As palavras-chave permitem que o leitor tenha acesso aos artigos que foram classificados com esse vocábulo enquanto etiqueta. Dessa forma, o repositório digital de notícias da ET AL. é filtrado para que o leitor consulte o grupo de artigos que corresponde à palavra-chave que selecionou. Em alternativa, pode optar pela procura de termos na barra de pesquisa.

Etiqueta Selecionada

Rui Carita

Um trabalho de 40 e tal anos…

Este Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Representante da República, em nome do Chefe do Estado português, irá entregar as insígnias de comendador da Ordem do Infante D. Henrique ao historiador Rui Carita, atual Provedor do Estudante da UMa. Esta comenda justifica-se num “trabalho de 40 e tal anos na Região, em Portugal continental, nos Açores, nas Canárias e, mais recentemente, nos Emirados Árabes Unidos” explicou o professor à ET AL., sublinhando a dedicação ao estudo da cultura portuguesa em locais da nossa diáspora histórica. Escavações arqueológicas, recuperação de edifícios históricos, constituição de museus e realização de exposições diversas, são vários os projetos que desenvolveu, sem contar com as aulas para diferentes cursos em várias universidades nacionais e internacionais. Rui Carita refere que tudo isto é “fruto de uma época e não é por acaso que se fizeram, 50 livros, entre outros, sobre a história do Funchal e, posteriormente, da Madeira”. Muitas dessas obras foram editadas pela ACADÉMICA DA MADEIRA, através da Imprensa Académica, nos últimos anos, incluindo a coleção HISTÓRIA DA MADEIRA, em seis volumes. Antigo militar e professor jubilado da Universidade, Rui Carita está muito longe de entregar as armas e continua, com muito bom humor, a investigar, a publicar e, claro, a lecionar. Portugal possui nove Ordens Honoríficas, que se agrupam tem três grupos: antigas Ordens Militares, Ordens Nacionais e Ordens de Mérito Civil. No grupo das Ordens Nacionais, com a Ordem da Liberdade e a Ordem de Camões, está a Ordem do Infante D. Henrique. Como explica o portal da Presidência da República, a Ordem do Infante D. Henrique, criada em 1960, para assinalar o 5.º Centenário da sua morte, pretende “distinguir quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores”. A Ordem que recebe o nome do filho do rei D. João I, cujas cores são o azul, o branco e o negro, possui seis grau: Grande-Colar, Grã-Cruz, Grande-Oficial, Comendador, Oficial e Cavaleiro ou Dama. As insígnias da comenda são a Fita de Comendador e a Placa de Comendador. O distintivo da Ordem do Infante D. Henrique é uma cruz pátea, de esmalte vermelho, filetada de ouro. Carlos Diogo Pereira ET AL.

LER MAIS...

