Em março deste ano, o Ministério titular do Ensino Superior anunciou que o Programa de Promoção do Sucesso e Redução de Abandono reservou, para 2024, um total de 10 milhões de euros. A tutela também revelou que estão previstos mais 20 milhões de euros para reforçar o financiamento deste programa, no quadro do programa Impulso Mais Digital, que conta com o suporte do Plano de Recuperação e Resiliência. Com o novo ano letivo já em curso, e o primeiro mês de aulas prestes a terminar, surge novamente a pergunta: será que, em 2024, a praxe continua a ser uma forma válida de integrar os novos estudantes no ambiente académico?
No passado, a praxe foi utilizada como uma ferramenta de afirmação política e de protesto por parte dos estudantes, servindo de veículo de crítica satírica ao regime vigente. Atualmente, porém, muitos acreditam que essa prática perdeu o sentido e pode estar a perpetuar comportamentos de humilhação e de abuso de poder. Embora existam relatos esporádicos de incidentes por parte de estudantes de anos avançados sobre os mais novos, ou de transgressões às regras da praxe, não creio que a maioria dos participantes — sejam eles “caloiros” ou “doutores” — incentive ou aceite essas práticas como condutas a serem replicadas fora do ambiente da praxe. Tampouco acredito que a praxe seja uma atividade que não promova o bem-estar para a maioria dos estudantes e que não seja divertida para todos os que nela participam, pois seria de esperar que, após tantos anos, essa tradição não mantivesse a sua popularidade se não fosse considerada, por muitos, uma forma eficaz e acessível de integração, permitindo a criação de novas amizades e de laços de cooperação.
Estudantes exigem respeito pela Universidade da Madeira. Manifestação aconteceu no Colégio dos Jesuítas
A 10 de maio de 2023, o Colégio dos Jesuítas acolheu as comemorações do Dia da Universidade da Madeira. Numa tarde em que se recordaram 35 anos de história da instituição, houve uma manifestação no Pátio dos Estudantes, abordam-se os desafios que a UMa e os seus estudantes enfrentam e prestou-se homenagem aos membros da Academia.
Centenas de estudantes presentes no batismo
“In nomine solenissimae et semper potentissimae praxis”, no sábado, 8 de outubro, centenas de estudantes da Universidade da Madeira reuniram-se para
Mais preocupante do que as atividades da praxe em si, no meu entender, é o facto de haver estudantes que, por diversas razões, não se conseguem integrar adequadamente no meio académico, o que pode contribuir substancialmente para o abandono ou desistência escolar. Certamente, é imprescindível garantir que não ocorram abusos durante as atividades promovidas nas universidades, mas é inegável que, para muitos, a praxe desempenha um papel importante na sua socialização e no sentimento de pertença à comunidade académica. Nesse sentido, as universidades, bem como as associações académicas e estudantis, têm a responsabilidade, especialmente face aos novos programas financiados pelo governo, de criar alternativas que ofereçam aos estudantes que não se identificam com a praxe, a larga maioria, outras formas de integração, igualmente eficazes, acessíveis e capazes de promover o seu bem-estar e sucesso. Acredito que uma comunicação mais clara e transparente, aliada à promoção da diversidade de atividades de integração, poderia contribuir para desmistificar certos preconceitos e ajudar os estudantes a fazer escolhas mais informadas sobre os métodos de integração que lhes pareçam mais adequados e atrativos.
Creio que, em 2024, a praxe, à luz de vários exemplos próximos a mim, e mesmo não a tendo frequentado, continua a ser uma ferramenta válida que auxilia muitos estudantes, não apenas no início, mas também durante todo o seu percurso académico. Naturalmente, e como se espera da Evolução, é essencial que qualquer processo de integração seja promovido pelas instituições e pelas Associações, garantindo a pluralidade e a abrangência na ação. A vida académica envolve a participação cívica e estudantil, incentivando um espírito de formação de estudantes interventivos e interessados pelo bem-estar da sua comunidade e sociedade.
Tiago Caldeira Alves
Secção de Política do Ensino Superior da AAUMa
O PEÇO A PALAVRA, uma produção da ACADÉMICA DA MADEIRA na TSF MADEIRA, pode ser ouvido em direto na rádio, quinzenalmente às quartas-feiras, ou através das plataformas de podcast.