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«Triangulação» na investigação qualitativa

“Procedimentos múltiplos de validação” (Becker, 1959)

Enquanto na análise quantitativa podemos aplicar métodos estatísticos que determinam a confiabilidade e a validade do estudo, na análise qualitativa não são utilizados coeficientes nem testes estatísticos. Assim, na análise qualitativa devemos efetuar uma valorização do processo de análise. Uma das formas de valorizar esse processo é a técnica de investigação denominada triangulação.

De acordo com Sousa (2005),
“As investigações qualitativas permitem uma maior compreensão do funcionamento fenomenológico dos atos educativos. As investigações quantitativas apenas abordam o estudo de pequenas partes daqueles fenómenos, não permitindo uma compreensão tão lata, mas conferindo maior confiança aos resultados obtidos” (p. 174).

Triangulação é um método de verificação dos dados, consistindo em empregar várias fontes de informação ou vários métodos de recolha de dados, ou vários investigadores, no mesmo estudo.

A origem deste termo vem das áreas da navegação e da topografia nas quais são necessários três pontos para se obter uma localização precisa. Por exemplo, num triângulo (A B C), se o observador tiver informação exata da distância entre dois lados (A e B) pode obter as distâncias entre B e C e A e C: .

A triangulação possui o mérito de conferir robustez e consistência à validade de uma investigação de carácter qualitativo, identificando inconsistências e contradições.

Denzin (1994), citado por Fortin (2003, p. 322), descreve quatro tipos de triangulação:
1) Triangulação de dados, que comporta três aspetos: o tempo, o espaço e a pessoa, o que representa três patamares de análise, ou seja a agregação, a interatividade e a comunidade; 2) Triangulação de investigadores; 3) Triangulação de teorias; 4) Triangulação dos métodos, que compreende a triangulação intramétodos e a triangulação intermétodos.

Triangulação envolve o uso de métodos múltiplos e múltiplas fontes de dados que apoiam a robustez de interpretação e conclusões na investigação qualitativa. Como Guban e Lincoln (1989) notam, triangulação não deve ser usada para encobrir diferenças legítimas na interpretação dos dados. Tal diversidade deve ser preservada no relatório de modo a que as vozes dos menos empoderados não sejam perdidas.

A análise dos dados é um dos aspetos mais interessantes da investigação etnográfica. Começa desde o primeiro momento em que o investigador escolhe o problema para estudar continuando, até à redação do relatório final. Muitas técnicas, incluindo análise de conteúdo, são envolvidas na análise de dados etnográficos. Uma das mais importantes é a triangulação. Assim, a triangulação é fundamental na investigação etnográfica; Essencialmente, estabelece a validade das observações do investigador. Envolve verificar o que uma pessoa ouve e vê comparando as várias fontes de informação – há acordo ou discrepância? Por exemplo: Um investigador pode comparar as afirmações orais de um aluno de que ele é um bom aluno com as notas que ele teve no registo de avaliação, os comentários dos seus professores e, talvez, alguns comentários não solicitados de colegas seus. A triangulação, aqui neste exemplo, pode verificar – ou não – a autoavaliação do aluno. Aumenta a qualidade de dados que são recolhidos e a exatidão das interpretações dos investigadores.

A triangulação pretende ser uma ferramenta heurística para o investigador. Impede que o investigador aceite facilmente a validade de impressões iniciais; reforça o escopo, a densidade e a clareza de construtos desenvolvidos durante o curso da investigação. Além disso, ajuda a corrigir preconceitos que ocorrem quando o investigador é o único observador do fenómeno a ser investigado.

Finalmente, triangulação não se refere apenas a três aspetos na análise dos dados, como um aluno perguntou numa aula: – “Só se podem usar três fontes de dados na investigação?” Não! Quantas mais fontes de dados usarmos, maior o intervalo de confiança podemos obter. Para além disso, a triangulação permite que o investigador seja mais crítico e mesmo cético, face aos dados recolhidos.

Referências
Fortin, M. (2003). O processo de investigação: Da conceção à realização (3.ª ed.). Loures: Lusociência – Edições Técnicas e Científicas, Lda.
Guba, E. & Lincoln, Y. (1989). Fourtth generation evaluation. Newbury Park, CA: Sage Publications.
Sousa, A. (2005). Investigação em educação. Lisboa: Livros Horizonte (pp. 172-176).

Sugestões de leitura
Denzin, N. & Lincoln, Y. (1994). (Eds). Handbook of qualitative research. Thousand Oaks, CA: Sage Publications, Inc. (pp. 214-215).
Fortin, M. (2003). O processo de investigação: Da conceção à realização (3.ª ed.). Loures: Lusociência – Edições Técnicas e Científicas, Lda. (pp. 322-326).
Sousa, A. (2005). Investigação em educação. Lisboa: Livros Horizonte (pp. 172-176).
Stake, R. (2007). vv Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian (pp. 121-134).

António V. Bento
Professor da UMa

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