A viagem do “Rattlesnake” à Madeira para medir a inclinação magnética

Desde os meados do séc. XVIII e ao longo do XX, a Madeira constitui uma importante referência estratégica, e científica, para a navegação britânica no Atlântico Norte, assim se justificando as constantes passagens dos ingleses pela Ilha e os trabalhos de medição e referenciação efetuados. A 3 de dezembro de 1846, o H.M.S. Rattlesnake deixava o estaleiro de Spithead e, a 11, saía do porto de Plymouth a caminho da Madeira, onde chegou a 18, após uma viagem algo tormentosa, dada a época do ano. Seguiu rumo ao Brasil, às ilhas de Cabo Verde, ao cabo da Boa Esperança e às Ilhas Maurícias. A sua principal missão era a de voltar a medir a “inclinação magnética” nas várias escalas da viagem, então com os aparelhos desenvolvidos pela firma de Robert Were Fox, com vista à melhoria das cartas náuticas inglesas. Da equipa do navio britânico, fazia parte o primeiro-tenente Owen Stanley, que desenhava e aguarelava, organizando, mais tarde, um álbum com os seus apontamentos de viagem, que veio a ser adquirido pela Mitchell Library, State Library of New South Wales e que um amigo de longa data destes trabalhos de investigação, o sargento-chefe José Lemos Silva, localizou e nos enviou. São somente cinco pequenos apontamentos, de que selecionámos estes três, com a particularidade de se encontrarem representadas duas das mais importantes figuras da época na Madeira: o cônsul Sir Henry Veitch, então já o decano de todos os cônsules britânicos e o então capitão António Pedro de Azevedo, que chegaria depois a general de divisão e o autor do maior manancial cartográfico alguma vez produzido na ilha da Madeira. A expedição para a medição da declinação magnética saiu do Funchal a caminho da Eira do Serrado, a 23 de dezembro, descendo pelo Passo do Curral, o antigo caminho/estrada para o Curral, Ponta Delgada e outros destinos, onde fizeram um piquenique/almoço. Depois desceram para o Curral de Baixo e subiram para a Boca dos Namorados e ali, nas proximidades, no Pico dos Bodes (Jardim da Serra), mediram a «inclinação magnética» com o então designado «Fox’s Dipping». Com aquele aparato todo, parece que apareceram mais uns curiosos locais, registados nas várias aguarelas como os “burroqueros”, ou seja, os burriqueiros, que tinham transportado os materiais da expedição, que, inclusivamente, também incorporava duas senhoras. Depois devem ter feito ainda uma visita à quinta do Jardim da Serra, pois conheceram a criada do sr. Cônsul, em “traje domingueiro”, como regista o primeiro-tenente Owen Stanley. O álbum do primeiro-tenente ainda incorpora uma descrição do Funchal, então com cerca de 25.000 habitantes, partindo das anteriores feitas nas viagens de circum-navegação do comandante James Cook, de 1768 e de 1771, com o seu anfiteatro e a enorme quantidade de quintas a subirem pelas encostas, da “caldeira” do Curral das Freiras poder ser a cratera do inicial vulcão submarino que deu origem à Ilha, etc. Acrescenta também uma série de referências à flora local, inclusivamente com os nomes científicos, mostrando-se muito bem informado e documentado sobre a Ilha. Rui Carita Docente da UMa Texto escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990.

LER MAIS...

A visão do Outro

Há séculos que os homens viajam pelo mundo, entrando em contacto com outras sociedades e povos, relatando depois as suas experiências. Ao longo do século XIX, inclusivamente, muitos desses relatos foram acompanhados por apontamentos em desenho e aguarela, alguns depois divulgados em litografia. A partir da segunda metade do século e com a divulgação da fotografia, a situação mudou bastante, perdendo grande parte da sua carga afetiva. A análise das opiniões dos estrangeiros sobre os madeirenses e o seu quotidiano tem sido trabalhada por vários investigadores, como o Dr. António Marques da Silva, para os viajantes de língua inglesa e Eberhard Axel Wilhelm, para os de língua alemã. A opinião destes viajantes não é muito diferente, elogiando quase sempre a classe mais abastada madeirense, mas criticando quase ferozmente as classes mais humildes, que a depois célebre escritora Maria Ridell, ainda nos finais do século XVIII, não se coíbe de apelidar de “indolentes, sujas e propensas ao roubo”. Alguns anos depois, Alfred Lyall, in Rambles in Madeira (1827), só não apoia a última opinião, quando refere a propósito da dificuldade em recrutar criados no Funchal, que são uma “raça desleixada em que só se pode confiar quanto à honestidade”. Nos meados do século a inteligente e atenta inglesa Isabella de França, volta a tecer as piores críticas aos mais desfavorecidos, chegando a escrever “que não serão estúpidos, mas fingem sê-lo, o que aliás acontece com todos os camponeses”. Acrescenta mesmo, que “além da sua desonestidade, os camponeses são muito cobardes” e “são espertíssimos, fingindo sempre extrema ignorância e estupidez, e ao mesmo tempo, como quase todos os velhacos, muito desconfiados, crendo sempre os outros tão maus como eles”. As piores críticas, entretanto, especialmente dos viajantes britânicos, vão para o clero, não conseguindo entender como uma população tão diminuta conseguia suportar economicamente um tão elevado número de religiosos regulares e irregulares. As litografias divulgadas pelas oficinas londrinas são, inclusivamente, de enorme e mordaz crítica, sendo mesmo anedóticas. Resta, no entanto, saber quem foram os autores de alguns dos desenhos que serviram de base a essas litografias, pois, muito provavelmente, algumas partiram de desenhos enviados da Madeira e por autores daqui naturais. Estas e outras opiniões, como as expressas por Isabella de França, quase ofendida com o regresso dos ex-emigrantes endinheirados de Demerara, que levantavam residências que ombreavam com as dos comerciantes ingleses, parece apontar mais para quase “luta de classes” que para outra coisa. Rui Carita Professor da UMa

