Rúben Castro e Manuel Salvador Roldán apresentam VIDAS (DES)CONHECIDAS: VICENTE JORGE SILVA

Um menino que nasceu e cresceu no Funchal e que adorava filmes. Bem poderia começar assim esta história, como em todos os contos para a infância e juventude. O menino Vicente tornou-se jovem e foi correr mundo. O jovem tornou-se adulto e fez-se jornalista. Ainda antes do 25 de Abril de 1974, Vicente Jorge Silva fundou, com amigos, um jornal, o Comércio do Funchal e, a partir daí, já a viver em Lisboa, ajudou a desenvolver vários periódicos nacionais, como o Expresso, e fundou o Público.
Vicente Jorge Lopes Gomes da Silva, eleito pelo Partido Socialista, foi deputado pelo círculo de Lisboa na Assembleia da República, acabando por renunciar a meio do mandato.

Vicente Jorge Lopes Gomes da Silva (Funchal, 1945-2020) foi um jornalista, cineasta e político madeirense. Pertencente a uma das mais prestigiadas famílias de fotógrafos nacionais, a casa onde cresceu é atualmente o Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s, que mantém o estúdio dos seus antepassados, fotógrafos oficiais da imperatriz Isabel de Áustria e da Casa Real Portuguesa.

Chamado “Vicente” como os avós e “Jorge” como o pai, o jovem cedo desenvolveu uma paixão pelo cinema, começando por escrever críticas para o Jornal da Madeira nos tempos do Liceu. Pelos modos irreverentes e até por se mostrar contra a ditadura, no fim da adolescência foi enviado pelos pais para fora de Portugal, evitando perseguição política. Viveu e trabalhou no Reino Unido e em França e foi, aliás, em Paris que travou amizade com a escritora e ativista política Maria Lamas, ela própria perseguida pelo Regime.

Em 1966, de regresso à Madeira, tornou-se redator-chefe do Comércio do Funchal, a quem chamavam “o cor-de-rosa”, devido à cor do papel de impressão, ligado à oposição à ditadura. Esta publicação chegou a ter uma tiragem de 15.000 exemplares sob a sua liderança, estando presente nas bancas de várias cidades portuguesas, muito além do território madeirense. Em 2017, o Museu de Imprensa da Madeira realizou uma exposição, inaugurada a 20 de janeiro pelo próprio jornalista.

O menino Vicente tornou-se jovem e foi correr mundo. O jovem tornou-se adulto e fez-se jornalista

Integrou várias outras publicações portuguesas, mas foi a sua passagem pelo Expresso e pelo Público que o tornaram conhecido da maior parte dos portugueses. No primeiro, Vicente Jorge Silva liderou a redação e foi um dos responsáveis pela criação da sua Revista. Esteve, posteriormente, envolvido na fundação do Público de que foi o primeiro diretor e onde, em 1994, cunhou a expressão “geração rasca” a propósito do comportamento de alguns estudantes em manifestação contra as medidas tomadas pelo governo de Aníbal Cavaco Silva.

A par do jornalismo, dedicou-se à sua paixão de juventude, assinando alguns filmes, curtas e longas-metragens, entre os quais Porto Santo (1997), com Ana Zanatti, Beatriz Batarda, José Eduardo e João Didelet, entre outros. Esta longa-metragem filmada na ilha dourada integrou o Festival Internacional de Genebra.

Os FATUM com atuações no Reino Unido em janeiro e fevereiro

Durante 9 dias, os FATUM estarão pelo Reino Unido com várias atuações, destacando-se vários encontros com a comunidade madeirense radicada no país. CONTINHOS POPULARES MADEIRENSES e MADEIRA ILUSTRADA, editados pela ACADÉMICA DA MADEIRA, também estarão em destaque nas Ilhas Britânicas.

As eleições legislativas, de 2002, iniciariam o governo de Durão Barroso. Vicente Jorge Silva foi, então, eleito pelo Partido Socialista, como 9.º deputado pelo círculo de Lisboa na Assembleia da República, acabando por renunciar a meio do mandato.

Após uma vida dedicada à comunicação e à luta pela liberdade de expressão, Vicente Jorge Silva faleceu com 74 anos de idade na cidade que o viu nascer.

A obra pode ser adquirida nas principais livrarias do país.

Timóteo Ferreira
ET AL.
Com fotografia DR.