O trabalho por detrás da ilustração

A ACADÉMICA DA MADEIRA, através das editoras IMPRENSA ACADÉMICA e CADMUS, tem editado livros para a Infância, quer de autores consagrados, como de novos escritores. Além da vertente escrita, estas obras são ilustradas por jovens talentos, alguns dos quais estudantes e graduados da Universidade da Madeira (UMa). Teresa Vieira, com quem falámos, é uma artista plástica de origem madeirense, natural da Venezuela e licenciada pela UMa. Tem integrado exposições com trabalhos de desenho, de pintura e de outras variantes artísticas. Na ACADÉMICA, é autora da ilustração de vários livros e ocasionalmente cria a imagem das campanhas desenvolvidas para a comunidade académica.

Como surge este gosto pelas artes plásticas, nomeadamente pela ilustração?

Bem, desde que era criança sempre mostrei muito interesse por tudo o que está relacionado com desenhar, cortar, colar, modelar, enfim, sujar as mãos. Porém, o gosto pela ilustração só apareceu muitos anos depois, ao pesquisar na net sobre o trabalho de uma artista venezuelana chamada Carolina Galia, quem é arquiteta de profissão, mas que se dedicava a ilustrar. A partir desta descoberta, fiquei com curiosidade e comecei a pesquisar mais informação sobre a profissão de ilustrador. Fui conhecendo aos poucos o trabalho de muitos outros ilustradores e apercebi-me de que havia muitas pessoas a viver deste ofício. Foi assim que comecei a considerar a carreira na ilustração, como um caminho que eu poderia seguir no ramo das artes.

Em que é que se inspira ao realizar os seus trabalhos?

Como resultado da minha formação em Artes, grande parte da minha influência são Artistas Plásticos. Entre as minhas principais referências destacam-se as esculturas de Alexander Calder, a estética dos artistas da escola da Bauhaus, o trabalho de Henri Matisse, a cerâmica de Rosa Ramalho, só para mencionar alguns deles. Outra fonte de inspiração são os filmes, especialmente os filmes de animação, sobretudo em 2D, onde se vê o trabalho plástico dos artistas. Uma das práticas que tem contribuído muito para o meu trabalho é ir pelas livrarias e ver a secção dos livros ilustrados. Apercebi-me que se aprende muito observando o trabalho de outros ilustradores. Há também um exercício que costumo fazer, que consiste em observar as pessoas na rua. Tento reparar na sua fisionomia, nas roupas que vestem, nos gestos, nos movimentos do corpo, etc. Ao mesmo tempo, vou registando esse material num sketchbook. Isto tem-me permitido criar personagens cujas personalidade e características físicas são credíveis e que criam uma conexão com os leitores.

Que influências tem desde a sua infância e que persistem até hoje na sua carreira?

Lembro-me que a minha irmã tinha a banda desenhada da Mafalda e eu costumava observar cuidadosamente os desenhos. É fantástica a mestria com a qual o seu autor, Quino, desenhava, a maneira em que trabalhava o claro-escuro através das linhas e sobretudo a enorme expressividade que transmitiam as suas personagens. Acho que o trabalho de Quino teve um grande impacto nas minhas ilustrações, principalmente ao nível da técnica, no sentido em que, no meu desenho, a linha quase sempre prevalece.

Pensa nos artistas ou nas marcas com quem gostaria de trabalhar no futuro?

Gostaria de desenvolver a capa e a arte em geral de um álbum musical, penso que essa seria uma experiência desafiante mas ao mesmo tempo bastante enriquecedora. Outro dos objetivos que tenho traçado para um futuro é colaborar com uma companhia de animação. Dar vida aos meus desenhos é algo que sempre me chamou a atenção. Já na licenciatura em Artes Visuais tivemos uma cadeira de animação e gostei muito do que aprendi, e consequentemente, fiquei com vontade de continuar a adquirir mais conhecimentos e de desenvolver mais a fundo esta área.

Que tipo de mensagem quer veicular com o seu trabalho?

Gosto de propor imagens que criem empatia com as pessoas, quer seja pela inocência que geralmente atribuo às minhas personagens, quer seja pelas situações engraçadas que tento sugerir. Para mim é importante transmitir bondade e ternura com as minhas ilustrações, e se consigo criar um sorriso na cara das pessoas, sinto que fiz bem o meu trabalho.

Entrevista conduzida por Luís Ferro
ET AL.

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