Evitemos os burnouts académicos

Evitemos os burnouts académicos

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Vivemos num tempo difícil marcado pela pandemia , por um grande conflito que envolve duas potências atómicas da Europa e com os aumentos dos preços dos produtos e sombra da escassez a pairar sobre as nossas cabeças. Tudo isto é uma constante ameaça ao psicológico de qualquer indivíduo. Não nos podemos esquecer de que existem mil e uma causas que podem provocar ansiedade, depressão ou outras perturbações psicológicas, tais como a solidão, o envelhecimento e o burnout académico ou profissional.

Segundo o relatório da UNICEF, globalmente, apenas 2% dos orçamentos públicos relativos a áreas da saúde são alocados para despesas com a saúde mental. A mesma fonte indica que um em cada cinco jovens, entre os 15 e os 24 anos, diz sentir-se frequentemente deprimido ou com pouco interesse em realizar tarefas.

O Orçamento do Estado para 2022 destinou  mais 700 milhões de euros para a área da Saúde, em relação ao anterior e tem proposto iniciar a “reforma da saúde mental”. Contudo, apesar da (imprescindível) promessa de alargamento da saúde mental aos cuidados primários, o investimento de 88 milhões de euros para a realidade a que assistimos e vivemos parece pequeno.

Segundo o estudo do professor do ISPA, João Marôco, antes da pandemia, a saúde mental dos jovens já era considerada um desafio — mais de metade dos estudantes universitários estavam em burnout. Em 2012, o mesmo estudo, realizado apenas aos estudantes universitários de Lisboa, indicou que 15% se encontravam psicologicamente exaustos. Agora, após longos meses de stress social, o número de jovens afectados e a gravidade dos seus problemas provavelmente agravaram-se, especialmente nas áreas da educação e do lazer. Quem antes já era ansioso, ficou ainda mais. A pressão para o sucesso, ano após ano, é maior. O convívio social no Ensino Superior ficou limitado. O próprio ensino à distância fomentou, em alguns casos, uma maior carga de trabalho.

Todas as Instituições de Ensino Superior (IES) em Portugal necessitam de disponibilizar espaços próprios para apoio psicológico à comunidade académica e assegurar uma resposta rápida e o mais eficaz possível a todos os pedidos. Além das problemáticas de acessibilidade e de intervenção, devem ser trabalhadas as questões da higiene mental, o conceito-chave na prevenção de ameaças ao bem-estar psicológico dos estudantes. A aposta na divulgação dos apoios existentes e em formas de quebrar pensamentos negativos, falando abertamente sobre o assunto, evitará vários futuros burnouts académicos dos nossos jovens.

A saúde mental da comunidade académica deve ser um dos eixos norteadores de acção de qualquer IES e alvo de um maior investimento, urgentemente, no país. A Académica da Madeira, sabendo da responsabilidade que tem perante toda a comunidade académica da UMa, muito brevemente, apresentará um novo programa que pretende alcançar uma Universidade onde nenhum estudante se debata sozinho com problemas de saúde mental, tão comprometedores para a sua saúde e bem-estar, sendo igualmente fundamental para o seu percurso pessoal, académico e profissional.

A saúde mental deve ser vista com um ponto de elevada importância uma vez que se não investirmos, podemos ter como consequência, outra grande problemática do Ensino Superior: o abandono e a desistência escolar.

Alex Faria
Presidente da Direção da ACADÉMICA DA MADEIRA
Artigo de opinião publicado no JM Madeira a 5 de maio de 2022.

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