LER MAIS...

450 anos da fundação do Colégio dos Jesuítas do Funchal

Fundado há 450 anos pelo rei D. Sebastião, o colégio, a igreja e o seu edifício fazem parte integrante do quotidiano madeirense e são o retrato vivo de 4 séculos e meio de anos da História da Região. Assinalando o aniversário, a esposição foi inserida no programa do Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja, sendo uma parceria do Museu de Arte Sacra do Funchal e da Associação Académica da Universidade da Madeira, envolvendo entidades regionais, religiosas, militares e particulares ligadas ao património. Tendo passado pelo edifício diversas instituições, mas onde o ensino e a edução tiveram sempre um especial papel, a exposição repartiu-se por diversos núcleos, com especial enfoque na História e na vida Companhia de Jesus, no sentido da sua universalidade no ensino, edução, espiritualidade e artes plásticas. Extinta a Companhia, no edifício ainda veio a funcionar uma Aula Militar e, depois, o Seminário Diocesano. A situação veio a mudar radicalmente com as ocupações militares inglesas dos inícios do século XIX, quando o edifício foi utilizado como aquartelamento militar daquelas forças, utilização que se manteve depois ao longo de mais de 150 anos por forças nacionais. No então Quartel do Colégio passaram a ser formadas e mobilizadas as forças de defesa do império ultramarino português, primeiro para o Estado Português da Índia e, depois, para os quadros de guerra de Angola, Guiné e Moçambique, calculando-se que 20.000 jovens militares madeirenses tenham sido mobilizados até 1974. Com a passagem do Batalhão para São Martinho, o edifício foi ocupado pela Escola Preparatória João Gonçalves Zarco, tal como depois, das escolas e institutos da Universidade da Madeira e, em 1988, a Reitoria. Com a passagem dos então departamentos da universidade para a Penteada, em 1991, passou o edifício a sede da Reitoria e os pisos térreo e superior da ala virada à Praça do Município, para a instalação da delegação da Universidade Católica. Com as obras de reabilitação do antigo Pátio dos Estudantes e abertura à antiga Rua do Estudo, hoje Rua dos Ferreiros, o antigo Colégio, de certa forma, passou a funcionar como uma “sala de receção” para as visitas de Estado à Região. Em novembro de 2011, também a Associação Académica da Universidade da Madeira começou o projeto Gaudeamus – Loja Académica – que num curto espaço de tempo se ampliou a uma série de projetos culturais, genericamente denominada por Madeiran Heritage, a partir deste espaço, com uma série de visitas guiadas na parte baixa do Funchal, History Tellers, em várias línguas, lançando mão dos inúmeros estudantes Erasmus da Universidade. Rui Carita Professor da UMa

LER MAIS...

