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Deus não é uma mulher lésbica

Quebrar o preconceito, colocar-se no lugar do outro, fazer entender o amor é responsabilidade de todos nós. Independentemente da nossa orientação sexual, da forma como nos vestimos, da maneira como nos expressamos ou de quem nos põe borboletas na barriga e faz trincar os lábios.

Deus é amor. Imagino-O como ser de luz, sem género definido, sem nada que nos afaste Dele. Imagino-O como porto de abrigo, como espaço de fé e esperança, recanto de paz. Deus é amor. Deus não tem género para que não nos separemos Dele pelas suas diferenças. Deus é um todo para todos. É, por isso, que não concordo: Deus não é uma mulher lésbica!

Aquela foi uma das frases de um cartaz da última Madeira Pride. É certo, todos sabemos, que era uma frase provocatória, um desafio à reflexão, um empurrão à mudança.

Percebo. Que direito teria eu de me dar ao luxo de não perceber? Quem sou eu, senão mais um ser n’“o pequeno caminho das grandes perguntas” (como diz o título de um dos livros de Tolentino de Mendonça)?

Eu não sou ninguém mas percebo e penso e reflito. Não sou ninguém mas entendo que quem quer viver o amor pleno precisa de espaço, de liberdade, de respeito. O amor pleno não tem nada definido. Entre quem? Como?

O amor pleno não é só entre um homem e uma mulher e essa é a primeira ideia a mudar. O amor pleno “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (Coríntios 13:7). O amor é como Deus. É para todos. Essa deve ser a resposta ao preconceito que nos dilacera, separa, maltrata, distancia. A resposta ao preconceito que nos minoriza, que nos torna vazios.

O que restará, se só ficar um vazio? Que humanidade será esta, se não for capaz de perceber a felicidade do outro? Quem somos se o amor nos incomoda? Quem somos, se a igualdade nos amortece?

Este caminho de pequenas perguntas (à espera de grandes respostas) é o trilho que percorrem todos aqueles que fazem parte da comunidade LGBTI+ e que, nos dias de hoje, ainda sentem na pele, a discriminação e a violência, o preconceito e o retrocesso.

Entendo que queiram sensibilizar pelo choque, fazer mudar pelo desafio, conquistar pelo orgulho demonstrado em mil e uma cores. Mas nem sempre o choque será compreendido da mesma forma, talvez o orgulho possa ser mostrado de outra maneira, talvez as cores possam ser mais partilhadas. O que interessa é a missão.

Quebrar o preconceito não é uma responsabilidade só da comunidade LGBTI+. Quebrar o preconceito, colocar-se no lugar do outro, fazer entender o amor é responsabilidade de todos nós. Independentemente da nossa orientação sexual, da forma como nos vestimos, da maneira como nos expressamos ou de quem nos põe borboletas na barriga e faz trincar os lábios.

A promoção da solidariedade entre todos deve ultrapassar fronteiras – sejam elas políticas, geográficas, sociais ou etárias. A educação para o amor não depende do orgulho gay ou do orgulho hétero, nem de paradas ou momentos pontuais. Não é uma missão deles ou dos outros. A missão é nossa! É comum. É desígnio indiscutível para a evolução da sociedade. É o que fará os nossos filhos se orgulharem de nós.

Hoje pode ser o dia certo para percebermos que todos devemos sentir orgulho naquilo que somos. Porque eu escolho quem me aquece a alma e quem toca no meu corpo. E todos, juntos, escolhemos respeitar esta opção.

Vera Duarte
Alumnus

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