O processo de integração dos recém-chegados, caloiros, no Ensino Superior é normalmente a primeira definição que surge quando se pensa em praxe.
Não obstante a ajuda na transição do Ensino Secundário para o Superior ser uma base fundamental em torno daquilo que se entende por praxe, esta ultrapassa largamente esse conceito. No seu sentido mais amplo a praxe académica é um conjunto de usos e costumes existentes entre os estudantes de uma determinada universidade. Um caminho que se inicia com a vida de caloiro, evolui para a vida de praxista e para muitos acaba de forma aparente com o Corte ou com a Queima das Fitas.
Diferentes fases são assim assinaláveis, e em todas elas se obtêm diferentes ensinamentos, se adquirem diferentes posturas e competências mas em comum têm um sentimento, o espírito académico.
É este espírito académico que esta tradição tende a fomentar: o espírito de companheirismo, solidariedade, interajuda e de fraternidade, presente logo nos rituais iniciáticos, entre os bichos que se agrupam em manadas nos seus cursos, gritando com orgulho pela Universidade enquanto passam pela bênção, sobre forma de praxe, dos seus vilões, doutores e veteranos.
Estes e muitos outros valores são transmitidos dos mais velhos para os mais novos, numa constante e dinâmica partilha de experiências que acabam por criar laços de amizade transversais a estas actividades.
Ainda nesta linha de transmissão de valores também se assistem às chamadas praxes solidárias. Iniciativas como a Cadeados Pela Vida, da luta Portuguesa Contra o Cancro, realizada no ano anterior e que contou com a colaboração de praxistas e caloiros de vários cursos, são apenas um dos muitos e cada vez mais frequentes exemplos dos princípios de responsabilidade social existentes entre a comunidade académica e que a praxe pretende incutir.
Nunca podendo ser uma forma de libertação de frustrações ou de qualquer acto que possa ferir física e psicologicamente, esta possui regras bem definidas e órgãos para as fazer cumprir.
A sua actividade é organizada por uma comissão composta por todos os elementos da academia a esta vinculados, regulada por um código onde estão estabelecidos direitos e deveres dos quais todos, sem excepção, devem cumprir, para manter viva a tradição, o bom funcionamento e, por fim, monitorizada por um órgão máximo, o Conselho de Veteranos (CV). Ao cuidado do CV não estão apenas caloiros, estão todos os praxistas. Este órgão tem, assim, o papel de fazer cumprir o código, de impedir excessos durante a praxe e, se necessário, sancionar praxistas e caloiros com o objectivo de a tornar o mais divertida e segura possível para todos.
Em suma, a praxe é uma herança de valores em torno de um estilo de vida cultivado num percurso de caloiro a finalista, que no fundo é ad eternum, ficando para sempre gravada nas fitas as memórias, risos e histórias da época de estudante para mais tarde recordar com saudade.
David Freitas
Membro do Conselho de Veteranos