De acordo com os dados do Inquérito Anual aos Finalistas da Universidade da Madeira, realizado pela ACADÉMICA DA MADEIRA, em maio de 2024, as principais preocupações de quem está prestes a terminar o seu curso são a empregabilidade (62%) e a independência financeira (57%). Estes números refletem um cenário preocupante, no qual muitos jovens enfrentam incertezas quanto ao seu futuro profissional e à sua capacidade de alcançar uma vida autónoma.
A dificuldade em garantir um emprego estável e bem remunerado, aliada ao aumento do custo de vida, leva muitos recém-formados a considerar alternativas fora da sua região de origem. Esta realidade, que afeta todo o território nacional, é particularmente preocupante para regiões como a Madeira, cujas condições de insularidade e ultraperiferia agravam os desafios associados à retenção de jovens qualificados. Estará a Madeira preparada para lidar com esta perda de massa laboral?
A fraca capacidade de retenção de jovens qualificados é agravada por uma série de fatores estruturais que afetam diretamente a Madeira. Como noticiado pelo portal ET-AL.pt, o Funchal é uma das cidades mais caras do país para estudantes, com preços médios de arrendamento quase a 16 euros/m², tornando-se difícil, para muitos jovens estudantes madeirenses, suportar as despesas associadas à vida académica. Este problema é, ainda, agravado pela questão de sobrelotação das casas, com os dados a indicar que, em 2023, 26% das pessoas com idades entre os 15 e os 19 anos viviam em casas nesta condição. Os estudantes aguardam pela reforma da única residência da UMa, para reabilitar 209 camas, e do edifício na rua da Carreira que acrescentará à oferta do Funchal 25 novas camas, contratualizadas pelo Programa Nacional de Alojamento para o Ensino Superior (PNAES), com apoio dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A estas obras, o mesmo financiamento prevê a construção de uma terceira residência com mais de 200 camas no Campus da Quinta de São Roque, há muito adiada.

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O aumento do custo de vida é, também, um calcanhar de Aquiles para os jovens. O preço dos bens essenciais e dos serviços tem vindo a aumentar a um ritmo superior à capacidade financeira de muitas famílias. Bolsas de estudo e apoios disponíveis não são suficientes para fazer face às despesas mais básicas, deixando muitos jovens em situação de vulnerabilidade social. Esta realidade, conjugada a um mercado de trabalho com predomínio de salários baixos, leva ao adiamento da saída de casa dos pais e da constituição de família, forçando muitos a acumular empregos. Tal resulta num impacto negativo na sua saúde mental e no seu bem-estar.
Acredito que, sem um reforço significativo em apoios e políticas que acompanhem o aumento do custo de vida, o futuro dos jovens madeirenses continuará comprometido, perpetuando ciclos de desigualdade e exclusão social.
Por outro lado, a Madeira enfrenta também desafios sociais significativos, como o elevado número de jovens ditos nem-nem (nem estudam, nem trabalham). Estima-se que, atualmente, hajam cerca de 5.700 jovens nesta situação na Região. Este número representa uma redução em relação aos de anos anteriores, porém continua a ser alarmante. Para referência do leitor, corresponde a aproximadamente o dobro do número de alunos da Universidade da Madeira e constitui uma percentagem da camada jovem acima da média nacional. É um desafio social preocupante e reflete a combinação de vários fatores, como a escassez de oportunidades no mercado de trabalho, dificuldades económicas e um sistema educativo que, muitas vezes, não consegue reter os estudantes. Sobre isto, recorde-se a taxa de abandono escolar na Região Autónoma da Madeira, que atingiu 8,6% em 2024.
Que medidas estão a ser implementadas para apoiar estes jovens? Existe um verdadeiro acompanhamento e políticas eficazes para a sua formação e integração no mercado de trabalho? O leitor, tal como eu, irá descobrir no episódio do PEÇO A PALAVRA desta semana, com o Diretor Regional de Juventude, André Alves, na antena da TSF 100FM Madeira e em podcast.
Manuel Luís Gonçalves.
ET AL.
Com fotografia de Tiago Bandeira.