Os remates de telhado madeirenses

“Entre os finais do século XIX e os inícios do XX, tipificaram-se curiosos remates de barro cozido nas edificações madeirenses, especialmente com pombinhas e cabeças de menino, tradição que o desaparecimento das antigas olarias onde se produziam coloca bastante em risco”. Esta tradição bastante rara no continente, embora ainda sobrevivente, entre outras áreas, nas de Aveiro e do Algarve, por exemplo, deve ter raízes nos cultos de fertilidade pré-cristãs e que sobreviveram, depois, no culto do Espírito Santo, acarinhado pela Igreja Católica. Embora não conheçamos exemplares madeirenses anteriores ao século XIX, parece não restarem dúvidas que devem ter existido, resistindo, inclusivamente, um ou outro exemplar pré-industrial, como na residência paroquial de São Pedro, no Funchal. O gosto orientalista, dito chinoiserie, parece ser também responsável por certas decorações mais elaboradas, como algumas cristas sobre os telhados, igualmente dotados destes elementos decorativos e informará também alguns aspetos das decorações fim de século e arte nova. A divulgação desta temática, no entanto, parece bem mais popular, aparecendo de certa forma ligada às edificações dos chamados demeraristas dos finais do XIX, emigrantes retornados da América Central e responsáveis por uma ampla campanha de construções dispersas por quase toda a ilha, com especial incidência nas áreas rurais e periurbanas. Os elementos base parecem ser as pombinhas em repouso ou de asas levantadas, tal como cabecinhas de menino e de menina. Estamos, assim, perante elementos do culto da fertilidade e patentes, por exemplo, em ditados populares, como “Quem casa, quer casa”. Posteriormente diversificou-se, encontrando-se variantes representando papagaios, tais como cães (quase sempre buldogues), gatos, galos (figurações mais raras) e, inclusivamente, grifos e dragões de nítida inspiração chinesa. Paralelamente, existem estilizações cerâmicas de folhas de acanto ou pontas de setas, pontualmente muito estetizadas, ou, simplesmente, obtidas pela fragmentação das telhas. Os remates mais antigos aparecem em telhados de telha marselha, por vezes fibrocimento. Parecem, mais recentes, os remates cerâmicos que acompanham os telhados de telha romana, ou telha de meia cana, por certo, em campanhas de obras posteriores. A expansão deste gosto na Madeira levou à sua industrialização, criando-se uma vasta coleção de tipos, que, se não atingem na sua maioria grande qualidade artística, pela sua variedade e multiplicidade, atingem uma muito interessante qualidade plástica e decorativa. Legenda: 1 – Cabeça de menino, antigo mercado do Porto Santo, 1920(c.). 2 – Pomba esvoaçante, Camacha, Porto Santo, 1960(c.). 3 – Galo, Azinhada de São Pedro, 1970(c.). 4 – Cabeça de senhora, Camacha, Lombo de Baixo, Faial, 1920(c.). 5 – Folha de acanto, Canhas, 1940(c.). 6 – Gato, Canhas, 1950(c.). Rui Carita Professor da UMa

LER MAIS...

