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60,2% dos estudantes inquiridos não consideram que o percurso académico até ao 12.º ano os preparou

Os resultados do Inquérito anual das dificuldades dos estudantes 2021-2022 foram divulgados pela ACADÉMICA DA MADEIRA. O inquérito por questionário foi aplicado entre os dias 27 de abril e 2 de junho de 2022. Teve uma amostra de quase seis centenas de inquéritos válidos, a maior recolhida desde 2012, data do primeiro estudo.

A edição de 2021-2022 do Inquérito anual aos estudantes da Universidade da Madeira foi promovida pelo OBSERVATÓRIO DA VIDA ESTUDANTIL da ACADÉMICA DA MADEIRA, entre os dias 27 de abril e 2 de junho de 2022, envolvendo dezenas de voluntários da estrutura representativa dos estudantes.

Segundo, a ACADÉMICA DA MADEIRA, “inquérito sobre as dificuldades dos estudantes, realizado anualmente, é um dos instrumentos que tem sido aplicado como forma de identificação das necessidades e dos constrangimentos que têm implicações no acesso e na continuidade dos jovens no Ensino Superior”.

“85 pessoas que aceitaram responder a este questionário, indicaram que já foram vítimas de algum tipo de assédio ou de violência na Universidade”

O relatório divulgado pela ACADÉMICA DA MADEIRA é a análise, realizada nos meses seguintes, ao inquérito por questionário aplicado presencialmente em papel. O processo de inserção de dados, verificação e posterior análise dos resultados, decorreu no final da primavera de 2022, seguido da análise dos dados.

O OBSERVATÓRIO DA VIDA ESTUDANTIL indica de que se trata “de uma amostra por conveniência, pelo que os dados apresentados têm um valor estritamente exploratório, não devendo ser interpretados como representando, com maior ou menor grau de incerteza ou margem de erro, a população estudantil da UMa”. Ainda assim, “apesar de inadequado para a existência de extrapolações da amostra para o universo, os dados recolhidos não deixam de indicar pistas interessantes a serem exploradas em estudos futuros mais aprofundados”, como adiantam os promotores.

“um dos instrumentos que tem sido aplicado como forma de identificação das necessidades e dos constrangimentos”

No ano letivo de 2021-2022, o inquérito sobre as dificuldades dos estudantes teve uma amostra de 591 inquéritos válidos. Esta quantidade de alunos inquiridos representa cerca de 17% da população total de estudantes do Ensino Superior na Universidade da Madeira (3389). Da amostra total, 54,8% corresponde ao número de inquiridos do sexo feminino, enquanto que 42,8% são do sexo masculino.

Regista-se um certo equilíbrio nas percentagens dos sexos masculinos e femininos, com valores, respetivamente, de 42,8% e 54,8%. A restante percentagem (2,4%) preferiu não dizer ou identifica-se como “outro” respetivamente ao sexo.

Do total de inquiridos, 78,5% dos estudantes estão a realizar a licenciatura. Tendo em conta o n.º total de estudantes inscritos numa licenciatura este ano letivo (2414), o valor representa 19% dos estudantes. Seguem-se os estudantes de mestrado (12,9%), os estudantes de doutoramento, CTeSP e também os estudantes inscritos noutro tipo de curso/ciclo de estudos, representando no total 8,5%.

Dos inquiridos, houve uma predominância da opção “outro” relativamente ao ano em que está inscrito, representando uma percentagem de 42,6%. Os estudantes matriculados no 1.º ano do seu ciclo de estudos traduzem-se em 34,5% do total de inquiridos, seguindo-se os finalistas, com 22,8%.

A larga maioria dos inquiridos (73,6%) possui bolsas e apoios monetários para a frequência do curso. Os restantes 26,4% não possuem bolsas por não serem candidatos ou por terem sido recusados na candidatura às mesmas.

Nas respostas ao pedido “Indica as despesas (máx. de 3) que mais pesam no teu orçamento”, prevalece o valor da opção “propinas”, com 84,4%. Dos 591 inquiridos, 499 estudantes consideram ser esta a despesa que mais pesa no seu orçamento. Destacam-se, também, como despesas relevantes, a de alimentação (com 56,7%) e as relativas a transporte que, somadas, preocupam 79,2% dos inquiridos (46,2% com gasolina e 33% com passe).

Há uma prevalência de estudantes que responderam nunca ter colocado em hipótese o abandono escolar. Porém 40,9% dos inquiridos já pensaram em abandonar o curso.

No universo dos 40,9% dos inquiridos que indicou já ter pensado em desistir do curso, a falta de motivação (59,5%) e o sentimento de não conseguir realizar todos os trabalhos ou exames propostos (49,2%), foram as justificações mais apontadas.

Os valores demonstram que 60,2% dos estudantes inquiridos não consideram que o percurso académico até ao 12.º ano os tenha preparado para a realidade curricular do Ensino Superior.

A necessidade de apoio psicológico demonstrou ser um fator relevante no percurso académico, pois cerca de metade dos alunos inquiridos (46,7%) indicou já tê-la sentido.

Para os estudantes que deram resposta afirmativa à necessidade de apoio psicológico, 52,2% não procuraram ajuda. A restante percentagem dos estudantes (47,8%) procurou apoio dentro ou fora da Universidade.

 

Pela análise do gráfico abaixo, verifica-se haver estudantes que sentem ter vivido situações de assédio e de violência na Universidade da Madeira. Dos 591 inquiridos, 11,3%, ou seja 85 pessoas que aceitaram responder a este questionário, indicaram que já foram vítimas de algum tipo de assédio ou de violência na Universidade.

