Estudar no estrangeiro?

Estudar no estrangeiro?

Hoje, quarta-feira, é dia de emissão em direto do PEÇO A PALAVRA. Numa região com movimento migratório secular, como a Madeira, vamos conversar sobre uma emigração que é muito diferente da que conhecemos no passado: estudar no estrangeiro.
Tiago Caldeira Alves, do painel do PEÇO A PALAVRA de 17 de julho de 2024, um programa da TSF Madeira 100FM e da ACADÉMICA DA MADEIRA.

O episódio do PEÇO A PALAVRA desta quarta-feira trata sobre umas das alternativas que os jovens têm para ingressar no Ensino Superior, a continuação dos estudos noutros países. Portugal, anualmente, recebe e envia milhares de estudantes. Segundo dados apresentados pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, no ano letivo 2022-2023, mais de 70 mil estudantes estrangeiros frequentaram o ensino superior no nosso país. Enquanto cerca de 8% dos jovens matriculados nos ensinos básico e secundário são oriundos do estrangeiro, o seu número tem estado a crescer no ensino superior, registando-se 16% de estudantes com outras nacionalidades nas universidades nacionais. No sentido inverso, um curso fora de Portugal é uma opção para milhares de estudantes portugueses. Numa região com movimento migratório secular, como a Madeira, vamos conversar sobre uma emigração que é muito diferente da que conhecemos no passado.

Quando pensamos em mobilidade estudantil, o programa Erasmus+, promovido pela União Europeia desde 2014 e com raízes em 1987, é um dos mais conhecidos. Não é, contudo, a alternativa para quem deseja realizar todo o seu ciclo de estudos fora do território nacional, pois a mobilidade Erasmus acontece durante um período máximo de dois semestres letivos. Para os jovens que queiram completar os seus estudos fora do país, a imigração, ainda que temporária para um destino dentro ou fora da Europa, configura-se como a escolha necessária. Além do fluxo de envio estudantil para o estrangeiro, Portugal tem crescido como um país de acolhimento, fixo ou temporário, para estudantes de todo o mundo.

Estudar no estrangeiro pode ser uma experiência que oferece benefícios pessoais e profissionais, desenvolvendo habilidades cruciais como a adaptabilidade, a independência e a fluência num novo idioma. Numa globalização competitiva e emergente, Portugal afirma-se como um dos destinos procurados no quadro dos programas de mobilidade europeia. Além disso, tem-se destacado qualitativamente nas avaliações dos participantes desses programas. Em 2024, a cidade do Porto foi distinguida como o melhor destino de Erasmus no maior encontro de estudantes da Europa, a Erasmus Generation Meeting, que aconteceu em abril, em Sevilha. Em 2021, Portugal foi a 6.ª escolha entre os destinos mais procurados do Erasmus+. Segundo a Comissão Europeia, a “política governativa portuguesa está convicta de que a mobilidade de estudantes constitui uma grande oportunidade e visa, como tal, permitir que a maioria dos estudantes possa ter acesso a, pelo menos, um curto período de mobilidade, não apenas pela experiência e pela possibilidade de beneficiar de um sistema educativo diferente, mas também por todas as competências transversais”.

Nos últimos anos, milhares de estudantes portugueses optam por estudar noutro país. Os convidados da emissão desta quarta-feira do PEÇO A PALAVRA rumaram para um dos destinos mais procurados pelos estudantes, o Reino Unido, que continua, mesmo depois da sua saída da União, um país popular para o acolhimento de estudantes internacionais, pelo prestígio das suas instituições e pela universalidade do seu idioma. Segundo o British Council, em 2023, “mais de 679.970 estudantes internacionais escolheram a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte para fazer parte da sua jornada educacional”. As instituições britânicas oferecem mais de 50 mil cursos diferentes, em centenas de universidades, algumas das quais figuram o topo de classificações internacionais como o “QS World University Rankings”, o “Times Higher Education World University Rankings” ou o “Shanghai Ranking Consultancy”.

