamento ou comportamento, palavras, frases, ou seja, regularidades nos dados que justifiquem uma categorização.

De acordo com Alberto Sousa, no processo de análise de conteúdo não há regras pré-estabelecidas para a definição de unidades nem de categorias. Cada análise de conteúdo é distinta de todas as outras, não havendo por isso possibilidade de se definirem critérios universais. As categorias são classes ou agrupamentos de unidades de conteúdo, organizadas em conformidade com as características comuns dessas unidades. As categorias deverão possuir as seguintes qualidades: a) Exclusão mútua; b) Homogeneidade; c) Pertinência; d) Objetividade e fidelidade; e) Produtividade.

Como já referimos num artigo anterior, o aparecimento recente de diversos programas de computador (por exemplo o NVivo, o Atlas.ti e o WebQDA,), veio facilitar muito a complicada e demorada tarefa da técnica da análise de conteúdo e, simultaneamente, veio aumentar a fidelidade dos dados.

Referências e sugestões de leitura
Bardin, L. (2004). Análise de conteúdo (3.ª ed.). Lisboa: Edições 70.
Bravo, M. (1998). La metodologia cualitativa. In M. Bravo & L. Eisman (Ed.). Investigacion educativa (pp. 294-288). Sevilha: Edicones Alfar.
Wiersma, W. (1995). Research methods in education: An introduction (6th ed.). Thousand Oaks: Pine Forge Press.
Quivy, R. & Campenhoudt, L. (2005). Manual de investigação em ciências sociais (4.ª ed.). Lisboa: Gradiva.
Sousa, A. (2005). Investigação em educação. Lisboa: Livros Horizonte.

António Bento
Professor da UMa

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