Deles, 29 alunos responderam terem sofrido de violência verbal, e cinco de violência física. 19 estudantes indicaram que foram vítimas de assédio moral, e 27 identificaram como de natureza sexual o assédio de que foram vítimas. Cinco alunos responderam terem sofrido de outro tipo de assédio ou violência.

Cerca de 10% respondeu “sim” à pergunta “Reportaste a situação a alguma entidade?” e, mesmo que a amostra deste inquérito não pretenda ser representativa, tal significa que 85 estudantes da UMa se identificam como vítimas de violência ou de assédio de qualquer forma. 52,3% não reportaram a situação por vergonha ou por desconhecimento, e outros 41,5% preferiram não dizer se chegaram reportar a alguém competente. Apenas 6,2% dos estudantes que sofreram assédio ou violência reportaram a uma entidade.

Para a ACADÉMICA DA MADEIRA, “após análise dos dados recolhidos através do inquérito sobre as dificuldades dos estudantes, podemos destacar alguns aspetos e relacionar fatores que poderão realmente dar ferramentas para a melhoria das condições e do acompanhamento da população estudantil madeirense”.

“6,2% dos estudantes que sofreram assédio ou violência reportaram a uma entidade”

“Tal como em anos anteriores, o inquérito tratou numa mesma categoria lata as bolsas ou apoios monetários, que inclui as da DGES, do governo regional, de câmaras municipais, de juntas de freguesia, entre outros. São uma mais valia para grande parte dos estudantes inquiridos, sendo que 73,6% beneficiam de um qualquer apoio desta natureza”, adiantou a ACADÉMICA DA MADEIRA.

No percurso académico, uma variável que está a ganhar preponderância no sucesso escolar é a boa saúde mental dos estudantes. Os resultados do inquérito, pesados nos estudos que têm sido realizados nesta área em Portugal e no estrangeiro, indicam que o bem-estar psicológico é essencial quando se verifica que 40,9% dos inquiridos já ponderaram desistir do curso. A falta de motivação, o sentimento de não conseguir realizar os trabalhos ou exames propostos e mesmo a sensação de não ter feito uma boa escolha do curso são as principais razões apontadas pelos inquiridos. Tal estado de espírito pode levar à desistência, ao abandono ou à suspensão da vida estudantil, pelo que aspetos como a desmotivação, a insegurança, a incerteza e a insatisfação dos alunos devem ser ponderados no apoio que lhes é dado e nas políticas de luta contra o abandono escolar.

“40,9% dos inquiridos já ponderaram desistir do curso”

Relacionado com o descrito, pesa também o facto de 60,2% dos inquiridos considerarem que até ao 12.º ano de escolaridade não tiveram preparação para a realidade curricular do Ensino Superior. A sensação de desfasamento entre níveis de ensino sucedâneos frustra muitos estudantes ao chegarem ao Ensino Superior. Tal reflete-se nos seus resultados escolares, no seu índice de satisfação, no seu estado de espírito, nas decisões tomam, na sua manutenção no Ensino Superior e, finalmente, tem nas implicações diretas no seu futuro profissional.

Estas variáveis tornam-se cada vez mais preocupantes para os alunos, podendo justificar que cerca de metade dos estudantes inquiridos (46,7%) sinta necessidade de apoio psicológico e destes, apenas 47,8% procuraram ajuda, dentro ou fora da universidade. Isso significa que mais de metade dos estudantes (52,2%) sente que tem necessidade de apoio psicológico, porém, não procura ajuda.

“60,2% dos inquiridos consideraram que até ao 12.º ano de escolaridade não tiveram preparação para a realidade curricular do Ensino Superior”

Os estudantes participantes deste questionário, quando inquiridos sobre o assédio e a violência na Universidade, revelaram resultados que poderão ser considerados preocupantes. Cerca de 10% dos estudantes inquiridos responderam já terem sido assediados ou terem sofrido de violência de diversas naturezas, na Universidade, com especial incidência no assédio sexual e na violência verbal, respetivamente.

Como referido no início deste texto, o inquérito da ACADÉMICA não teve uma amostragem com pretenção de refletir o universo da comunidade académica da UMa. Há, porém, um número apreciável de alunos, aqui questionados, que, para além das suas dificuldades, sofre deste tipo de agressão que influencia o seu percurso académico. E, no final, estamos de assédio e violência, problemas que, independentemente da sua índole, são contrários aos Direitos Humanos e à legislação portuguesa.

“10% dos estudantes inquiridos responderam já terem sido assediados ou terem sofrido de violência”

Nas respostas afirmativas que se obteve em relação às situações de assédio ou violência na Universidade, mais de metade dos estudantes (52,3%) não reportou a sua experiência a qualquer entidade, apontado como razão da sua escolha a vergonha (21,5%), ou o desconhecimento (30,8%). 41,5% dos estudantes alvo de assédio ou violência na Universidade, preferiu não detalhar ter tomado ou não qualquer medida de participação da ocorrência. Foram contabilizados apenas 6,2% de estudantes inquiridos que reportaram as suas situações a uma autoridade competente ou a uma instância da Universidade.

Estes valores demonstram que apesar dos estudantes sofrerem com estas situações no contexto universitário, a maioria prefere não partilhar ou reportar a sua situação a uma entidade competente, por vergonha, desconhecimento, medo, insegurança, ou então não se sente confortável a expor a situação em que se encontra. Isto é um indicacor que é necessário trabalhar a comunicação e a confiança entre os alunos e quem as instâncias competentes que os podem ajudar.

Carlos Diogo Pereira
Com Raul Silva
ET AL.
Com fotografia de Ben Mullins.

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