No painel do PEÇO A PALAVRA, para falar das suas experiências no Reino Unido, estará Rodrigo Costa e Mariana Vieira. Ricardo Miguel Oliveira, jornalista e diretor geral editorial do DIÁRIO, estará acompanhado de Tiago Caldeira Alves e Francisco Afonseca, parte do painel fixo do programa, estudantes da UMa e membros da unidade de Política do Ensino Superior na Académica da Madeira. Rodrigo Costa é um artista plástico português, curador e produtor cultural, atualmente residente na Madeira. Em julho de 2020, concluiu, na Coventry University do Reino Unido, o curso de Belas Artes. Desde o regresso à Madeira, tem realizado uma intensa atividade artística e cultural, promovendo e integrando projetos em toda a região. Mariana Vieira, é uma jovem investigadora, com um vasto currículo na área da ciência, licenciada pela Universidade Nova de Lisboa em Biologia Molecular e Celular, mestre em Genética Molecular Humana pelo Imperial College of London, e doutorada em Biologia Molecular e Celular pela University College of London.

Desde 1945, as taxas britânicas de frequência no ensino superior foram suportadas pelas autoridades locais. Tudo começou a mudar em 1997, quando o governo de Tony Blair introduziu o Teaching and Higher Education Act 1998, prevendo a cobrança de propinas em todo o país, sendo posteriormente suprimidas na Escócia. Desde então, os custos têm aumentado exponencialmente. O governo liderado por David Cameron permitiu que as instituições executassem aumentos que rondavam as 9 mil libras. Estudar no Reino Unido também ficou mais difícil com a saída do mercado de livre circulação de pessoas.

Na mobilidade internacional, como refere a Comissão Europeia, “a necessidade de obtenção de Visto de entrada pode igualmente ser considerada outro obstáculo à mobilidade, nomeadamente para estudantes e professores” de países exteriores à União Europeia. A antiga titular do ensino superior no Reino Unido, Gillian Keegan, defendia “uma reputação fantástica tanto em casa como no estrangeiro” das instituições superiores, sendo “um testemunho da qualidade da educação que oferece o facto de tantas pessoas aspiram estudar neste país”. No verão de 2023, o governo do partido conservador anunciou novas regras para estudantes internacionais. A partir de janeiro de 2024, os estudantes internacionais não poderão trazer dependentes para o país através de seu visto de estudante e não poderão alterar o visto de estudante sem completar o curso de estudo original. O novo governo, liderado por Keir Starmer, pretende que o Migration Advisory Committee reveja as leis da imigração, mas não haverá mudanças substanciais no funcionamento do ensino superior, principalmente no seu financiamento.

Em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 2013-2017, a imigração, de pessoas oriundas de outro Estado membro da União Europeia e de países exteriores ao grupo, foi de 3,4 milhões, em 2013, e atingiu 4,4 milhões de pessoas, em 2017. Ainda assim, estudar no estrangeiro é uma prática cada vez mais comum na Europa. A fazer mobilidade, em 2017, estavam 1,7 milhões de estudantes do ensino superior provenientes do estrangeiro, tanto de outros países da União, como de fora. No intervalo 2013-2017, houve um aumento de 22% dos estudantes internacionais. A livre circulação é um dos pilares da união dos 27, e, também por isso, 7,8% da população, em 2018, possuía uma nacionalidade diferente da do seu Estado de residência.

A apoiar a intenção de estudar fora, há várias empresas e organizações que acompanham os processos dos estudantes. Não sendo comportável para todas as famílias, há países que representam uma escolha mais acessível para os jovens. Entre vários países, a Dinamarca ou a Irlanda oferecem isenção de taxas de frequência aos seus estudantes do ensino superior. Além disso, nos ciclos de estudos avançados há mais opções de financiamento público. A Comissão Europeia indica que “no 3.º ciclo e ao nível do pós-doutoramento, é atribuída uma percentagem significativa de bolsas a estudantes matriculados em universidades estrangeiras ou em programas de investigação conjunta, nomeadamente através de bolsas de investigação científica e outras bolsas atribuídas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.”

O PEÇO A PALAVRA é um espaço em que o Ensino Superior, a Ciência e a Tecnologia estão em debate, porque os estudantes pediram a palavra. O seu nome tem origem na intervenção que tornou célebre o jovem líder estudantil em Coimbra Alberto Martins e espoletou a Crise Académica de 69. Trata-se de uma produção da TSF Madeira 100FM com a Académica da Madeira, transmitida em direto, quinzenalmente às quartas-feiras, às 16:00, e disponível em podcast, nas principais plataformas do mercado.

Luís Eduardo Nicolau
ET AL.
Com fotografia de Henrique Santos.

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