As obras e providências de Oudinot para o Funchal em 1804

A Madeira foi alvo de fortes aluviões ao longo da história. O alcantilado da ilha, a localização da maioria das povoações na foz das ribeiras e microclimas específicos, levam a que estes desastres sejam cíclicos. O mais grave teria sido a 9 de outubro de 1803, provocando uma tragédia de mais de 600 mortos oficiais por toda a Ilha, numa população de 90.000 habitantes. O governo central enviou então o brigadeiro Reinaldo Oudinot, o técnico em Portugal com mais experiência em obras hidráulicas, que trabalhara na barra de Aveiro e, então, na do Porto. Prevalecia, num caso de emergência, o princípio do planeamento e do desenho, suscetível de estudo e de melhoramento nas várias instâncias, um tipo de resposta que só os engenheiros militares estavam aptos a realizar. A equipa do brigadeiro chegava ao Funchal a 19 de fevereiro de 1804 e formou um gabinete de trabalho, que foi uma escola de desenho topográfico e hidrográfico, projeto e direção de obras públicas. Reformulou as escalas, definiu princípios construtivos para as estradas e obras hidráulicas, nomeadamente de levadas para rega, etc. As operações comportaram a organização do estaleiro de obras e a direção dos trabalhos de reconstrução; numa intensa campanha de obras em que esteve envolvido o exército, nomeadamente os soldados e as populações. Em dezembro de 1806, depois de mais uma aluvião, o brigadeiro podia escrever para Lisboa, dando conta da forma positiva como se tinham portado as suas obras. Foi a última campanha de obras de Oudinot, que morreu no Funchal, a 11 de fevereiro de 1807. Os estudos e o pensamento sobre a ilha da Madeira por parte do brigadeiro, com as causas das aluviões e as medidas para prevenir esses desastres, ficaram sintetizados no Plano para o Reparo da Ilha da Madeira e Plano das obras e Providências necessárias para o reparo das ruínas causadas, Funchal, 14 de abril de 1804. O articulado serviu de regra ao longo da primeira metade do século XIX, ainda tendo sido distribuído, em 1837, pela câmara do Funchal às recém-instaladas Juntas de Paróquia do concelho, mas, entretanto, perdeu-se. O rigor das Instruções de 14 de abril, com as críticas que encerra, muito provavelmente levou ao seu desaparecimento na Ilha, apagando a memória das prudentes recomendações do brigadeiro Reinaldo Oudinot. Uma cópia, no entanto, foi recentemente localizada na Biblioteca Nacional de Portugal. A Madeira foi palco, em 20 de fevereiro de 2010, de uma aluvião, muito provavelmente com a intensidade da de 1803. Acresce que, a 8 de agosto de 2016, toda a ilha foi pasto de incêndios, o que já havia ocorrido em julho de 2012, não tendo havido assim tempo para a recuperação do coberto vegetal. Relembrar, reeditar, publicitar e distribuir o Plano das obras e Providências de Reinaldo Oudinot, de 14 de abril de 1804, é assim uma prioridade absoluta de cidadania e serviço público, em boa hora, levada a feito pela Imprensa Académica, com o apoio da Câmara Municipal do Funchal. Rui Carita Professora da UMa Na imagem: Danilo Matos, Raimundo Quintal, João Baptista e Rui Carita; autores de Um Olhar Sobre as Obras e Providências de Reinaldo Oudinot. A actualidade de uma proposta com mais de 200 anos, publicado pela IMPRENSA ACADÉMICA.

LER MAIS...

Quinta Magnólia

A Quinta Magnólia foi um dos centros de lazer mais importantes dos finais do século passado, com um complexo de piscinas e de cortes de ténis, que foram emblemáticos do desporto regional desses anos. Era, de início, uma quinta madeirense tradicional dos inícios do século, com residência, jardim e parque, que, progressivamente foi aumentada nas primeiras décadas desse século com o espaço das quintas anexas. Veio a transformar-se num clube privado e a ser, depois, um dos principais espaços desportivos da cidade do Funchal. O núcleo inicial constituiu-se nos finais do séc. XIX e foi passando depois por vários proprietários. Em 1910 e segundo a planta dos irmãos Trigo, publicada como anexo ao Roteiro do Funchal, ainda não teria o espaço que hoje ocupa, nem a residência que chegou aos nossos dias e que parece ter sido construída na década seguinte. Com as transformações urbanísticas da cidade e a reformulação do antigo caminho dos Carvalhos, que passou a rua do Dr. Pitta, a residência foi substancialmente ampliada e, na década de 50 do séc. XX, foi remodelada para clube privado, embora a constituição do British Country Club ou Clube Inglês só date da década seguinte. Nas décadas de 60 e 70 foi sendo ainda total e completamente remodelada, dotada de um importante complexo de piscinas, tal como de um parque que descia ao longo da escarpa, para o Ribeiro Seco. Nesses anos foi palco de inúmeros eventos desportivos e tornou-se num dos mais emblemáticos espaços de lazer do Funchal. As reformulações políticas da sociedade madeirense ao longo da segunda metade da década de 70 levaram à sua expropriação pelo Governo Regional, passando à tutela do mesmo em 1980. O edifício principal chegou a albergar exposições temporárias, como em 1991-1992, a dedicada a Cristóvão Colombo e a Madeira, sendo, pouco depois, sede da Proteção Civil regional e Biblioteca de Culturas Estrangeiras na Madeira, enquanto o parque, entre muitos outros eventos, foi palco do Open Madeira em ténis e de várias edições do Funchal Jazz Festival. A partir de 2006, a construção de outras infraestruturas desportivas e as dificuldades de acesso do espaço para automóveis em eventos alargados levou a um progressivo abandono da Quinta Magnólia. A partir de 2008, especialmente, todo o espaço entrou num rápido processo de degradação, até por alguma indefinição da sua tutela direta. Entretanto, a Quinta Magnólia foi entregue à Sociedade Metropolitana de Desenvolvimento para ser objeto de estudo de requalificação, tendo um primeiro projeto sido elaborado em julho de 2007, pelo gabinete CMARQ, Projectos de Arquitetura Ldt. Em meados de 2013 ainda a Sociedade Metropolitana anunciava à população madeirense que a quinta fora cedida em maio desse ano por um período de sete anos, indo sofrer obras de reabilitação para colmatar a degradação do espaço, calculando-se então um investimento até um milhão de euros. No entanto, salvo melhor opinião, é todo um modelo estatal de desenvolvimento que tem os dias contados, tendo acabado o ano de 2016 e nada se tendo feito de concreto. Rui Carita Professor da UMa

