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Novo número da Coleção Baltazar Dias é uma peça inédita de Marcela Costa

A Câmara Municipal do Funchal , em coedição com a IMPRENSA ACADÉMICA, continua a editar a Coleção Baltazar Dias, destinada a trazer à luz peças de dramaturgos madeirenses. O novo volume é skylight da autora funchalense Marcela Costa. O volume chegou ao público a 3 de março, na 50.ª Feira do Livro do Funchal.
Marcela Costa apresentou skylight na 50.ª Feira do Livro do Funchal, a 3 de março de 2024.

Em 2018, por ocasião dos 130 anos do Teatro Municipal do Funchal, a Câmara Municipal decidiu a publicação de peças de teatro de autores madeirenses, dedicando o primeiro número precisamente à figura que dá nome ao Teatro, o dramaturgo e poeta cego Baltazar Dias, nascido na ilha no século XVI e que deu o nome à coleção. Seguiram-se volumes dedicados a Eugénia Rego Pereira, João de Nóbrega Soares e Florival de Passos. Em 2023, a coleção inclui a peça Os qu’emigraRAM, levada ao palco do Teatro em fevereiro.

O 6.º volume da coleção é uma obra inédita chamada skyligth (claraboia, na nossa língua) e é da autoria da dramaturga e guionista funchalense, Marcela Costa. A apresentação teve lugar na Feira do Livro do Funchal, no dia 3 de março.

Apesar de ser bastante conhecida e de se dar a conhecer na sua página da internet, fale-nos um pouco de si aos nossos leitores, quem é Marcela Costa?

Alguém que tem dedicado toda a sua vida à criação artística. Antes de saber ler e escrever, a minha mãe escrevia as poesias que eu lhe ditava. Em criança, a nossa casa era o ponto de convívio de artistas plásticos, designers, arquitetos… Os meus pais foram ambos atores amadores, o meu pai, Marcelo Costa, dirigiu o 1.º Teatro Experimental do Funchal nos anos sessenta…Comecei a desenvolver a expressão artística desde muito, muito cedo. Daí a minha formação em Belas-Artes e, mais tarde, várias formações em escrita para a cena. Acho que se deixo de criar, deixo de respirar.

Assume-se como dramaturga, mas tem-se dedicado à escrita de guiões para a televisão. Há diferenças significativas entre estas criações literárias? Ou melhor: se o texto dramático é literatura, o guião para tv também tem o mesmo estatuto?

O desejar escrever guiões para TV vem de há muito. Comecei com guiões para a rádio, ainda jovem, e foi então que a dramaturgia se impôs. Cada veículo tem a sua expressão própria. A rádio baseia-se no que se ouve, o teatro, naquilo que se vê A televisão tem a particularidade de chegar a um público mais alargado, é uma espécie de “teatro em andamento” pela proliferação de espaços, personagens e “subplots” que consegue conter. Nenhuma destas categorias é melhor do que a outra, mas o que determina a sua qualidade é sempre a prática, o domínio técnico de cada linguagem e a criatividade do escritor.

Nesta obra skylight, a claraboia parece ser uma metáfora ou um símbolo: algo que permite a entrada da luz. O teatro tem para si esta missão?

Sim, desde o teatro clássico. Podemos julgar que o teatro de texto é o único a esclarecer, a dar a ver o lado escondido das coisas. Mas o teatro de Revista e o teatro Musical também lançam a luz sobre a complexidade do ser humano. Basta ter qualidade, que a luz está lá. No caso desta peça, “skylight”, a luz vem mesmo “de cima”, é a iluminação que precede a consciência de quem somos, daquilo que ainda nos falta para estarmos em sintonia com a ordem divina.

Sem querer desvendar muito o que se passa em skylight, é significativo que a obra se passe à volta de um livreiro e da sua livraria. Se a literatura pode ser luz, ela também poderá ser libertação e cura?

Sim, é. Embora o livreiro da peça ainda trabalhe para uma livraria de outrem, o sonho de ter uma livraria própria nem lhe passa pela cabeça, pelo menos ao início. Trata-se de uma peça que opõe a luz à escuridão, sendo esta última a ignorância vista como apego à matéria. Quanto ao poder da cura, posso falar de moto próprio: tendo sido uma criança doente, os livros iluminavam os meus dias, ajudavam-me a sair do quarto.

Quanto à libertação, sim, a boa literatura contém o germe do livre pensamento, daí as censuras passadas e presentes tentarem dominar, ou mesmo silenciar a voz dos escritores. Por exemplo, a cultura “woke” que hoje se pratica em alguns núcleos do meio editorial acaba por ser uma forma de tentar mutilar, quer as obras, quer a liberdade intelectual dos leitores. Não é sequer contracultura. É uma tentativa de hegemonia cultural.

Pode falar-nos de futuros projetos ou ainda estão “no segredo dos deuses”?

São tantos! Embora tenda a escrever mais para a cena, desenvolvo outros géneros de escrita, por exemplo, contos. Gosto muito de escrever contos, pois agradam-me as narrativas curtas e o próprio desafio de dizer muito com o mínimo de recursos. O que está no dito “segredo dos deuses” são alguns trabalhos em curso – não gosto de falar daquilo que ainda não existe enquanto matéria para levar à cena, ao écran ou destinada à publicação. E se algo corre de modo contrário às nossas expetativas? Há múltiplos fatores a ter em conta, tantos quanto as folhas de uma árvore. Tenho a regra de falar só quando algo se concretiza ou se vai concretizar a brevíssimo termo.

Entrevista conduzida por Timóteo Ferreira.
ET AL.

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