A percentagem de estudantes que abandonam o Ensino Superior após o primeiro ano voltou a crescer em Portugal. De acordo com os dados agora divulgados pelo InfoCursos, referentes ao ano letivo de 2023-24, “o abandono escolar após o 1.º ano de licenciatura voltou a aumentar nas instituições de Ensino Superior (IES), ficando-se nos 11,21%”. Embora o aumento seja ligeiro face ao ano anterior (10,96% em 2022-23), os números mantêm aceso o alerta para um problema persistente.
As causas são conhecidas e, para os responsáveis estudantis, pouco surpreendentes. Ricardo Freitas Bonifácio sublinhou que “não basta garantir o acesso ao Ensino Superior; é preciso garantir condições reais para que os estudantes possam permanecer e concluir os seus cursos”. O líder estudantil, em declarações à ET AL, alertou que “muitos estudantes entram no Ensino Superior com grandes expectativas, mas sem apoios suficientes acabam por perceber que não conseguem manter-se. Não é uma questão de esforço, é uma questão de sobrevivência”.

Exaustão e falta de pertença são razões que levam ao abandono da formação superior
Relatório apresentado em julho, pela Fundação “La Caixa”, indica que a exaustão académica, um reduzido sentimento de pertença e fracos resultados académicos são os principais fatores de risco que levam ao abandono do ensino superior.

João Sàágua defende fusão da FCT e ANI como passo necessário
João Sàágua defendeu no PÚBLICO que a fusão da FCT com a ANI representa uma oportunidade para reforçar a eficácia e
Nos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP), os dados revelam que 28,1% dos alunos abandonam o curso, e no caso das licenciaturas, 26,9% dos que desistem ainda estavam a estudar. A situação é particularmente grave nesses cursos. Mesmo considerando os que continuam noutras formações, os números deixam claro que a transição entre o secundário e o ensino superior continua longe de ser bem-sucedida para todos.
Muitos destes jovens não abandonam porque querem, mas porque não conseguem manter-se. A pressão financeira é real: o custo de vida, a falta de alojamento acessível e as exigências associadas às bolsas de estudo, que podem ser canceladas se o aproveitamento não atingir metade dos ECTS do ano curricular, tornam o percurso insustentável para quem não tem uma rede de apoio sólida. As desistências são mais frequentes entre estudantes de percursos não tradicionais, como os que vêm de cursos profissionais, já habituados a alternar entre diferentes formações e, muitas vezes, com responsabilidades familiares ou de trabalho. São trajetos marcados por mais obstáculos e menos margem para falhar.

A escola, a pressão e o futuro na vida dos estudantes
A antena da rádio TSF recebe mais uma emissão do PEÇO A PALAVRA que apresenta três estudantes que lideram as associações de estudantes do Liceu, da Francisco Franco e da Levada.

Integração dos novos estudantes analisada na UMa
OBSERVATÓRIO DA VIDA ESTUDANTIL promove uma recolha de dados inédita junto dos estudantes da UMa para aferir vários aspetos sobre a
Ainda assim, nem tudo são más notícias. Cerca de 72,9% dos estudantes que ingressaram no ensino superior em 2017-18 concluíram a licenciatura com sucesso, segundo os dados oficiais. Nas áreas da Saúde e Proteção Social, essa taxa sobe para 74,8%, refletindo uma maior estabilidade e atratividade desses cursos. Também o desemprego entre recém-diplomados registou melhorias: apenas 2,4% estavam inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional em 2024, o valor mais baixo desde 2017.
A descida nas estatísticas do desemprego pode esconder outras realidades: trabalho precário, estágios mal remunerados ou a saída do país em busca de melhores condições. Mais do que garantir o acesso, o desafio passa por assegurar que estudar no Ensino Superior não seja um privilégio, mas uma oportunidade real para todos.
Luís Eduardo Nicolau
Com Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Reed.