LER MAIS...

Teatro Municipal do Funchal (1883-1888)

O teatro municipal a partir da sua inauguração foi um dos mais importantes centros da vida cultural, social e política madeirense. As referências a atividades teatrais na Madeira foram constantes ao longo da história da ilha, tendo existido vários teatros no Funchal, muito especialmente o chamado Teatro Grande ou Casa da Ópera, junto do palácio de São Lourenço, mas por tal demolido no período absolutista, em 1833, para segurança do governador. Ao longo do século XIX tentou-se por várias vezes a reconstrução de um teatro público, mas o somente foi possível perto dos finais desse século, mas tendo a partir de então desempenhado um papel fulcral na cultura madeirense. Entre 1850 e 1880 fizeram-se várias tentativas para dotar a cidade de um teatro que pudesse satisfazer as necessidades de uma sociedade progressivamente mais cosmopolita e com uma cada vez maior população veraneante estrangeira. Em 1880 foi criada, inclusivamente, uma sociedade edificadora do teatro, à frente da qual se colocou o visconde e depois conde de Canavial, mas em breve a câmara do Funchal assumia a construção, encomendando o projeto ao arquiteto do portuense Tomás Augusto Soler (1848-1883), que projetara o Teatro da Trindade do Porto. A primeira pedra do teatro municipal do Funchal foi lançada a 24 de outubro de 1883, após a chegada do mestre de obras Manuel Francisco Pereira, enviado do Porto para coordenar os trabalhos. O arquiteto do Porto falecera, entretanto em junho desse ano, somente com 35 anos de idade, assumindo a direção da obra o engenheiro José de Macedo de Araújo Júnior (1858-1890), também daquela cidade nortenha. As obras do edifício propriamente dito estavam concluídas em outubro de 1885, quando se decide que o teatro se chamasse Teatro D. Maria Pia (1847-1911), pedindo-se para isso autorização à rainha e, no ano seguinte, era celebrado contrato para execução dos trabalhos de decoração interior com Eugénio do Nascimento Cotrim (1849-1937) e Luigi Manini (1848-1936), cenógrafo então do Teatro Nacional de S. Carlos. Com o final das obras e ainda com a presença de Luigi Manini e de Eugénio Cotrim, foi o teatro D. Maria Pia apresentado aos funchalenses, a 29 de julho de 1887, mostrando-se os jogos de cena, ou seja os cenários e atuando a orquestra da Associação Musical 25 de Janeiro, para avaliar a acústica da sala. A inauguração oficial, no entanto, só viria a ocorrer a 11 de março de 1888, com a apresentação da zarzuela Las Dos Princesas, com uma companhia vinda das Canárias. O teatro municipal a partir da sua inauguração foi um dos mais importantes centros da vida cultural, social e política madeirense, pelo mesmo tendo passado as mais importantes companhias portuguesas, mas também espanholas, francesas e outras, que deslocando-se para a América Latina, por exemplo, aproveitavam a passagem pelo Funchal para algumas apresentações. Com a implantação da República e a nova edilidade republicana do Funchal, logo a 27 de outubro de 1910, decidia-se mudar o nome ao teatro, que passou a ser Dr. Manuel de Arriaga, mas algum tempo depois, o próprio, já como presidente da República, recusava a utilização do seu nome para casa de espetáculos. Face à recusa, a câmara municipal optou pelo nome de Teatro Funchalense, mas falecido o Dr. Manuel de Arriaga em 1917, em sua memória, em 1921, a câmara voltou a atribuir o seu nome ao teatro. Em 1935, entretanto, optava-se pelo nome do poeta madeirense quinhentista Baltazar Dias, denominação com que chegou até nós. De acordo com as épocas, chegou a funcionar essencialmente como sala de cinema, mas voltando a depois a sala de concertos, de exposições, debates e encontros de caráter cultural, tendo conseguido manter toda a sua ambiência dos finais do século XIX, quase como uma peça de museu e, ao mesmo tempo, adaptar-se às necessidades e aos meios de comunicação atuais. Rui Carita Professor da UMa

