O texto dramático skylight (claraboia, em português), elemento arquitetónico central na peça e que ilumina um qualquer espaço construído, revela toda a força das metáforas produzidas pela linguagem, numa autora cuja obra é fortemente marcada por símbolos: “a luz vem mesmo ‘de cima’, é a iluminação que precede a consciência de quem somos”, afirma, sem rodeios, a autora. Algum simbolismo também está relacionado ao facto de a peça girar em torno de uma livraria, de um livreiro e da paixão pelos livros e pela literatura.
Nesta, como em outros dos seus textos dramáticos, Marcela Costa está sempre pronta a demonstrar as astúcias do mal e a sua superação pelo bem, sem falsos moralismos. O enredo é simples, embora dramático: uma família, como qualquer outra, às voltas com as suas dificuldades económicas e com complexas relações pessoais; um imponderável cruzar de caminhos que acabará por transformar relações tóxicas em soluções trágicas, algumas, e felizes, outras. Como explica a autora, “trata-se de uma peça que opõe a luz à escuridão, sendo esta última a ignorância vista como apego à matéria”.
“Este livro não é mera patacoada felina com bafo de atum”: em março foi apresentado o livro vencedor do Prémio Edmundo Bettencourt
O Prémio Edmundo Bettencourt de 2023 foi atribuído a Nicole Collet pelo seu Apollinaire, um gato filósofo, que integrará a próxima Feira do Livro do Funchal.
Conhece o VÍCIO IMPUNE? de Leonor Martins Coelho?
Lançada em março deste ano, na 50.ª Feira do Livro do Funchal, VÍCIO IMPUNE, de Leonor Martins Coelho, foi editada pela
Marcela Costa nasceu no Funchal em 1965. Estudou Belas-Artes na antiga Escola de Belas-Artes de Lisboa, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian (1985). Iniciou a carreira dramatúrgica, em 1996, com a peça para crianças O Natal do Gato Amarelo, encenada por Eduardo Luís (Teatro Experimental do Funchal). Integrou a fundação da Associação Juvenil Companhia Contigo-Teatro (Funchal, 1999), onde se estrearam três peças suas: Duas Horas Antes (escrita em coautoria com Carlos Varela), Grande Circo Real (escrita em coautoria com José Gil) e Stormy Weather, as duas primeiras encenadas por Carlos Varela, entretanto falecido. No contexto de uma especialização (mestrado) em Museologia, escreveu a Angústia do Museólogo (Antes da abertura da exposição), em 2001. Enquanto membro da Equipa do Serviço Educativo do Arquivo e Biblioteca Pública Regional da Madeira (ABM), criou o Auto de Santa Maria do Calhau, peça alusiva aos 500 Anos da Cidade do Funchal, encenada por António Pires e em colaboração com o Conservatório/Escola das Artes (Funchal, 2011). É docente de Artes Visuais, a exercer funções no Serviço Educativo e Extensão Cultural do Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira.
Em 2018, por ocasião dos 130 anos do Teatro Municipal do Funchal, a Câmara Municipal decidiu realizar a publicação de peças de teatro de autores madeirenses, dedicando o primeiro número precisamente à figura que dá nome ao Teatro, o dramaturgo e poeta cego Baltazar Dias, nascido na Madeira no século XVI e que deu o nome à coleção. Seguiram-se volumes dedicados a Eugénia Rego Pereira, João de Nóbrega Soares e Florival de Passos. Em 2023, a coleção inclui a peça Os qu’emigraRAM, levada ao palco do Teatro em fevereiro.
Timóteo Ferreira
ET AL.
Com fotografia da arte da capa da autoria de Pedro Pessoa.