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Deodato Rodrigues apresenta um romance que trata uma saga familiar

29 de junho, no Colégio dos Jesuítas, a CADMUS lança O INTENSO LABOR DOS TENTILHÕES, romance inédito de Deodato Rodrigues passado na Ilha da Madeira nas últimas décadas do século XX.
O INTENSO LABOR DOS TENTILHÕES, de Deodato Rodrigues, foi editado pela CADMUS em junho de 2023.

O intenso labor dos tentilhões é o título da obra de estreia de Deodato Rodrigues, com capa da autoria da artísta plástica Luísa Spínola, e edição da Cadmus, chancela da ACADÉMICA DA MADEIRA. Trata-se de um romance que, em vários episódios relatados do ponto de vista de diferentes personagens, nos contam a saga de uma família ao longo de três gerações.

Lançamento no Colégio dos Jesuítas, a 29 de junho, a partir das 18:00.

Nome conhecido no panorama desportivo e educativo da Madeira, Deodato Rodrigues fala-nos da sua obra que promete mexer com o sentimentos do leitor.

Conte-nos um pouco como nasceu o autor Deodato Rodrigues após muitos anos ligado à educação e à administração pública regional.

O autor, que agora se expõe, descobriu-se nessa condição há muitos anos, porventura os suficientes para ter atingido o momento em que já não há plano que não seja o de recuperar, transformar e dar forma final às inúmeras produções que amarelaram em papel ou hibernaram em suportes digitais. A bem dizer, passei a vida a escrevinhar, sem que isso comprometesse os desempenhos profissionais a que me dediquei, antes pelo contrário.

Foi um exercício tão prazeroso, como inacabado e inconsequente. Do que não destrui ou perdi, sobraram inúmeros marcos que sinalizam esse percurso, a que regressei, nos últimos tempos, com a ambição de os reconstituir e dar-lhes forma final. Foi o que aconteceu com ‘O Intenso Labor dos Tentilhões’ e com um segundo livro que já considerei apto a ser colocado na linha de edição.

Estou a terminar um terceiro exemplar e a trabalhar numa coletânea de contos. Já não há volta a dar.

No Prólogo, afirmou: «A vida de uma dessas raparigas anónimas serviu de inspiração inicial para o que aqui fica registado». Seria muita indiscrição se perguntássemos quem era esta rapariga?

Seria, certamente. A partir do momento em que o fizesse, não só estaria a ocupar o espaço de interpretação e descoberta de cada leitor, como teria a obrigação de proceder de idêntico modo com outras personagens. Acresce que se trata, como cita, de uma inspiração inicial. É incontornável que a forma final que é conferida a essa personagem nada tem a ver com a pessoa real que constituiu o tal ponto de partida. É esta forma final que interage com os outros protagonistas, afinal tão verdadeiros como cada leitor decida e tão inverosímeis como se lhes pareça.

Uma das virtudes próprias do romance é essa de proporcionar aos leitores um roteiro suscetível de ser cumprido das mais diversas maneiras, com propósitos distintos e ilações tão legítimas como incomparáveis. É também o respeito por esses propósitos e por essas ilações que me proíbe a identificação que a pergunta solicita.

Conte-nos um pouco mais como se desenvolveu o processo criativo desta narrativa conjugando um elemento da realidade das suas vivências com a ficção?

Devo confessar, em primeiro lugar, que o projeto inicial foi de tal modo questionado e refeito que já nem me lembro bem dele. Ainda que admitindo esse tal ponto de partida real, a verdade é que a narrativa se revelou emergente, ganhou contornos imprevistos em espaços, tempos e modos que as personagens ocuparam com propósitos, emoções e sentimentos próprios, cuja individualidade não impediu a concretização de sonhos e ambições comuns.

A inspiração inicial não foi mais que a janela que se abriu sobre a imensidão da vida humana, permitindo que a narrativa comportasse diversas facetas dessas existências, ora tristes e dolorosas, ora felizes e gratificantes. O resto foi andar para trás e para a frente, corrigir e acertar, substituir e consolidar, até que a forma encontrada pareceu apta a ser exposta à apreciação pública, através da edição.

Nesta saga familiar reside aquilo que se poderia chamar de um heroísmo da vida moderna, de homens e mulheres comuns, comuns até na atividade profissional da contemporaneidade madeirense – uma empresa familiar de construção civil. Que elementos de singularidade, dentro da normalidade, poderia destacar na construção do enredo e das suas personagens?

A narrativa comporta, de facto, esse heroísmo cujos intérpretes são homens e mulheres comuns. Isso é patente nos casais que se constituem ao longo do enredo – Manuel Pedro e Angelina, Pedro Salvador e Eunice, da mesma família, mas igualmente João Fernandes e Priscila, que sem terem laços consanguíneos com o clã, na verdade o integram. Obviamente, essa possibilidade de heroísmo implica não só que alguns alcancem vitórias sobre pessoas adversas e circunstâncias constrangedoras, mas também a derrota de outros, como é o caso do casal constituído pelo juiz e pela sua esposa.

Talvez seja possível dizer-se ainda que o trajeto de José Manuel Melro expressa que as melhores capacidades e intenções nem sempre conduzem ao sucesso. Todas essas personagens, que são centrais na narrativa, apresentam elementos peculiares, evidenciando sentimentos nobres que são tão relevantes como a perseverança e a inabalável crença da transformação positiva das suas vidas. Tudo isso terá o valor que cada leitor muito bem entender.

A personagem Ester/Eunice parece retratada de forma muito mais destacada do que as outras personagens femininas; aliás, ela é objeto de grande admiração pelo Melro (alter ego do autor?). Ester/Eunice é, de facto, a protagonista da narrativa?

Comecemos pela possibilidade do alter ego do autor. Numa determinada etapa da minha vida, produzi cadernos publicitários. Obviamente, essa condição não terá sido inócua na construção da personagem José Manuel Melro. Daí até poder considerá-lo alter ego há um espaço muito grande de interrogações que não me permitem fazê-lo.

Vamos então a Eunice, cujo nome, dada a sua associação à deusa grega Atena Nike, condiz com a ideia daquela que luta e vence sempre. Essas circunstâncias, patentes desde o momento em que amarra a sua vida à de Pedro Salvador até à forma como conduz a empresa familiar, conferem-lhe um protagonismo muito relevante ao longo de toda a narrativa. Mas esse protagonismo pode ser repartido com a bondade e ambição do seu sogro, Manuel Pedro, a coragem e a resiliência da sua sogra, Angelina, a bonomia e a clarividência de João Fernandes, o arquiteto, a forma intensa e admirável como a vida é encarada por Priscila, a filha do casal em cuja casa Angelina serviu de criada. E, como não podia deixar de ser, com a paixão e a sabedoria com que Pedro Salvador aceita que seja Eunice a marcar o ritmo da vida do casal e da família, da empresa e dos negócios, neste caso após o falecimento de Manuel Pedro.

Em suma, assumir que há um protagonista central na narrativa é, para mim, uma opção muito difícil. Uma vez mais, a palavra aos leitores.

 

Entrevista conduzida por Timóteo Ferreira.
ET AL.

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