LER MAIS...

Alfândega Nova do Funchal

A primeira alfândega foi instalada no largo do Pelourinho, por ordem de D. Beatriz, com o contador Luís de Atouguia, um almoxarife e os “quatro homens d’el-rei”. A partir de 1483, D. Manuel ampliou a equipa. Com a restruturação do Funchal, determinada em 1485 por D. Manuel, foram construídas a câmara municipal, em 1491, e a “igreja grande”, depois acabada para sé, começada em 1493 e praticamente pronta em 1514, e iniciou-se a construção da Alfândega Nova. A obra foi entregue ao mestre de carpintaria Pero Eanes, que trabalhava na Sé. As novas casas da alfândega deveriam estar levantadas em outubro de 1516 ou em 1517. A alfândega manuelina tinha uma grande sala de despacho no piso térreo, com arcarias de sabor tardo gótico, colunas oitavadas e capitéis esculpidos com motivos vegetalistas e abria ao mar por três arcos. No piso superior, mais compartimentado, a sala de despacho do provedor, ou sala dos contos, apresentava um teto semelhante aos da sé, sendo hoje a biblioteca da Assembleia. Na fachada sobre a rua da Alfândega subsistem as mais importantes gárgulas figurativas existentes na ilha da Madeira. Ao longo do séc. XVII e XVIII o conjunto foi sendo alvo de obras, com a construção de uma bateria de artilharia e de uma capela. Devem datar dessa época as grandes portas maneiristas, hoje montadas a poente e a nascente. Em 1715, o então provedor da alfândega Dr. João de Aguiar mandou levantar uma capela, sendo ali enterrado. Sem contacto com o exterior, abre ao pátio por um dos mais bonitos portais barrocos da região, encimado com a inscrição “Ad Salem Sol”, alusão a Santo António, “O Sol de Salvação do Ocidente”. Nos meados do séc. XVIII, a 31 de março de 1748, um terramoto danificou as instalações, obrigando à revisão do conjunto, pelo capitão Domingos Rodrigues Martins (c. 1710-1781). A reconstrução preservou o edifício manuelino, criando-lhe um pátio interior de articulação com um corpo frente ao mar. As obras beneficiaram dos estaleiros para a reconstrução de Lisboa, destruída pelo terramoto de 1755, de onde se importaram as molduras de cantaria. O edifício ainda sofreu alterações várias ao longo dos séc. XIX e XX, mas perdeu progressivamente interesse militar e a capacidade de responder ao movimento do porto. Não tendo vingado as várias propostas dos meados do XX para a reutilização do imóvel, em 1982, foi decidida recuperar o edifício para instalação da Assembleia Legislativa Regional, até então no salão nobre da antiga Junta Geral. O projeto foi entregue ao arquiteto Raul Chorão Ramalho (1914-2002), começando as obras em 1985 e sendo inauguradas a 4 de dezembro de 1987, com a presença dos presidentes da República e da Assembleia Nacional, da Assembleia Legislativa e do Governo Regional da Madeira, etc. O edifício foi dotado de um conjunto interessante de móveis, assim como de algumas peças relacionadas com a história da Região. Em abril de 1990, remontou-se o antigo portão da bateria, demolido na década de 30 para o acesso de automóveis, inaugurado a 4 de dezembro desse ano, como também a abertura ao culto da capela e a estátua alusiva à “trilogia dos poderes” de Amândio de Sousa (Funchal, 1934-). Rui Carita Professor da UMa

