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Teatro Municipal do Funchal (1883-1888)

O teatro municipal a partir da sua inauguração foi um dos mais importantes centros da vida cultural, social e política madeirense.

As referências a atividades teatrais na Madeira foram constantes ao longo da história da ilha, tendo existido vários teatros no Funchal, muito especialmente o chamado Teatro Grande ou Casa da Ópera, junto do palácio de São Lourenço, mas por tal demolido no período absolutista, em 1833, para segurança do governador. Ao longo do século XIX tentou-se por várias vezes a reconstrução de um teatro público, mas o somente foi possível perto dos finais desse século, mas tendo a partir de então desempenhado um papel fulcral na cultura madeirense.

Entre 1850 e 1880 fizeram-se várias tentativas para dotar a cidade de um teatro que pudesse satisfazer as necessidades de uma sociedade progressivamente mais cosmopolita e com uma cada vez maior população veraneante estrangeira. Em 1880 foi criada, inclusivamente, uma sociedade edificadora do teatro, à frente da qual se colocou o visconde e depois conde de Canavial, mas em breve a câmara do Funchal assumia a construção, encomendando o projeto ao arquiteto do portuense Tomás Augusto Soler (1848-1883), que projetara o Teatro da Trindade do Porto. A primeira pedra do teatro municipal do Funchal foi lançada a 24 de outubro de 1883, após a chegada do mestre de obras Manuel Francisco Pereira, enviado do Porto para coordenar os trabalhos. O arquiteto do Porto falecera, entretanto em junho desse ano, somente com 35 anos de idade, assumindo a direção da obra o engenheiro José de Macedo de Araújo Júnior (1858-1890), também daquela cidade nortenha.

As obras do edifício propriamente dito estavam concluídas em outubro de 1885, quando se decide que o teatro se chamasse Teatro D. Maria Pia (1847-1911), pedindo-se para isso autorização à rainha e, no ano seguinte, era celebrado contrato para execução dos trabalhos de decoração interior com Eugénio do Nascimento Cotrim (1849-1937) e Luigi Manini (1848-1936), cenógrafo então do Teatro Nacional de S. Carlos. Com o final das obras e ainda com a presença de Luigi Manini e de Eugénio Cotrim, foi o teatro D. Maria Pia apresentado aos funchalenses, a 29 de julho de 1887, mostrando-se os jogos de cena, ou seja os cenários e atuando a orquestra da Associação Musical 25 de Janeiro, para avaliar a acústica da sala. A inauguração oficial, no entanto, só viria a ocorrer a 11 de março de 1888, com a apresentação da zarzuela Las Dos Princesas, com uma companhia vinda das Canárias.

O teatro municipal a partir da sua inauguração foi um dos mais importantes centros da vida cultural, social e política madeirense, pelo mesmo tendo passado as mais importantes companhias portuguesas, mas também espanholas, francesas e outras, que deslocando-se para a América Latina, por exemplo, aproveitavam a passagem pelo Funchal para algumas apresentações. Com a implantação da República e a nova edilidade republicana do Funchal, logo a 27 de outubro de 1910, decidia-se mudar o nome ao teatro, que passou a ser Dr. Manuel de Arriaga, mas algum tempo depois, o próprio, já como presidente da República, recusava a utilização do seu nome para casa de espetáculos. Face à recusa, a câmara municipal optou pelo nome de Teatro Funchalense, mas falecido o Dr. Manuel de Arriaga em 1917, em sua memória, em 1921, a câmara voltou a atribuir o seu nome ao teatro. Em 1935, entretanto, optava-se pelo nome do poeta madeirense quinhentista Baltazar Dias, denominação com que chegou até nós.

De acordo com as épocas, chegou a funcionar essencialmente como sala de cinema, mas voltando a depois a sala de concertos, de exposições, debates e encontros de caráter cultural, tendo conseguido manter toda a sua ambiência dos finais do século XIX, quase como uma peça de museu e, ao mesmo tempo, adaptar-se às necessidades e aos meios de comunicação atuais.

Rui Carita
Professor da UMa

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