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O Poder da Terapia Musical em Tempos de Confinamento

Já dizia Ludwig van Beethoven que a Música se fazia reflectir sob “uma revelação mais profunda que qualquer Filosofia”. Nos tempos de combate à pandemia da Covid-19, que até hoje nos encobre, o isolamento não mais será visto, do que uma via de reencontro familiar, e claro como se adequa, ao redescobrimento e ao assimilar musical. O plano familiar e musical permitiu-nos reflectir mais do que à própria Filosofia concerne, quer no campo vasto das emoções, quer no diálogo reflexivo no qual se insere, não deixando de parte a sabedoria, a conquista e a própria elevação de alma que muitas vezes nos faltou.

De que maneira, e tracejando o percurso inicial das várias fases da quarentena a que fomos deliciados, surgirá a música com um corpus, associada à resposta incógnita do futuro e da estabilidades emocional, imunológica e mental?

Desde o mês de Março, é possível afirmar que nunca estivemos num patamar de vendas de EP’s ou de reconhecimento profissional tão alto. De entre um buraco negro de impossibilidades, incertezas, desespero e medo, surgiram as tão aclamadas Quarantine Sessions que nos refrescaram de alegria, optimismo, vislumbre e, se quisermos, de apreciação.

O grande berço de artistas regionais e nacionais estabeleceu uma lareira de conformismo para com a actual conjuntura, uma chama de grande versatilidade que reuniu desde os mais prestigiados temas da música portuguesa, às mais excêntricas melodias estrangeiras.

Além de todos os esforços excedidos, não nos deixemos de mentalizar de que estar face a face com cerca de milhões de visualizadores tenha sido fácil. No entanto, há que salientar a importância do musicista para o espectador.

Falando nas sessões, e nomeando algumas que se destacaram ao longo destes meses de confinamento, ressaltamos a Conversa de Artista, enquadrada no projecto Quarantine Sessions, um conjunto de concertos via Facebook realizado e concretizado por músicos madeirenses, com o objectivo de tocar e (en)cantar todos aqueles que as veem. Isto, claro, respeitando o tão necessário isolamento social.

Num somar de dias, encheram-se as redes sociais de partilhas, gostos, novas e múltiplas outras respostas com o mesmo intento. Agora, o papel terapêutico desempenhado aqui foi de tal modo rejuvenescedor para todos nós que, num abrir e fechar de olhos, assistimos a uma onda de solidariedade para todos aqueles que estão na frente activa do combate à Covid-19 (enfermeiros, médicos, bombeiros, etc), símbolo de acolhimento mundial, quase que equiparável ao espírito de camaradagem presenciado na Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974.

Comparo o modo como o mundo reagiu à Revolução, num vendaval de manifestações consubstancializadas e de outras acções colectivas ou individuais. O trabalho feito pelos artistas, todavia, nem sempre é visto a bons olhos, e se muitos de nós os parabenizamos pelos seus indispensáveis labores. Claro que haveriam de existir para inverter a maré de consentimento.

Não só de solidariedade a partir da nostalgia se servem aqueles que mais anseiam por um equilíbrio de vida estável, como também de homenagens e actos de apoio moral para com aqueles que defrontam este enorme Adamastor.

Nas ruas de Berlim, na Alemanha, um camião percorre as ruas no intuito de partilhar a arte do compositor J. S. Bach com todos aqueles que se resguardaram em clima de angústia. Espectáculos de ópera, rock ou até mesmo musicais, passam das plataformas para manifestações de transmissão global, evidenciando o significativo clima existente entre os media e o mundo musical.

Concluindo, o processo de investigação e, com sorte, de elucidação a todos os leitores, certamente, vimos uma nova característica sentimental em todos nós. Nada era como queríamos que fosse. Talvez devêssemos reflectir severamente sobre os nossos princípios e valores, mas relembrando o tema que nos concerne. Isto que fique bem claro em todo o nosso dia-a-dia, e que com a grande mão de Deus que nos suportou e que nos ajudou, há que aceitar as consequências do que plantámos valorizando o que nasceu connosco e que nunca foi tocado ou transformado, que vimos manifestar progressivamente ao longo dos nossos rígidos e inigualáveis tempos de confinamento.

Luís Ferro
Aluno da UMa

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