Já na Universidade Portuguesa, que o rei D. João III fixou nos antigos paços reais de Coimbra, os estudantes estabeleceram uma hierarquia estruturada em títulos oriundos de termos latinos e gregos, atribuídos conforme a sua antiguidade na instituição e mediante as regras que se iam criando. O último patamar incluía todo o indivíduo designado por Veteranus (que embora signifique literalmente velho, era uma reverência exclusiva dos militares mais experientes do exército romano). Os veterani eram liderados pelo guia dos veteranos, em latim Dux Veteranorum.
A Universidade da Madeira, à semelhança de outras universidades, adoptou o título Dux Veteranorum para designar o “expoente máximo da praxe”, quem preside o Conselho de Veteranos. Este é eleito segundo o sistema da monarquia eleitoral, em que os privilegiados (neste caso os membros do Conselho de Veteranos) se reúnem em assembleia e elegem de entre si o novo líder supremo. Desde o primeiro ano lectivo (em 1989-1990) a UMa teve já 7 indivíduos a ocupar o cargo, dois dos quais mulheres.
O primeiro foi o Dux Veteranorum Hélder. Pioneiro líder dos pioneiros, este Dux presidia a uma comissão de Veteranos, formada por estudantes de outras universidades que ingressaram na UMa para terminarem os seus estudos na Região. Na ausência de um Código de Praxe, a sua acção assentava principalmente na mediação de conflitos e fomento da união da comunidade estudantil. Em relação aos caloiros, conforme afirmou em entrevista à Revista em Outubro de 2006, primou a sua liderança por “evitar que os caloiros se tornassem anti-praxe sem motivo forte e justificável”.
Seguiu-se como representante máximo da Praxe o Dux Veteranorum Tito. Foi sob a sua liderança estabeleceu-se, em 1999, a primeira versão do Código de Praxe da UMa e a criação do Conselho de Veteranos e da Comissão de Praxe. Conforme referido por Tito, foi uma época conturbada visto que “a máxima entre os praxistas era: quero, posso e mando”. O Conselho, ao dar os seus primeiros passos como órgão regulador da Praxe, não era universalmente respeitado sendo visto por muitos como uma fachada para os verdadeiros intentos do grupo restrito que queria ver os doutores “controlados e limitados nas suas práticas praxistas”.
Em 2002, acumulando cargos com a Presidência da Direcção da AAUMa, a Dux Veteranorum Clara foi uma das poucas mulheres a liderar os estudantes da Universidade da Madeira e em particular a tradição praxista. A Praxe encontrava-se desorganizada e o papel do Conselho de Veteranos era vazio e desprezado por todos. O Conselho de Veteranos, formado por estudantes mais velhos convidados para tal, articulou-se mais facilmente com a Comissão de Praxe instituindo uma programação ritual ao longo do período de Praxe, dando continuidade às tradições da UMa e estabelecendo novos rituais. “Eram feitas reuniões não muito formais, das quais não havia registo, actas. A partir daí, era programada a praxe e o Conselho de Veteranos em conjunto com a Comissão de Praxe organizava tudo, inclusive a Semana Académica”, referiu.
O Dux Veteranorum David, falecido em Junho deste ano e habitualmente visto como o Dux da Transição ou familiarmente chamado Dox pelos que lhe eram próximos, reestruturou a Praxe, já no ano de 2003. Os órgãos da Praxe, cuja acção havia sido posta em causa devido a incompatibilidades com outros grupos estudantis, viram-se na necessidade de estabelecerem códigos de condutas rígidos para si e para a Praxe. Era importante dar fim à desarmonia que se havia instalado entre diferentes grupos de alunos no ano lectivo 2002-2003, que ameaçava manchar o nome da UMa e criar um fosso entre a liderança praxista, as autoridades estudantis e a própria Reitoria. “O primeiro ano foi para arrumar a casa. Depois, foi ver os resultados obtidos com a introdução das alterações. […] as alterações foram muitas e positivas. A partir daqui a praxe começou a correr melhor.”, referiu o Dux David em entrevista para edição de Outubro de 2006. De facto, foi sob o seu mandato que foi criado um novo Código e regulamentos para o Conselho de Veteranos e para a Comissão de Praxe. Passa a ser obrigatório o uso do traje para praxar e são definidos limites rígidos para a acção de qualquer praxista. Foi também nesse período que surgiram algumas ordens praxistas, apresentadas como grupos de estudantes praxistas ligados por algum ritual académico particular.
Em 2005, com a graduação do Dux David, é eleito presidente do Conselho o Dux Veteranorum Tucano. Vindo de outra academia, este Dux foi caloiro estrangeiro da UMa e rei dos caloiros no seu ano. Tal como o Dux anterior foi uma das figuras mais carismáticas da Praxe da UMa, contudo marcou a sua diferença por uma maior aproximação aos caloiros. Como objectivo principal pretendeu que “o Conselho de Veteranos assumisse uma posição mais reguladora e que a Comissão de Praxe fosse um órgão mais actuante”. O seu mandato, o mais curto até hoje, durou apenas 8 meses, visto ter deixado o cargo ao tornar-se Presidente da Direcção da AAUMa.
Membro do Conselho de Veteranos desde o mandato da Dux Clara, o Dux Veteranorum Braga foi e ainda é o seu membro mais antigo, embora actualmente com o título de Veteranorum Conciliatorum. Diametralmente oposto ao Dux Tucano, o Dux Braga apresentou especial interesse pelos praxistas, sendo que sob a sua liderança (desde 2006) o Conselho que liderava primou-se por um papel de policiamento das actividades praxistas e dos costumes a elas relacionadas. Foi com este Dux que o Código de Praxe foi adaptado às exigências de Bolonha, pelo menos no papel.
Desde Janeiro de 2010, o Conselho de Veteranos é presidido e representado pela Dux Veteranorum Andreia. À semelhança dos três anteriores, também a Dux Andreia foi caloira estrangeira na UMa, possuindo ainda o título Veteranorum Conciliatorum. Nesta altura urge referir que, ao contrário do que alguns pensam, os praxistas (os veteranos em especial) não são indivíduos desleixados dos estudos. Esta veterana, por exemplo, tornou-se Dux Veteranorum após o término de duas licenciaturas sem nunca ter reprovado e encontra-se a terminar um mestrado. O início do seu mandato foi marcado pela saída dos primeiros finalistas totalmente formados em Bolonha e, segundo referiu, ao contrário do que acontecia anteriormente, “só agora estamos realmente adaptados à realidade de Bolonha e à nossa insularidade académica que determina, em muito, a nossa participação ou não na praxe e tradição académica”. Contudo salienta a Dux “a praxe agora, mais do que uma forma de integração é também uma forma de formar consciências. Com o apoio da AAUMa, criamos experiências de solidariedade, de intervenção e formação cívica. Os caloiros são, acima de tudo, estudantes universitários e cidadãos, dos quais se espera serem conscientes e participativos”.
Além do Dux Veteranorum, e a partir deste ano lectivo existe na UMa um Dux Duxorum. Este título trata-se de um estatuto honorífico atribuído pelo Conselho de Veteranos a uma personalidade, antigo aluno da UMa, cuja obra tenha prestigiado a academia. O primeiro detentor desse título, neste caso atribuído postumamente, é o próprio Dux David, o Dux Dox. A sua obra está presente, ainda hoje, no Código de Praxe, no correcto uso do traje, no funcionamento da Praxe, e para sempre será recordado como o primeiro veterano a praxar de capa traçada na Universidade da Madeira.
Carlos Diogo Pereira
Membro Conselho de Veteranos da Universidade da Madeira