Os dados recentes da Direção Regional de Estatística da Madeira trazem à tona uma realidade preocupante do mercado de trabalho regional. Atingir 126,7 mil trabalhadores empregados é, sem dúvida, um marco positivo, mas os números que se escondem por detrás dessa estatística revelam desafios profundos que necessitam uma análise crítica.
A geração “nem-nem”, assim referida numa notícia neste jornal na semana passada, composta por mais de 5,8 mil jovens que nem estudam, nem trabalham, representa um sintoma grave de desconexão entre as oportunidades disponíveis e as expectativas, aspirações ou necessidades da juventude madeirense. O facto deste grupo estar dividido quase equitativamente entre homens e mulheres mostra que o problema é comum a ambos os géneros e não pode ser atribuído apenas a fatores culturais ou sociais específicos de um lado ou de outro.
A questão também não deve ser vista apenas como um problema individual ou familiar. Trata-se de um desafio coletivo com implicações para o desenvolvimento económico e social da Madeira. A ausência de emprego e de formação pode levar a uma série de consequências negativas, como a perpetuação da pobreza, a exclusão social e o aumento das desigualdades. Este é um problema que requer uma resposta coordenada entre o setor público, o privado e a sociedade civil, com a criação de programas específicos de inclusão e formação que possam atrair estes jovens de volta ao sistema educativo e capacitá-los para o mercado de trabalho.
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Houve um aumento do número de trabalhadores não qualificados, que hoje somam cerca de 18,9 mil. Este crescimento de 5,1% desde 2018 reflete uma tendência que pode ser preocupante a longo prazo. Embora essas ocupações sejam essenciais para o funcionamento da economia, a falta de qualificação limita as perspetivas de crescimento profissional dos trabalhadores e, consequentemente, a competitividade da própria economia regional. A predominância de setores como a agricultura, a construção e os serviços básicos nestes empregos sugere uma economia ainda muito dependente de atividades tradicionais, que podem estar a perder terreno face às transformações tecnológicas e à globalização.
A Madeira enfrenta, assim, um paradoxo: por um lado, o crescimento da população empregada é um sinal de resiliência económica. Por outro, a qualidade e o perfil desse emprego levantam questões sobre a sustentabilidade desse crescimento. Apostar em políticas de formação e qualificação profissional é crucial para reverter este cenário. A economia global está a caminhar para uma era de inovação, digitalização e sustentabilidade, e a Madeira não pode ficar para trás. Um investimento mais robusto em educação técnica, na formação contínua e na reconversão profissional pode abrir novas oportunidades para os trabalhadores que hoje se encontram em empregos de baixa qualificação.
É fundamental repensar a estratégia de desenvolvimento económico da região, diversificando os setores de atividade e promovendo uma economia mais inovadora e inclusiva. A aposta em áreas como a tecnologia, o turismo sustentável e as energias renováveis pode criar novas oportunidades de emprego qualificado, reduzindo a dependência de setores tradicionais e alargando os horizontes para os jovens madeirenses.
Os dados do emprego na Madeira refletem uma realidade onde os avanços se misturam com desafios profundos. Para garantir um futuro mais promissor para todos, será necessário um esforço coletivo de adaptação e inovação, que tenha como foco a criação de oportunidades de qualidade e a inclusão de todos no processo de desenvolvimento económico e social da região.
Ricardo Freitas Bonifácio
Presidente da ACADÉMICA DA MADEIRA.
Com fotografia de Daniele Franchi.