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Poluição luminosa: um inimigo silencioso

Recorda-se da última vez que se sentou num banco da cidade, durante a noite, e conseguiu observar as estrelas sem dificuldade? A pergunta é feita pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, que escreve sobre a poluição luminosa.

A definição de poluição luminosa engloba qualquer efeito excessivo ou adverso que a luz artificial possa provocar, maioritariamente em períodos de noite, tanto a nível de redução de visibilidade como de gasto de energia. É um dos principais tipos de poluição fortemente gerados através de atividade antropogénica, sendo prejudicial não só para a vida selvagem como também para a população humana.

Investigação: Apresentação e análise dos dados

Terminada a fase da recolha dos dados, segue-se a sua apresentação e interpretação à luz das questões de investigação ou das hipóteses formuladas. Segundo Reis (2010), a análise dos dados é o processo sistemático de pesquisa e de organização de transcrições de entrevistas ou de outros instrumentos de recolha de

A poluição luminosa pode-se manifestar de quatro formas distintas:

1) Luz intrusiva, que resulta de um mau direcionamento da luz em áreas sensíveis ou sem necessidade para a mesma, gerando um desconforto visual. Este tipo de poluição associa-se a problemas como privação de sono, obstrução de paisagem e impactos na qualidade de vida.

2) Encandeamento, que resulta de um contraste excessivo entre zonas iluminadas e zonas escuras, associado a uma má orientação de luminárias e falta de proteção sobre as mesmas. O encandeamento é particularmente problemático na navegação, tanto animal como humana, pois implica um constante ajuste perante a intensidade de iluminação, podendo causar tanto desconforto visual como redução de visibilidade.

3) Luz desordenada, resultante de um agrupamento excessivo de fontes de luz. Agrupamentos de luzes, quando dispostos sem particular necessidade, podem gerar acidentes relacionados a distração ou confusão perpetuados pelo excesso de luz.

4) Brilho difuso é o tipo de poluição luminosa que abrange toda a difusão de fontes de luz artificiais refletidas no céu e redirecionadas de volta para estruturas e estradas. É um dos tipos de poluição luminosa mais problemática pois interfere com processos naturais como fotossíntese e migração animal e reduz o contraste com o céu noturno, sendo também problemático para os astrónomos, pois dificulta a observação de estrelas.

Ao reduzir o contraste entre o brilho das estrelas e o brilho artificial retido na atmosfera, devido à poluição luminosa, a tarefa dos astrónomos e amantes de astronomia torna-se extremamente difícil. Atualmente, só é possível observar estrelas em locais remotos, muito longe da urbanização, ou através de telescópios com filtros especiais.

A SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, já identificou esta problemática há mais de uma década, sendo que o Funchal é a área da Madeira com maior intensidade de luz noturna artificial. De forma a mitigar a poluição luminosa na Macaronésia (Madeira, Açores e Canárias), tem de momento, dois projetos a decorrer:

Fotómetro instalado em área protegida da Rede Natura2000 na Madeira Fotografia de Tiago Dias

O projeto EELabs é financiado pelo programa INTERREG V-A MAC 2014-2020, cofinanciado pelo FEDER da União Europeia, que tem como objetivo a criação de Laboratórios de medição da eficiência energética da luz noturna artificial em áreas protegidas da Macaronésia (Madeira, Açores e Canárias) através da instalação de fotómetros (pequenos aparelhos que medem a poluição luminosa). Mais informação aqui.

O projeto LIFE Natura@night conta com 13 parceiros e tem como objetivo reduzir a poluição luminosa nas áreas protegidas dos arquipélagos da Macaronésia. Ao trabalhar com autoridades locais, pescadores e comunidade para reduzir a poluição luminosa, estaremos também a implementar iluminação mais eficiente, contribuindo para uma melhor gestão de recursos e combatendo as alterações climáticas. Mais informação aqui.

“A poluição luminosa é um problema global e que afeta não só a biodiversidade com hábitos noturnos, incluindo o ser humano, como também a atividade astronómica. As zonas urbanas sofrem mais com este problema, de tal modo que do centro das nossas cidades é quase impossível observar estrelas”, afirma Cátia Gouveia, coordenadora da SPEA Madeira e do projeto LIFE Natura@night.

Para além do Homem e outros mamíferos, a poluição luminosa afeta outros grupos de seres vivos, em especial com hábitos noturnos: as aves marinhas, répteis, anfíbios, plantas, insetos e morcegos. Por esta razão, a SPEA relembra a importância da adoção de iluminação pública adequada, levando em consideração a eficiência energética, mas também o impacto na biodiversidade.

Elisa Teixeira
Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves
Com fotografia de Njegos K.

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