LER MAIS...

A capela do Corpo Santo do Funchal

A confraria do Corpo Santo apoiava os seus confrades na doença e em acidentes, como naufrágios e ataques de corsários, tal como depois nos enterros dos seus membros, às viúvas e aos filhos dos mesmos. Corpo Santo é a denominação popular de S. Pedro Gonçalves Telmo (1190-1246), religioso da ordem dos dominicanos e Prior de S. Domingos de Guimarães. O seu culto aparece associado ao fogo-de-santelmo, eflúvio luminoso que aparece nos mastros dos navios em determinadas condições atmosféricas, e espalhou-se pelas comunidades marítimas do centro e do norte de Portugal e na Galiza, sendo o padroeiro, por exemplo, da diocese de Tui-Vigo. A capela do Corpo Santo do Funchal deve ser uma das mais antigas da cidade, devendo datar dos finais do séc. XV, sendo referência toponímica desde 1497. Entre os finais do séc. XV e os inícios do XVI, os pescadores e marítimos madeirenses organizaram-se em confrarias religiosas sob a devoção do Corpo Santo, devendo a confraria do Funchal ser a mais antiga da ilha. Pouco depois, provavelmente ter-se-iam organizado os marítimos da Calheta, que tiveram uma capela junto da praia, e os marítimos de Câmara de Lobos, na capela da Conceição, cuja reconstrução pagaram. Os marítimos de Santa Cruz e a sua confraria nunca tiveram instalações próprias, funcionando num altar matriz e os de Machico, integraram-se nas confrarias ligadas à Misericórdia daquela vila, na capela dos Milagres. Os do Porto Santo organizaram-se na confraria de S. Pedro, tal como os da Ribeira Brava, dado este santo ser tradicionalmente também o protetor dos pescadores. A confraria e a capela do Corpo Santo do Funchal devem ter gozado de um certo desafogo económico, fruto dos tradicionais “quartões” do pescado feito pelos seus membros, para as campanhas de obras a que capela foi sendo sujeita. O edifício que chegou até nós é dos mais interessantes do Funchal, com um portal de arquivolta apontada, muito simples, por certo do séc. XV e o interior, já produto das reformas dos séculos XVI e XVII. A tábua pintada do orago no retábulo-mor, da primeira metade do séc. XVI, apresenta o Santo a abençoar uma caravela manuelina e deve ser a mais antiga representação de uma embarcação na Madeira. No teto da capela-mor, totalmente coberto por pinturas sobre tela, ainda aparece o santo a acudir um naufrago de uma grande nau, com o pormenor de apresentar as armas de Portugal na popa e um estandarte dos Habsburgo no mastro principal, indicando assim ter sido pintado nos anos da União Ibérica, por volta de 1616. A confraria do Corpo Santo apoiava os seus confrades na doença e em acidentes, como naufrágios e ataques de corsários, tal como depois nos enterros dos seus membros, às viúvas e aos filhos dos mesmos. Nessa área, os marítimos madeirenses estiveram na base da fundação do mutualismo moderno, a partir de 17 de outubro de 1897, quando decidiram a instalação de uma caixa de montepio marítimo. A capela do Corpo Santo encontra-se habitualmente aberta ao público, sendo uma das visitas obrigatórias num périplo pela Zona Velha feita de dia, pois que à noite outros interesses se impõem. Rui Carita Docente da UMa

LER MAIS...
OS NOSSOS PARCEIROS