Chegamos ao fim da licenciatura, do mestrado ou do doutoramento. E agora, o que se segue? Eis a questão que atormenta milhares de estudantes por todo o país. Concluir um ciclo de estudos no ensino superior é, sem dúvida, um momento que se vive com uma série de emoções contraditórias: há o alívio e orgulho pela conquista, mas também dúvidas e inquietações em relação ao que virá a seguir.
Na UMa, este sentimento é vivido de maneira particularmente intensa. Estudar numa ilha, ainda que com vista constante para o oceano e um clima maioritariamente agradável, é muitas vezes viver entre a esperança do futuro e as limitações do presente.
A vida universitária na UMa é, para muitos, uma experiência completamente transformadora. O contacto próximo que temos com os docentes e o ambiente um pouco mais familiar criam condições que são únicas para o crescimento pessoal e académico. Mas não é um percurso isento de desafios, pois a insularidade traz consigo obstáculos lógicos. Vejamos o caso do meu curso, Educação Física e Desporto, em que a falta de instalações desportivas próprias, após décadas de existência do curso, continua a ser um dos maiores desafios para os estudantes. As aulas no Campus da Penteada, no Estádio da Choupana, no Pavilhão dos Trabalhadores, no Campo de Câmara de Lobos e no Campo de Machico, quase sempre suportadas pelos estudantes, são um grande constrangimento. Não é, contudo, um problema exclusivo da minha licenciatura, sendo partilhado por vários cursos.
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Um recente relatório da Fundação José Neves revelou resultados conclusivos entre os dados da educação e da empregabilidade em Portugal, destacando que quem termina o ensino superior aufere salários 49% superiores com os que completam apenas o ensino secundário.
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Mesmo assim, muitos estudantes da Madeira desenvolvem um espírito resiliente. Sabem que o caminho será sempre um pouco mais íngreme. Mas quando chega o fim, já com o diploma na mão, o “e agora?” ecoa ainda mais alto. O mercado de trabalho regional é pequeno e a capacidade de incorporar o talento que a universidade forma nem sempre é o esperado, fazendo assim com que a opção mais lógica, ou até mesmo inevitável, seja partir para o continente ou para o estrangeiro.
Portugal tem apostado no ensino e na inovação, mas este investimento necessita de ser acompanhado de medidas que sejam concretas e que permitam aos jovens qualificados contribuírem para o desenvolvimento do país a partir de onde estão e não apenas de onde são obrigados a ir.
A UMa, como outras instituições periféricas, forma talentos com capacidade global, sendo que o que falta, muitas vezes, é a ponte entre esse potencial e as oportunidades reais. Os estudantes não pedem garantias, mas condições que nos permitam escolher. Talvez seja esse o maior desafio que se coloca após a licenciatura: não a incerteza do que virá a seguir, mas a falta de alternativas viáveis.
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Chegar ao fim de um curso superior deve ser o início de um novo capítulo e não o início de um novo medo, face ao investimento pessoal e familiar que foi realizado. A resposta ao “e agora?” depende, em grande parte, da forma como a sociedade valoriza o conhecimento e reconhece o esforço de quem, durante anos, se dedicou a aprender, crescer e contribuir e está pronto para continuar esse percurso de aprendizagem ao longo da vida. A Madeira e o país precisam mais do que nunca de apostar não só na formação, mas na criação de um futuro para quem se formou.
Vítor Vasconcelos
Vice-Presidente da Direção da Académica da Madeira
Com fotografia de Pedro Pessoa.
Artigo de opinião publicado no DIÁRIO DE NOTÍCIAS da Madeira. O PEÇO A PALAVRA é um programa produzido pela ACADÉMICA DA MADEIRA e pela TSF Madeira 100FM.