António Couto dos Santos, uma figura central do cavaquismo, foi encontrado morto na passada segunda-feira num campo de golfe em Matosinhos, deixando para trás um legado de controvérsias e transformações. Durante os anos 80, destacou-se pela criação de medidas populares como o “Crédito Jovem” e o Cartão Jovem, demonstrando criatividade e capacidade de trabalho que lhe valeram o reconhecimento de Cavaco Silva. Contudo, é principalmente recordado pelos confrontos com a juventude durante o aumento das propinas no Ensino Superior.
Enquanto ministro da Educação, Couto dos Santos enfrentou o desafio de implementar uma lei de aumento das propinas, aprovada em 1992. Este processo desencadeou protestos massivos, incluindo manifestações icónicas como a de estudantes que exibiram slogans em oposição às propinas. A resistência estudantil tornou impossível a aplicação imediata da lei, marcando um período de grande tensão entre o Governo e a comunidade académica.
A educação e os limites da inclusão
Uma crítica a desigualdade nas propinas e os atrasos na emissão de vistos, que dificultam o acesso e a inclusão de estudantes internacionais no ensino superior português.
“Nós temos cursos tradicionalmente difíceis, cursos de engenharia civil, eletrotécnica… há cursos que estão marcados”
Sílvio Fernandes, reitor da UMa, foi o convidado de estreia do PEÇO A PALAVRA, um programa coproduzido pela TSF 100FM Madeira
As manifestações culminaram numa carga policial em novembro de 1994 e numa greve estudantil que mobilizou milhares. Incapaz de superar a contestação, Couto dos Santos resignou em dezembro do mesmo ano, sendo substituído por Manuela Ferreira Leite. Apesar disso, a insatisfação persistiu, com os estudantes a queimarem bandeiras do PSD e a criticarem fortemente o cavaquismo, que começava a perder força.
Couto dos Santos, que iniciou a sua carreira política como um aliado da juventude, terminou a mesma como alvo de intensos protestos. A sua trajetória reflete os desafios de equilibrar mudanças estruturais com as expectativas de uma geração que viu as suas esperanças no acesso à educação superior ameaçadas.
Carlos Diogo Pereira
ET AL.
Com fotografia de Nadine Shaabana.