O associativismo e a juventude

O associativismo e a juventude

O DIÁRIO DE NOTÍCIAS da Madeira recebe um espaço de opinião com o painel do PEÇO A PALAVRA, uma produção da ACADÉMICA DA MADEIRA na TSF MADEIRA. Neste episódio, o tema é a participação cívica dos jovens no associativismo.
Ismael Da Gama, do painel do PEÇO A PALAVRA de 5 de junho de 2024, um programa da TSF Madeira 100FM e da ACADÉMICA DA MADEIRA.

A cidadania ativa tem, através do associativismo jovem, um dos seus palcos de atuação mais produtivos. Se há países, como a Finlândia e a Suécia, em que mais de 70% dos jovens estão envolvidos em organizações de voluntariado ou associações jovens, em Portugal ainda estamos com valores muito baixos de envolvimento, a rondar os 30%. Haverá, de acordo com a literatura científica sobre o tema, algum receio que a carga de trabalho associativo possa prejudicar a vida pessoal, profissional e académica. Além disso, alguma falta de espírito cívico influenciará negativamente o interesse que os jovens têm em realizar atividades associativas de voluntariado, tendo uma base altruística na sua atuação.

No associativismo estudantil, os voluntários assumem um compromisso de dar continuidade a projetos e atividades que envolvem a comunidade académica. O compromisso passa por satisfazer o nosso eleitorado, os estudantes, e conciliar a missão política com a sustentabilidade financeira. Este binómio não é claro para todos, uma vez que no passado as estruturas assumiram uma expressão maioritariamente reivindicativa – a Crise Académica de 1969 serve como evidência disto – contribuindo até para a mudança de regime do país. Com a passagem do milénio, e com todos os seus progressos, o registo financeiro passou a ter maior expressividade em vários atores do movimento. Atualmente o associativismo passa não só pela reivindicação como pela preservação das tradições culturais, mas com uma vertente financeira para garantir a viabilidade associativa e o desprendimento de uma dependência excessiva estatal.

Esta abordagem reforça o poder das estruturas, tornando-as mais capazes e autónomas. Porém, existe um risco evidente para os que tomam posse, uma vez que a maioria complementa as suas funções com os deveres curriculares numa fase onde a falta de experiência e a responsabilidade pública e institucional pesam.

Confesso que, pela minha vivência do movimento estudantil, a participação no Associativismo é uma experiência frutífera e extraordinária, em que consigo corroborar os indicadores partilhados pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, que destaca que os jovens que participam em atividades associativas ou de voluntariado desenvolvem competências transversais, como a liderança, o trabalho em equipa, a resolução de problemas e a comunicação. O retorno deste investimento é mais que evidente, as competências desenvolvidas neste meio são altamente valorizadas no mercado de trabalho, impulsionando outro indicador que destaca que os jovens que participam em associações ou em voluntariado têm 30% maior probabilidade de encontrar emprego do que aqueles que não o fazem.

A mudança da participação cívica, entre os jovens e as outras gerações é evidente. Existe uma clara dessincronização na forma de participação, sendo de realçar que, se cerca de 20% dos jovens participavam ativamente em partidos políticos, em 1983, esse número caiu para menos de 7%, em 2o2o. Esta queda é atribuída a uma crescente desilusão com a política tradicional e à perceção de que os partidos políticos não refletem adequadamente as preocupações e os interesses da juventude.

Acredito que o associativismo jovem tem um papel preponderante para contribuir e aperfeiçoar a democracia e todos os mecanismos de participação e representação ativa, apostando na qualificação e formação de jovens que, no futuro, serão os mais aptos para liderar e fazer a diferença.

Ismael Da Gama
Secção de Política do Ensino Superior da AAUMa
Com fotografia de Henrique Santos.

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