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Inclusão e abandono, interligados ao acaso?

Mensalmente, a ACADÉMICA DA MADEIRA tem um espaço de opinião no JM Madeira. Este mês, Ricardo Freitas Bonifácio, um dos responsáveis pela pasta da cultura na ACADÉMICA DA MADEIRA e por outras atividades e programas de apoio aos estudantes da Universidadade da Madeira, escreve sobre a saúde mental.
Ricardo Freitas Bonifácio, Presidente da Direção da ACADÉMICA DA MADEIRA.

O percurso universitário tem um enorme impacto nas nossas vidas e todo o seu processo acaba por ser uma montanha-russa emocional. Um dos pontos mais debatidos na actualidade é o quão desgastante é a sua experiência universitária sem desconsiderar todos os aspectos positivos que os estudantes reconhecem na vida académica. São notórias, apesar de pouco exploradas dentro da própria Academia, as dificuldades na aceitação e na inclusão nos grupos sociais que formam o quotidiano de um estudante universitário.

Muitos jovens sentem dificuldades em integrar-se no Ensino Superior, sendo que, por vezes, são até mesmo impedidos de o fazer, devido à sua etnia, ao seu género, à sua orientação sexual, à sua religião ou por qualquer questão social ou económica. Passadas duas semanas em que foi assinalado, pela ACADÉMICA DA MADEIRA, o Dia Internacional da Luta contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia, os assuntos abordados nesse momento de luta remetem-nos para a possibilidade de um futuro em que estas problemáticas não existirão e, consequentemente, não terão um impacto negativo na vida de qualquer estudante. Foi, portanto, propositada a apresentação do nosso novo programa, MENTES BRILHANTES, nesse dia de reflexão e manifestação. Este programa tem como objectivo a garantia da saúde mental dos estudantes, para usufruírem desta fase da sua vida da maneira mais saudável e, consequentemente, mais vantajosa para o futuro.

Estes temas, a inclusão social e a saúde mental, quando não são cuidados, falados ou promovidos junto da comunidade, configurando-se como tabus, acabam por se tornar um impulso para o abandono ou desistência escolar. Se o ambiente não for saudável, ou se o indivíduo for vítima de constantes ataques, assédios ou outros tipos de violência por parte de membros da comunidade, será conduzido para a perda da motivação e a vontade de lutar pelo seu futuro, além de outros problemas mais graves e comprometedores da sua saúde física e mental, incluindo a sua própria vida.

O insucesso académico, o defraudar de expectativas em relação ao curso escolhido, a dificuldade em conciliar os estudos com outras actividades, as dificuldades económicas, a pressão social, entre outros problemas acabam por influenciar a saúde mental dos estudantes podendo conduzir a episódios que levam à desistência ou ao abandono do ano curricular.

Não será fruto do acaso que, em cada ano lectivo, sejam 15 mil estudantes que, depois de ingressarem no Ensino Superior, desistem ou abandonem os cursos. Segundo um estudo da Direcção-Geral de Estatística da Educação e Ciência, a taxa média de abandono de uma licenciatura, apurada entre 2011-2012 e 2014-2015, foi de 29%. É normal que, com o aumento de inscritos no Ensino Superior, esse fenómeno acompanhe o crescimento observado. De igual forma, somos incapazes de identificar, como seria esperado, as verdadeiras razões pelas quais as desistências têm vindo a ocorrer, sendo que, em diversas situações, pressupomos que muitas destas são causadas por motivos económicos. Colocar a tónica que justifica todo o fenómeno do abandono e das desistências na problemática financeira é eclipsar os restantes problemas e, mais do que isso, deixar de entendê-los e, por consequência, combatê-los até à sua resolução.

Estas problemáticas, que afectam milhares de pessoas em Portugal, também têm a sua solução dentro dos núcleos sociais, dos amigos, dos colegas e das famílias. Não apenas as instituições desempenham um papel preponderante nesta luta, mas todos nós, membros de uma comunidade académica, que se quer coesa, devemos desempenhar um papel activo junto dos colegas. Dessa forma, todos poderão contribuir para criação de recursos, de acções de sensibilização, de projectos ou de iniciativas que possam cativar toda a comunidade e falar sobre estas questões. Devemos compreender que o Ensino Superior também é rico em fenómenos que necessitam de uma abordagem particular, mas, em muitos casos, interligada para que a solução possa ser mais eficiente e, dessa forma, os estudantes, e a sua comunidade, continuem a percorrer um caminho de sucesso pessoal, profissional e académico.

Ricardo Freitas Bonifácio
Diretor-adjunto
Departamento de Cultura
ACADÉMICA DA MADEIRA

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